@ tainah negreiros

sábado, 31 de dezembro de 2011

winter wooskie


Tinha esse filme do Ted Demme que via mil vezes na adolescência. A primeira experiência com ele foi na tv pela metade, já sofri e amei junto, depois dezenas de locações seguidas, até comprar em vhs, emprestar, perder,  pra depois Arthur baixar e eu ainda achar tudo incrível.O William de Timothy Hutton volta à sua cidade Natal congelada, para uma casa sem a mãe, com o irmão meio maluco, o pai solitário, levando a decisão de casar ou não com a garota quase perfeita de NY. Na cidade estão os amigos de infância ainda deliciosamente apaixonados pelas mesmas garotas  e agindo tortamente por isso. "Beautiful girls" é o título original, entre as belas garotas há uma Mira Sorvino chorosa, Uma Thurman andando sob a neve enquanto toca a lindona fool do cry dos Stones e Martha Plimpton zangada. Ainda assim o filme é de Natalie Portman e Timothy. A vizinha pré adolescente que se apaixona por William e o apaixona é coisa linda. Marty. As Martha? Não? De Martin, o avô que não conheceu.
William da janela falando com Marty chorosa depois da chegada da sua namorada, coisas assim, e eu me desmanchando e abrindo olho numa paixão adolescente por eles e pelo cinema.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

"Habemus Papam" de Nanni Moretti

O papa de Nanni Moretti precisa ir pra rua.
Quantas vezes não pensamos no quanto a religião ou todo o falatório católico esteve e está distante da vida? O filme de Nanni é sobre este isolamento, alienação e mais que isso: sobre o peso de algo que não interessa a este homem, sobre decidir se voltar para humanidade, no que há de mundano nela, e não para o que a "santidade" poderia lhe oferecer.
Levar seu papa pra rua, depois de adentrar em todo misterioso e cômico ritual católico, é uma proeza que nos traz o Nanni, na comicidade de tudo aquilo, o que temos é uma rara beleza de descoberta da cidade, das pessoas. Trata-se de uma lindíssima recusa de poder, de centro e de escolha pela vida, pelo miúdo dela. Do homem, que apesar da recusa, não se retira de dizer de uma necessidade de mudança, da força que exige essa necessidade de mudança, e como sabemos, ao acompanhá-lo nesta andança pela cidade, como se ela fosse uma coisa toda nova, que o que é preciso é se voltar para o cotidiano, e que a religião, qualquer que seja ela, perceba tudo isto.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

notas sobre rohmer



Já escrevi uma vez aqui no blog da sensação que sempre tenho depois de um filme do rohmer, de querer sair andando, andando até que algo aconteça. Ontem fiquei pensando nisso, e fiquei pensando na crença na câmera e na construção que tem para filmar como filma, para que algo deliciosamente aconteça nos seus filmes. É um anti-cinismo comovente, é ainda poder acreditar na matéria vida sem constrangimento.
Acontecer parece ser um verbo importante para falar do cinema dele, porque o que veremos, e o que é comovente não é nada grande ou que cause impressão óbvia, o que se dá, como na mulher do Conto de Inverno que vai vivendo a vida com o desejo, sem saber pra onde ir, mas que mesmo desorientada, quando reencontra o homem do verão vai arrumando suas coisas, entrando e saindo do quarto como se algo tivesse dado certo mesmo, vai achando um jeito logo de seguir, vai vivendo. Toda a cena do reencontro no final do filme é reveladora do que há de mais singular neste cinema, em todo o despojamento que na verdade é fruto de um cuidado que se estabelece nessa relação com o real, para que as coisas mais simples e bonitas surjam, como é o olhar de reencontro, a surpresa da criança que reconhece o pai, a loucura dela que mentiu seu endereço e a tranquilidade amorosa do homem com as novas notícias. É difícil falar do que é maravilhoso de sentir neste filme de Rohmer, conseguir que vejamos isso, todas estas pequenas explosões da vida, é muito, é demais.

