@ tainah negreiros

sexta-feira, 28 de junho de 2013

domingo, 23 de junho de 2013

Vermelho profundo - O garoto da bicicleta, de Jean Pierre e Luc Dardenne




Em recente entrevista, Jean Pierre e Luc Dardenne falaram sobre sua relação com o diretor Maurice Pialat e disseram que quando pensam em "Aos Nossos Amores" há um remetimento imediato àquele vermelho do filme. Com o seu "O Garoto da Bicicleta" também temos um vermelho profundo em movimento, um pequeno menino sempre vestido dessa cor e sua ira com esse mundo que parece não lhe querer.
Por alguma razão demorei muito pra ver esse Dardenne, não sei bem explicar mas desconfio que tenha sido pelo receio da tristeza pungente da falta de jeito das coisas que povoavam seus outros  filmes, que mesmo eu sempre tendo achado muito bons, mas que de alguma forma eu tentava adiar.
A surpresa é que parece que a tristeza não durará para sempre para os dois diretores - aqui fazendo mais uma referência ao onipresente Pialat - isso porque o encontro que se dá no filme é um lugar de esperança e é bela a maneira como é filmado. No orfanato em que vive, quando foge dos orientadores em um dia de fúria por não conseguir achar seu pai que o abandonou, o menino Cyril se agarra em Samantha. Esse gesto que vemos de muito perto vai durar porque de fato aconteceu um encontro. É nesse encontro que os personagens se agarram apesar da dificuldade de tudo que os cerca.
O que se sucede tem a ver com o cinema dos Dardenne que já conhecemos, uma dureza da vida e o modo como os corpos respondem a essa aridez. Violência, rejeição, desconfiança. É assim o menino Cyril, vivido pelo assombroso Thomas Doret, até encontrar a cabeleleira Samantha, no belo e delicado trabalho de Cécile de France, e sua imensa generosidade e disposição para construir essa relação. Ela que leva o menino para morar com ela, não desiste desse pequeno, raivoso, vermelho e sua ira mesmo quando ele se envolve em experiências de extrema violência como bater no jornaleiro e em seu filho num assalto. Ela não desiste e ele percebe que alguém no mundo não o rejeitou, então pode ser que o mundo não seja tão mal assim. Esse encontro esperançoso é reforçado pelos momentos em que vemos os dois juntos, na alegria que transparecem na companhia um do outro.
Na (belíssima) cena final em que Cyril apanha do garoto que ele bateu no assalto, em que poderia haver uma brecha para a desesperança ou para o trágico, o que vemos é uma tomada de decisão dos Dardenne, evidente no gesto de Cyril. Após apanhar ele não revida, ele levanta do chão e o que vemos é alguém que só quer voltar pra casa e faz isso montado em sua bicicleta.

sábado, 22 de junho de 2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Da necessidade de tomar posição

Um rabisco fruto da dificuldade de dizer algo sobre as experiências das últimas semanas, até porque elas talvez sejam mais diversas do que parecem pelas cidades do Brasil.
Tudo que teria a dizer tem o elemento confuso composto da empolgação primeira e da imensa solidariedade com um movimento que parte pra rua contra o aumento da passagem de ônibus, - como o que vivemos no último ano em Teresina e do qual participei -  e que foi ganhando outros contornos com seu crescimento, em que agora parece saltar aos olhos somente as discordâncias com cartazes, bandeiras e  a falta delas. Mas são as pessoas na rua, é desconfortável demais ser contra elas, é como se fosse uma tomada do que é realmente de todos. Ao mesmo tempo essa tomada tem gritos equivocados altíssimos que geram extremo incômodo.

 Estes são meus elementos de confusão.

Oferecer a confusão também é importante e, mesmo com ela, muitas vezes há a necessidade de se tomar posição como a que tomo contra a quebra de bandeiras de partidos e movimentos sociais de esquerda que estão na luta de todo dia há tanto tempo. Gostaria de colocar também que não partilho dessa "endireitação" dos protestos que se voltam contra os movimentos sociais que incluem manifestações contra causas como o aborto, como os direitos das minorias. Tudo isso é mostra destes caminhos que os movimentos vão tomando e que devemos discutir sem cansar, apesar da exaustão da semana, muito fruto da disputa de discursos entre a mídia e o que se via mesmo na rua, que por sorte, as mídias alternativas ajudaram a difundir.