@ tainah negreiros

terça-feira, 27 de abril de 2010

- O que é que houve, meu amor, você cortou o seu cabelo?
- Foi a tesoura do desejo, desejo mesmo de mudar.

sábado, 24 de abril de 2010

primeiros olhos

faz muito tempo que meu pai e minha mãe me ensinaram
enquanto a realidade também dizia
sobre como tudo é tão desigual
e eu besta como por vezes posso ser
pensei que esse sentimento dolorido tinha ficado gasto em mim
que pensar nisso incessantemente tornaria viver, seguir, uma impossibilidade
uma impossibilidade de ser feliz, de seguir, de abstrair
e deve ser mesmo
me sinto com seis anos quando me disseram disso e eu vi
vendo com os primeiros olhos tudo de novo
e sim, estou apavorada
e zangada de novo também.
Os ninguéns
os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam supertições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.
(eduardo galeano)


segunda-feira, 12 de abril de 2010

parece haver mesmo um cinema do trabalho
um cinema que na verdade é o cinema da humanidade de perambular, de procurar,
de ganhar quase nada por isso
depois que se encontra algo, qualquer coisa

isso porque um dia disseram que o trabalho dignifica, enobrece
mas esse cinema trata mais do que sobre qualquer dignidade ou da dita nobreza do mérito
é da impossibilidade de qualquer mérito
diante da fragilidade das circunstâncias