@ tainah negreiros

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Drive My car (Ryusuke Hamaguchi, 2021)





O que um gesto superficial (todo gesto é superficial mesmo que se transforme em outra coisa e daí nasce o teatro e depois o cinema) ou uma palavra (entonação, encadeamento com outras, gesto que a representa) diz sobre o mistério que é cada pessoa? Como vamos atuar a partir desse mistério? Como vamos transar? Como vamos dançar ou sermos incapazes de fazê-lo? Como vamos dirigir? Como vamos sobreviver? Seguindo, como recomenda Sonya, em Tio Vania. 

Dos mais bonitos filmes que já vi.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021


 O vôo vermelho (acrílica e aquarela sobre papel 30 x 42 cm)

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terça-feira, 10 de agosto de 2021

 


É na imprecisão da comunicação de Hanne que reside a ambiguidade dos Contos de Julho, de Guillaume Brac. A angústia final dela talvez venha disso. Na confusão com as questões da ordem do coletivo, a impressão é de que Hanne deseja profundamente poder ser confusa, equívoca, indecisa, ambígua, suscetível sem que isso queira dizer imediatamente um interesse sexual, um sim, mas somente uma manifestação da sua liberdade.

terça-feira, 20 de julho de 2021


Há alguma coisa sobre família ou sobre a incompreensão da aventura de cada pessoa que esbarra no amor familiar. As aproximações e reaproximações são dolorosas, cheias de passado. De alguma maneira, manter alguma distância nos vínculos dessa natureza parecem uma forma de sobrevivência neste filme, ou um caminho para uma liberdade qualquer.

É como quando o Young-Ho, o protagonista, decide não interromper o momento pensativo e solitário da mãe. Tudo está contido naquela decisão e na rebeldia que o acomete com essa distinção.
Trata-se de uma coleção absurda de intimidade que não podemos ver mas adivinhamos pelas superfícies que Hong Sang Soo nos oferece. Da materialidade da realidade à materialidade do sonho (que também é vida vivida, é realidade, como diz Preciado) os personagens se expandem. Imenso.

domingo, 18 de julho de 2021
















 Cabeça de Flor Até a Lua (acrílica sobre papel, 20 x 30 cm)


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segunda-feira, 12 de julho de 2021

Wheel of Fortune and Fantasy (Ryusuke Hamaguchi, 2021)

 


No tarot, a carta da Roda da Fortuna é da radical contingência, do movimento constante, a que fala de que nenhum sentimento é final. De alguma forma, é uma carta de esperança, de fé na mudança e na instabilidade. O engenho da vida está transparente no filme de Hamaguchi. Há sempre alguma coisa que um encontro pode transformar, uma graça qualquer que pode surgir quando há uma verdadeira conexão.
Para a protagonista do primeiro conto é doloroso ver essa mágica acontecer mais de uma vez e implicá-la. Mas nada que a impeça de um gesto deliberado de ruptura para seguir. Na segunda história o encontro pendula do erótico ao moral em um borramento sedutor em que um está contido no outro. Há um erotismo na dignidade. É fascinante.
E finalmente, no terceiro conto, há o aparente engano que se revela a compreensão imensa quando de fato se encontra alguém, quando se expõe o que é encontro em sua radicalidade esperançosa de ver e ser visto pela outra pessoa. Lindo lindo lindo!

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Garoto, de Julio Bressane (2015)


A citação de Café da Manhã na Grama do Manet não é só um tableau vivant vaidoso para fazer uma citação erudita qualquer, é uma compreensão da figura humana na pintura, mais especificamente da mulher daquela pintura, do que ela irradia e de todas as palavras que ela seria capaz de dizer no meio do mato. É uma tensão moderna, uma tensão eu- natureza, eu-potência-eu-diminuto -eu-imensidão. O ponto de partida é essa vibração, é a citação pictórica e o que no filme vem ainda antes: a fala da personagem de Marjorie Estiano. A fala que tão bem representa a aventura branca que é essa de encontrar algo para além de si mesmo quando a afirmação de si é sempre o que assombra.

disponível na mostra Três décadas brasileiras pela cinefilia https://vimeo.com/channels/cinematecadomam

sábado, 19 de junho de 2021

sistema solar



um planeta se disfarça de estrela
em um céu impuro
de primavera
do hemisfério norte
o homem me chama para a janela
lá fora marte, vênus e a estrela spica
a ursa maior
e uma lua minguante generosa de luz

no sul do mundo que é o nordeste do brasil
eu via júpiter
e vênus sempre eu via, como quem olha para o espelho
são maravilhosos os planetas e seus disfarces
e o céu é das minhas festas preferidas

Etel Adnan Untitled, ca. 1960s

Etel Adnan
Untitled, ca. 1960s

domingo, 28 de março de 2021

 



O futuro amarelo (depois de Yvonne Rainer)

acrílica sobre papel 30 × 42 cm

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