domingo, 16 de outubro de 2011

claire denis e seu "bom trabalho"


E não parou por ali a paixonite pelo cinema de Claire Denis e suas maravilhosas colaborações nestes filmes. Não podia deixar de falar de "Bom Trabalho", dessa livre adaptação de Billy Budd de Herman Melville, uma obra prima sobre corpo, desejo, poder em que Grégoire Colin vem como um Terrence Stamp no "Teorema" de Pasolini para desequilibrar os ânimos do chefe do grupo de homens da Legião Estrangeira, um Denis Lavant soberbo. Mas acima de tudo é um filme sobre dança, ou da dança como recurso para dizer, dizer de uma tensão. Nada como a dança para falar desta tensão dos corpos, do que nisso é desejo, violência, poder, desorientação. E como não falar da cena final - Qual o oposto de morrer? Viver? Não, dançar.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

sobre o cinema de Claire Denis




Esses dias Claire Denis vem se tornando das diretoras preferidas, e a certeza veio com U.S Go Home. Até a retrospectiva só tinha visto Trouble Every Day e White Material. Agora o primeiro visto foi Chocolate, filme do retorno a África da sua infância, ao que é doce e o que está longe de ser naquelas relações. A maravilhosa cena final ainda não tinha saído da cabeça até o dia seguinte pra ver Noites sem dormir, até a Paris de transeuntes, ilegais, quartos de hotéis, shows de travesti, em cenas de amor de prédios que jamais seriam filmadas senão por ela (ou por Pedro Costa talvez).
O cinema de Claire Denis ainda fascina mais pela impossibilidade de ser emulado, ele é tanto construção e conjunto que não basta uma estética, não basta um tema, não basta um lugar, é um conjunto de interesses genuínos, de dedicação e de liberdade para deixar que estas escolhas sejam levadas aos extremos, aos limites da vida. E foi assim que segui até U.S Go Home, aquela sensação "de não fazer idéia" maravilhosa que há em todos os seus filmes está lá também, não dá pra imaginar nada a não ser ser levado pelas experiências adolescentes aparentemente tão simples, e tão deliciosa e irresistivelmente filmadas por ela. Não basta virtuosismo pra filmar assim, ou a velha e boa sensibilidade celebrada do cinema contemporâneo, é preciso atenção, exercício e liberdade. Sentidos livres pra deixar os planos e situações seguirem até onde não se prevê e onde a vida muitas vezes leva.

sábado, 17 de setembro de 2011

a linda canção sobre ser travesti e uma foto de nan goldin


menopause man
(ariel pink's haunted grafitti)

mental woman, born of man
born of woman, mental man
change me, I'm changing day to day
lady, I'm a lady from today

neuter me
spay my heart
so just come on girl
saturn star

trying too hard
to be yourself
said you're trying too hard
to be what you are

make me maternal, fertile woman
make me menstrual, menopause man
rape me, castrate me, make me gay
lady, I'm a lady from today

trying too hard
I know you're trying too hard
you're trying too hard
to be what you already are.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

you had a black shirt on with a big picture of Nietzsche



Discos e uma época, filmes e um tempo. Discos, filmes, lugares que saíamos e alguma casa que vivemos. Estou pensando esses dias em um projeto chamado "memórias de casas": casa em timon, em curitiba, são paulo, teresina e os pensamentos ligados a estes lugares como imagens, como sons, como músicas. Memórias do rio.
Esses discos do jens eu acho a cara dessa amizade amorosa, ou desse amor amistoso meu e de Arthur e dos lugares por onde a gente vai passando, conversando e vivendo essa vida.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011


ando numa adolescência tardia engraçada
como quando eu queria fazer filmes com músicas
a maioria delas do jens lekman, smiths
e belle
com direito a chororô vendo o fans only
como antes

