@ tainah negreiros

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O cinema de Ozu e as dimensões do apego



Ozus exibidos em película em Curitiba fazem dessa a ocasião para celebrar com algumas palavras a obra do diretor japonês.
Vim correndo do trabalho pra casa porque comecei a pensar no que gostaria de dizer e percebi que lugar de "escrever" texto sobre Ozu é mesmo na rua, enquanto caminho sob o sol depois de um dia de chuva como esse.
Seria possível começar aqui falando de sua precisão, da construção minuciosa dos planos, do conjunto, no que se parece com um artesanato, mas gostaria de falar mesmo daquilo que tenho dificuldade de esquecer em seus filmes, que é o cinema dedicado a mostrar o apego e suas dimensões, ou o que o tempo faz com as nossas relações com os outros, principalmente com os familiares. O diretor nos propõe um olhar que rompe com certos aspectos um tanto dados sobre esses contatos, nos mostrando o que há de encantador, o que há na beleza das conexões mas também no que existe de trágico na formação de laços.
É intrigante como Ozu constrói seus dramas porque na mesma medida que fala de família, das ligações e frustações, nos mostra relações paralelas com quem não faz parte da família obviamente, mas faz por afeição, por um senso coletivo de vizinhança e amizade. Como a Noriko de "Viagem à Tóquio" e toda a gentileza de servir mesmo tendo quase nada para oferecer, ou na partilha comovente do "Filho Único" com a vizinha e o filho dela. Difícil esquecer essa solidariedade genuína dos seus personagens, principalmente daqueles que menos tem, algo que aumenta a conexão dele com um diretor apaixonado pelo seu cinema que é Pedro Costa. A precisão, as luzes e sombras estão lá e é difícil ignorar as referências, mas está também essa solidariedade das margens nesse Japão dolorido no pós guerra, que tanto ecoa na obra do diretor português. 
Há algo de hipnótico nos gestos dos personagens de Ozu, nos passos, no colocar dos sapatos, no transitar pelas casas japonesas, suas camadas, mostradas na sua profundidade. Falo de vários aspectos mas tudo parece levar ao modo sorridente dos seus personagens falarem das coisas mais difíceis, ou aos inesquecíveis sorrisos chorosos de Setsuko Hara. Parece que está tudo lá naquela presença, no rosto sorridente quando Noriko diz, em "Viagem à Tóquio", que a vida é mesmo decepcionante, nessa coexistência dolorosa entre partir e ficar próximo de quem se ama.



sábado, 16 de novembro de 2013

they clear the table, dance, and do the dishes


"É, dentro de sua carreira, um dos filmes mais ferrenhamente devotados aos personagens, ao universo cênico e às operações dramatúrgicas que propõe; um dos filmes mais cúmplices de seus possíveis exageros também (uma cena em que a família canta e dança, vestida à caráter para uma festinha de aniversário, James Taylor - a canção é Fire and Rain - é de um radicalismo da ternura quase constrangedor de tão belo) e muito provavelmente um dos grandes filmes feitos nos Estados Unidos em 1988."

(daquidaqui )