@ tainah negreiros

sábado, 4 de julho de 2020

sempre que encontro o meu amor
eu penso e digo
"ontem eu estava lá
agora eu estou aqui"
é formidável
eu não amava os aviões antes
agora eu os amo
mas é nas nuvens que eu penso mais
nos planetas, Saturno e Júpiter que hoje vejo pela janela
e nas estrelas
e no vento
que me leva como deus leva o destino das coisas e das pessoas
com força e direção
"a vida é longa e o mundo é pequeno"
como diz a canção que nos abençoou

quarta-feira, 24 de junho de 2020

The woman who ran (Hong Sang Soo, 2020)

Imagem

Um acontecimento. O maior cinema. A escolha pela sobrevivência do gato. O close no gato. O abraço visto na câmera de vigilância. A duração da pausa para tomar uma decisão. Ver um filme.

sábado, 11 de abril de 2020

Certain Women (Kelly Reichardt, 2016)


Mais uma cineasta mulher cuja pauta é a da duração. Maya Deren já assinalava como o tempo que nos é destinado e o tempo vivido por nós é diferente, culturalmente construído na diferença e também muitas vezes vinculado a determinismos naturais. É sabido modo como uma cineasta como Chantal Akerman construir sua cinematografia toda em torno de durações próprias do cotidiano e das experiências dramáticas. Sheila Heti vai na mesma direção em seu livro "Maternidade" : a paternidade biológica que para o homem pode acontecer em qualquer momento da vida é bastante diferente da limitações da maternidade biológica que exige uma relação diferente com o tempo, as decisões, com a passagem e o viver da vida, seja lá qual for a escolha a partir disso. Entre um certo essencialismo biológico e o que da biologia vira cultura, está a questão de gênero na realização cinematográfica, e essa construção diversa e própria dos tempos das mulheres. Escrevo linhas e linhas mas eu só penso na viagem da personagem de Lily Gladstone, no ímpeto, na decisão, na busca vaga mas consciente da urgência. Que urgência calma!

domingo, 29 de março de 2020

O Reino dos Gatos (Hiroyuki Morita, 2002)



"se você está procurando um lugar misterioso
com um problema difícil de resolver
existe um lugar..."

terça-feira, 10 de março de 2020

Meu amigo Totoro (Hayo Myiazaki, 1988)



É sempre com a natureza que devemos contar.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Tommaso (Abel Ferrara, 2019)

Willem Dafoe et Anna Ferrara dans "Tommaso", d'Abel Ferrara

Auto-escrutínio do homem velho que teme não ser mais necessário, do homem velho canceriano errante que deseja inventar uma casa com uma mulher 30 anos mais jovem, ser pai, ser desejante, ter paz de espírito ou quem sabe fazer as coisas certas dessa vez. É a falência do homem, de todos eles ou dessa especifidade insana ambulante que é Abel Ferrara e que Willem Dafoe de fato encarna (no sentido extremo de oferecer a carne para aquela existência) 
e com quem se mistura. Filme matéria, filme homem, filme de um tipo de homem que exerce fascínio mas também de um homem que já está na hora de passar. Alguma coisa tem que ser diferente, e Tommaso descobre isso ao falar com o homem paquistanês que gritava na rua e ameaçava acordar sua filha. Não sei dizer ao certo ainda o que acontece ali naquela instante, que tipo de coisa o personagem compreende mas, sem dúvidas, existe ali um incêndio, desses incêndios interiores, de cinema.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Retrato de Uma Jovem em Chamas (Céline Sciamma, 2019)

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Trata-se do retrato impossível de alguém que não pára de mudar, um retrato em fuga, um esforço de aura, a captura que não pode ser. Toda a primeira parte em que Marianne tem que pintar Héloise sem que ela saiba, de memória, faz com que "Retrato de uma jovem em chamas" dialogue com a dança. Não me refiro somente ao acompanhar e ao esmiuçar do gesto, mas ao vínculo da pintura e da dança como artes de memória, dadas essas condições. Existe algo a ser recomposto, recriado, algo sempre imperfeito diante do fugidio que acabou de passar, na total indissociação pré-moderna do gesto humano. Com isso posto, o filme constrói uma imobilidade somente aparente nas conversas, nas aproximações, no acompanhar, sendo que o que está apresentado é o esforço do registro de um movimento interno. Héloise deseja que seja visto e registrado por Marianne o fato de que ela muda, se movimenta, que dentro de si, acima de tudo, há o desejo do transformação. Daí só possível um retrato que ela queime, por dentro.


Se pensarmos na tradição da representação das mulheres na pintura, e no cinema, é revigorante ver um filme que se debruça por duas horas em que mulheres se vêem e que são vistas por outras mulheres, que registram esse ver, que esmiuçam essas possibilidades. Trata-se de uns dos grandes trunfos do filme de Sciamma.
Enquanto assistia, temi muitas vezes que a beleza excessiva, pelo tema plástico posto, tornasse o filme estéril, mas ele se revela muito maior na construção desse mundo de mulheres (radicalmente, não há homens personagens no filme), naquele cenário pacífico de revelações tranquilas. São cinco dias de um ideal. Ideal do amor que tem tempo para nascer, ideal da mulher que pode recusar uma nova maternidade, ideal de correr ao ar livre.