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

domingo, 24 de julho de 2011

minha mãe guarda meus travesseiros e lençois
pra proteger da poeira
pra que eu não espirre
faz um bolo de laranja, tarde da noite
um suco de maracujá pra que eu durma bem,
fique calma, muito calma
tudo isso depois de muito trabalho,
um trabalho que exige uma doação pelo outro
é incansável
incansável é a minha mãe
quando o que está em questão é fazer feliz

quinta-feira, 23 de junho de 2011



I saw her in the demonstration, it was a sweet sensation of love
(ou a moça séria contra o machismo)

segunda-feira, 13 de junho de 2011



























"não se preocupe
se proteja"
tenho procurado um lugar seguro
na memória
na verdade eles me procuram
vem de repente
imagens que chamam as outras
sem explicação aparente
como trata Marker
outras que relampejam em um momento de perigo
como disse um dia Benjamin
imagens de felicidade
verdes como aquela

quinta-feira, 26 de maio de 2011

andei pisando pelas ruas do passado
criando calo no meu pé caminhador
dançando um xote,
tropecei com harmonia na melodia de "Pisa na Fulô"
andei passando como as águas como o vento
como todo sofrimento que enfim me calejou
terei futuro deslizando no presente
como o cabelo no pente que penteia meu amor

(alceu)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

pode o homem enriquecer a natureza com sua incompletude?
disse manoel
lembrei de tarkovski
rohmer
arthur pinta no canto da sala
lembrei da espera da minha mãe e do meu pai
pra que a roseira na varanda florescesse
deve ser isso

quinta-feira, 14 de abril de 2011

mari me deu de presente este fim de tarde que eu já conhecia
ouvindo zii e zie
(e a gente cantando junto na praia, ainda isso)
estou tomada por essa imensidão
por Sophia, por Tito
por duas mães
em alguma hora desconfiei que os carros também me dariam bom dia e ririam
porque todos me receberam tão bem...
cada uma dessas pessoas
na casa da minha irmã
na celebração da mari
a muzanga do camdomblé, o rezar de preto é alegre, lindo
do rio que eu não conhecia nem por foto, nem por canção.
E as longas conversas no ônibus com a cidade sobre nós devem ficar, sempre.

sábado, 12 de março de 2011

paisagens fluviais


três canções de tetê espíndola
são o bastante

uma manhã
eu criança, em timon, andando com meu pai
achando que a cidade era grande
depois descobri que aquele lugar onde tinha a árvore
que achava que era longe
era bem pertinho de casa

a dor do tempo, a ferroada do tempo
uma beira de rio

lembrei também de um sete de setembro
na jaime rios
me confundo sobre quais amigos estavam comigo, mas sei bem qual era o dia
uma sensação quase exata
a rua quatro
outra rua, aninha deitada na calçada
e um outro dia também, um zé pereira

a dor do tempo, a ferroada do tempo

quinta-feira, 10 de março de 2011

pequenas histórias de curitiba

uma professora dedicada
um aluno dedicado
ele trabalha em um lava carros depois da escola
lê clarice na aula
fuma maconha depois
e sabe tudo do que eu dei sobre guerra fria, tudo mesmo
ela recém deixada pelo marido idiota
prepara e pensa as aulas muitas muitas vezes antes
é muito justa
percebe em muriel uma delicadeza na leitura dos textos
é um menino incrível mesmo

uma emissora de tv quer um bom exemplo na escola pública
ela lembra dele
chama, avisa sua família
a emissora não vem
e eu ouvi tudo e senti muita muita raiva
eles assim, magoados por desinteresse
o que é mais distante e oposto do que eles despertam e merecem

--.--

eu e rafa na parada
reclamamos do preço da tarifa
alguns alunos entram pela saída, sem pagar
e ela
se eu não fosse professora
faria que nem eles

--.--

o aluno me pergunta se vale a pena se professora
eu digo que vale
se conseguir viver com pouco
com um casaco só, em uma casa de um cômodo só
ou se for sem filhos como eu
e poder escolher dar poucas aulas
ele diz que pensou nisso
mas que o pai queria que fosse engenheiro

