@ tainah negreiros

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

meu pai deu livros seus
livros importantes
e deu uma briga lá em casa
"como assim, pai? eu sou historiadora
e você dá os livros de filosofia?"
Fiquei zangada
mas eu sabia e baixava o tom
pensava nele
nesse senso de partilha que ele tem
de quem queria ter mais pra poder dar- ele já me disse
pensei na eternidade disso
como as palavras do livros que ele deu
que seguirão andando sozinhas
na cabeça de quem encontrar com elas

segunda-feira, 19 de outubro de 2009


foi meu pai que me mandou
ele que viu e salvou
com a solidão de uma árvore de kiarostami
o deserto dele também é lá
o de meu pai
o de kiarostami, sem saber

um deserto também meu
confuso com essa s`odade tirana

no sertão em outubro
flor quer dizer espera

domingo, 4 de outubro de 2009

Difícil ser funcionário

Difícil ser funcionário
nesta segunda-feira
eu te telefono, Carlos
pedindo conselho

Não é lá fora o dia
que me deixa assim,
cinemas, avenidas,
E outros afazeres.

É a dor das coisas,
o luto desta mesa;
é o regimento proibindo
assovios, versos e flores.

Eu nunca suspeitara
tanta roupa preta;
tão pouco essas palavras -
funcionárias sem amor

Carlos, há uma máquina
que nunca escreve cartas;
há uma garrafa de tinta
que nunca bebeu álcool.

E os arquivos, Carlos,
as caixas de papéis:
túmulos para todos
os tamanhos de meu corpo.

Não me sinto correto
de gravata de cor,
e na cabeça uma moça
em forma de lembrança

Não encontro a palavra
que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...

Carlos, dessa náusea
como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
pedindo conselho

(de joão cabral pra drummond)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009