@ tainah negreiros

sábado, 30 de dezembro de 2006

"Para o que não tem mais razão a calma do louco ensinou a dizer nada" Milton Nascimento

Chegou o vento por aqui e conversando com minha melhor amiga esse dias penso numa estranha paz que me tomou nesse fim de ano. Deve ser porque as pessoas que eu amo estão bem, sorriem, sorriem.

Não sei, a vida deve ser feita de círculos invisíveis em que eu choro, choro e volto a sorrir num fim de ano que venta, venta agradavelmente por essas bandas do país. E as canções chegam leves junto com ele. Não sei quanto esse barato dura, espero que por um tempo e por mais que não continue igual um pedaço dele ainda fique pra eu esperar por sua volta e pelo sorriso das pessoas queridas. Dele, dela, deles.


"É la que eu vou pegar um barco,
E descer o rio Paraguai
cantando as canções que não se ouvem mais"

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Canções pra viver mais


Nietzsche estava certo sobre a tristeza de uma vida sem música. Eu nem sei bem como seria pra mim, eu fujo e me recolho nas canções, nas minhas canções de ontem, de hoje e nas de amanhã também que eu ainda nem sei que ouvirei.
Nos últimos dias , semanas, fui capturada por uma banda em que um rapaz tímido de cabelo preto canta, encanta e leva pra casa, é, é o que James Mercer, vocalista da banda The Shins faz. Ele canta e te leva pra casa.
Eu fico aqui inventando umas maneiras bobas de dizer o que as canções querem dizer pra mim, deve haver outro jeito de fazê-lo mas eu só sei esse jeito tonto e franco mesmo, como uma boa canção. Mas sobre esse grupo, eu só posso pedir pra que você tente ouvir uma canção deles, qualquer uma sem esboçar o mais leve e gostoso sorriso. Mágico o que uma canção pode fazer por você, né? Eu penso muito nisso. Clima, lugares que você pode ir, e parece bobagem dizer mas as calçadas úmidas de Glasgow já ficaram mais próximas com as canções do Belle tocando por aqui.


Ando por aí procurando as melodias mais deliciosas e envolventes possíveis. Deve ser pra eu viver mais.


Fico com Shins, Belle, meus cantadores aqui mais de perto e com qualquer um que faça música que salva.

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

"Um sol rodando vermelho/ Um sol pregado no azul/ Um sol rodando no céu/ Um sol suspenso no ar"

Dias bonitos em que eu aprendi a ver o que já conhecia com outros olhos, despidos de tudo.

Fui a Serra, fui a cidade da minha infância com outras pessoas, pessoas queridas, outras nem tanto, mas fui. A cidade está estranha, as pessoas já não são mais tão conhecidas e eu, assim como ela, mudo. Mudo pra construir novas lembranças pra ficar. Não que as novas cubram aquelas de menina que brinca na rua. Essas eu ainda adoro. Mas quero mais, sempre quis.
Agora me pego com saudade, sinto falta da natureza, do clima de encontro, de pessoas de toda parte e das canções que ouvi um novo amigo cantar. Canções de Elomar, Xangai e Caetano em um dia de chuva. Sinto falta do céu mais estrelado que já vi, de cortar o coração de tão lindo. Não, não esqueço.


Penso na mata, na chuva batendo nas pedras. Penso na natureza.


MATANÇA
(Jatobá/ Xangai)

Cipó caboclo tá subindo na virola
Chegou a hora do pinheiro balançar
Sentir o cheiro do mato da imburana
Descansar morrer de sono na sombra da barriguda
De nada vale tanto esforço do meu canto
Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar
Tal mata Atlântica e a próxima Amazônica
Arvoredos seculares impossível replantar
Que triste sina teve cedro nosso primo
Desde de menino que eu nem gosto de falar
Depois de tanto sofrimento seu destino
Virou tamborete mesa cadeira balcão de bar
Quem por acaso ouviu falar da sucupira
Parece até mentira que o jacarandá
Antes de virar poltrona porta armário
Mora no dicionário vida eterna milenar

Quem hoje é vivo corre perigo
E os inimigos do verde da sombra, o ar
Que se respira e a clorofilaDas matas virgens destruídas vão lembrar
Que quando chegar a hora
É certo que não demora
Não chame Nossa Senhora
Só quem pode nos salvar é

Caviúna, cerejeira, baraúna
Imbuia, pau-d'arco, solva
Juazeiro e jatobá
Gonçalo-alves, paraíba, itaúba
Louro, ipê, paracaúba
Peroba, massaranduba
Carvalho, mogno, canela, imbuzeiro
Catuaba, janaúba, aroeira, araribá
Pau-fero, anjico amargoso, gameleira
Andiroba, copaíba, pau-brasil, jequitibá

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

'da beleza das imagens que não se encerram'


Gosto de filmes de amor. Ponto.

Eu nem sei por que digo isso assim, agora. É algo fácil de descobrir sobre mim. Muito fácil. Basta olhar pra alguma lista de filmes minha, ou ainda, olhar pra mim enquanto vejo um deles.

Começo assim pra falar de um belo filme de amor. O filme começa cheio de verde. Engraçado, quando penso nele, lembro sempre do verde do grande campo que o diretor filma. Há um homem, um homem já maduro, há junto com ele uma criança, um menino tão pequeno e inquieto que de cara já fica difícil não querer olhar pra ele, sempre. Há também uma árvore, uma árvore e o verde ao redor. Não um verde alto, verde de grama, do grande campo mostrado em plano aberto. Pronto, assim começa o filme de nome O Sacrifício(Offret), dirigido pelo mestre Andrei Tarkovsky.


Saudades dele.


Sinceramente, eu não tenho muitas certezas sobre esse filme para falar. Os filmes de Tarkovsky me deixam cheia de incertezas e talvez por isso sejam tão bons. Eu sinto. Você sente e é isso. As imagens arrebatam e a respiração fica difícil e assim ele fica, fica. Torna-se eterno.
Talvez eu devesse deixar de ser tonta e parar de falar sobre ele. Mas eu bem que queria, mas ele é bonito de mais pra eu ficar aqui calada. Como ficar calada se há o homem, o menino, a mulher, a casa? Há uma casa de cores mortas, sóbria. Não podia esquecer da casa.

E há Tarkovsky.

Em cada fotograma, ele e sua despedida desse mundo. Ele morreu logo após as filmagens, sem tempo para ver o trabalho realizado. Dedicou-o a seu filho.. Ele fala de seu filho e de sua esperança. Esperança essa que quem tem um filho no mundo tem que ter, antes que enlouqueça.

Há ainda a temática da ruptura, da necessidade de mudar. O homem descobre que tem que pôr tudo abaixo pra começar de novo. Destruir pra acontecer, pra criar, nascer uma vida nova. Essa vida que por enquanto só seu filho traz. Parece simplista, mas esse filme é sobre fazer as coisas. Mas trata-se de Tarkovsky, então é por meios bem pouco óbvios que chegaremos a uma conclusão como essa. Depois de algumas imagens não nos sair da cabeça. Depois que elas nos tomam, bem depois, enfim, posso falar de algo como isso.


É, trata-se de um filme de amor. É o do amor do seu diretor ao seu filho, à natureza, à vida. Seu filme de amor à vida que iria deixar.


Inesquecível.