--.--

último dia de aula do semestre
meu último dia no terceiro b
aulas liberadas
vou chegando num frio de lascar
com o visual boneco de neve de julho em curitiba
encontro valdeci na porta
ele deseja que dê tudo certo na minha vida

domingo, 27 de fevereiro de 2011



naquele pedaço de rua
a casa quase humana
meu navio para sempre fazendo água

em dias de calor úmido
a casa me atravessa
como um pássaro quebrado

(roseana murray)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ainda bem que eu tinha visto aquele rohmer das duas meninas
quando se olha uma pintura não se diz nada
só silêncio
dizia mirabelle
tirei a tarde pra ver as pinturas do arthur
outro dia eu tinha lhe pedido pra colocar as que vi na parede
como mirabelle, ele me disse
"você lê textos, ou poemas, o dia inteiro?"
é, não faz sentido vê-las o dia inteiro
não aguentaria
fiquei em silêncio, mas concordei
hoje foi grande, entendi o filme do rohmer inteiro
o entendi um pouco mais
uma lição de pintura
e de lidar

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

i have a love. i have a love for this world, a kind of love that will break my heart


Jens days, eu diria. Este deslocamento do íntimo ao coletivo de que ele fala muito me interessa. É como um maravilhoso movimento de ir e vir entre nós mesmos e os outros, entre nós mesmos e o mundo. Quando ouvimos de um romântico como ele, sobre essa necessidade de se deslocar, de entender os motivos do mundo é comovente. É como ele canta quando vê a menina na passeata anti-guerra, quando canta de uma"doce sensação de amor" em um dia como aquele. Salve Jens!

there's got to be someone here tonight
who can explain to me
how shadows can also shed light

how they can outshadow
what happened between us and outline
The burnt ground beneath us

i need to be explained to
over and over

how a broken heart is not the end of the world
because the end of the world is bigger than love

i was in Washington D.C. for the election
and when they announced the results
i left the procession
content in the world's direction

tried to call you for an explanation
of the distance to the star constellations
or any explanation of

how a broken heart is not the end of the world
because the end of the world is bigger than love

and it's bigger than an iceberg
than the plume of a geyser
and it's bigger than the spider
floating in your cider
and it's bigger than the stock market
than the loose change in your pocket
and the Flatbush Avenue Target
and their pharmacy department
and it's bigger than our problems
and I our inability to solve them
from Coney Island to Harlem
to the end of the world and back again

a broken heart is not the end of the world
the end of the world is bigger than love
às vezes eu me antecipo e arthur me desacelera
me recomenda um filme em que tudo pode dar certo
estas conversas de logo antes de dormir tem me salvado como quando nos conhecemos
a descoberta do mundo
ontem foi o poeta argentino Joaquín O. Gianuzzi


Minha filha se veste e sai


O perfume noturno instala seu corpo
em um segundo aperfeiçoamento do natural.
Pela graça de sua vida
a noite começa e o quarto iluminado
é uma palpitação de jovem felino.
Agora põe o vestido
com uma fé que não posso imaginar
e um sussurro de seda a percorre até os pés.
Então gira
sobre o eixo do espelho, submetida
à contemplação de um presente absoluto.
Uma doce desordem se imobiliza em torno
até que um chacoalhar de pulseiras sendo fechadas
anuncia que todas minhas opções estão resolvidas.
Ela sai do quarto, ingressa
em uma véspera de música incessante
e tudo o que não sou a acompanha.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

a moça que comprou nossa casa liga e meu pai:
"como está a goiabeira?"
"e a acerola dando muito?"
" e a planta que cheira? (o jasmim)

o telefone toca à tarde
é mamãe que liga
"comeu fruta?"
"não deixa de comer fruta?"

eu no quarto fugindo da claridade
calorão
ouço meu pai com fones no computador
assobiando uma música boa

como é que se salva isso?
é que eu preciso...

domingo, 2 de janeiro de 2011