@ tainah negreiros

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Trouble Every Day




Há um tristeza tão profunda e tão latente em cada fotograma desse conjunto dolorido que é o filme de Jonathan Glazer que não há outra maneira de falar de "Sob a pele" a não ser partindo dela. Temos a personagem de Scarlett Johansson, uma extraterrestre e seu percurso em uma van em busca de homens para abduzir, carregar, seja lá o que for parte do plano maior alienígena de que faz parte.
A impressão é que vivemos algum tipo de hipnose desde a sequência inicial, seus sons, suas formas e luzes na apresentação desse universo alienígena. Há também a hipnose Johansson, e não tem nada a ver com o que nela é sedução mas com o que nela é imersão em um universo que não é o seu, mas é também profundamente solitário, dolorido e gelado. Há algo perturbador e de muito entristecedor nesse lugar que ela vai assumindo, nessa aquisição de humanidade. Desde as roupas da mulher assassinada que ela toma para si, desde as demais roupas (outras peles) que ela vai se cobrindo, no contato delas com a sua pele até os seus primeiros contatos com os humanos. A partir daí, ela vai cruzando com os homens nas estradas geladas da Escócia, troca poucas palavras com eles, quase todos estão muito sós, de alguma maneira, como ela. Alguns completamente sozinhos, sem ninguém no mundo, vindos de longe. A personagem de Scarlett atravessa a cidade de carro, entre uma e outra conversa na van, até levar alguns dos homens que encontra até sua armadilha e até também a ruptura em um desses encontros, quando a personagem passa a desejar sentir algo e se interessar, de alguma forma, por essa tal de humanidade.
Uma das coisas mais impressionantes do filme é colocar esse ser estranho, encantador na cidade, no seu perambular, entre um e outro contato distanciado, entre assédios e gentilezas, até que algo a comova e ela deixe a van e tente se confrontar com a humanidade em uma variedade assustadora de dimensões. A personagem sem nome de Scarlett se aproxima do humano e do que é ser humana e mulher para perceber que sê-los é triste demais.

segunda-feira, 19 de maio de 2014




"Para Van Gogh, Cézanne ou Matisse, o céu é azul antes de ser céu. O verde de uma fruta derrama sobre uma mesa, ou sobre um rosto, se a harmonia assim exige. O pintor derrubou intencionalmente as barreiras que separam os três reinos naturais: animal, vegetal e mineral. 
Só os grandes foram capazes de ressucitá-las através de um artifício não mais acadêmico, expressar a "substância" sem o uso do "relevo", com profundidade sem o uso de perspectiva.
O que foi um paradoxo na época de Manet é um mero lugar-comum hoje. As escolas modernas e talvez os cem anos de fotografia tem nos ensinado a distinguir "valor" de "nuance". Nós sabemos, como Gaughin disse, creio, que o laranja é um "laranja" mais brilhante quando o tempo está cinza. Nós aprendemos a ver como pintores."

(Eric Rohmer, O Gosto da Beleza)

terça-feira, 13 de maio de 2014