@ tainah negreiros

domingo, 29 de dezembro de 2024

poema de amor ao pai


no filme de sidney lumet o personagem do judd hirsch diz “vai” para  river phoenix como meu pai dizia

ainda no filme belo
uma caminhonete gira ao redor do river não uma
mas duas vezes enquanto toca a canção do james taylor

como um abraço

nesta noite eu procuro uma canção
uma cena de filme
uma sintonia fina

eu só queria muito poder ouvir de novo

severino me chamando

eu no cômodo de cima 

ele no de baixo

e no ar

a voz dele

sempre ela

dizendo

Tai


quarta-feira, 16 de outubro de 2024

o ipê

se eu ficar a noite acordada de frente para a árvore eu vejo essa flor de ipê abrir?
ontem quase nada
pela manhã alguns bulbos
agora à noite, muitos
prontos para abrirem quando não vemos


maravilhosa discrição


se aproveitam da distração humana
do correr do dia
e da calma da noite, em são raimundo
para se abrirem


quando a saudade do meu pai é tamanha
e estou aqui
seguro os galhos secos do ipê na frente da casa
como se segurasse os braços dele
até sentir a presença misteriosa 
os jeitos dele ser agora
no mundo
de existir agora
no mundo

penso nele todo dia
a música popular brasileira é toda ele
e esse ipê
que teima em florescer nessa secura
é a vida teimando em ser

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

 Tava vendo o filme do Victor Erice e a gata me chama na porta. Não era comida que ela queria, era me mostrar algo. Foi me conduzindo pelo jardim da casa enquanto olhava alguma coisa invisível que quero acreditar que era meu pai. Com meus próprios braços me abracei sem que percebesse, procurando ele e encontrando.