Esses dias Claire Denis vem se tornando das diretoras preferidas, e a certeza veio com U.S Go Home. Até a retrospectiva só tinha visto Trouble Every Day e White Material. Agora o primeiro visto foi Chocolate, filme do retorno a África da sua infância, ao que é doce e o que está longe de ser naquelas relações. A maravilhosa cena final ainda não tinha saído da cabeça até o dia seguinte pra ver Noites sem dormir, até a Paris de transeuntes, ilegais, quartos de hotéis, shows de travesti, em cenas de amor de prédios que jamais seriam filmadas senão por ela (ou por Pedro Costa talvez).
O cinema de Claire Denis ainda fascina mais pela impossibilidade de ser emulado, ele é tanto construção e conjunto que não basta uma estética, não basta um tema, não basta um lugar, é um conjunto de interesses genuínos, de dedicação e de liberdade para deixar que estas escolhas sejam levadas aos extremos, aos limites da vida. E foi assim que segui até U.S Go Home, aquela sensação "de não fazer idéia" maravilhosa que há em todos os seus filmes está lá também, não dá pra imaginar nada a não ser ser levado pelas experiências adolescentes aparentemente tão simples, e tão deliciosa e irresistivelmente filmadas por ela. Não basta virtuosismo pra filmar assim, ou a velha e boa sensibilidade celebrada do cinema contemporâneo, é preciso atenção, exercício e liberdade. Sentidos livres pra deixar os planos e situações seguirem até onde não se prevê e onde a vida muitas vezes leva.