@ tainah negreiros

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Tennessee Williams, 1945

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

faz-me lembrar
um filme do Rohmer
ou o toldo vermelho
do Joaquim Manoel
Quando penso em ti
eu esqueço o lixo
que de manhã faz barulho
à minha porta
Pareces-te com o tempo
das amendoeiras
Tens tudo a ver com
a escadaria semi-invisível
que o mágico escavou
no rochedo atlântico
Sim tu pareces o Verão
(...)
Fazes lembrar a alegria
de um risco na parede
desenhado a carvão
pela criança da manhã
É no verde dos teus olhos
que eu treino a disciplina
de uma explosão sossegada
que se vai revelando devagar
ao ritmo das estações concretas
E já agora é também no amarelo
dos teus olhos que eu descanso
da guerrilha do mundo moderno
Aqueles que nos fez esquecer
a gargalhada de David
quando derrotou o gigante
(mas olha há sempre um riso
ecoando lento na caverna)
Estamos aqui para vencer a dor
E teu rosto diário faz lembrar
a vitória do tempo sobre o tempo
Porque afinal de contas tu
te parecer muito com a promessa
de uma fé vagarosa & livre
Pareces a coragem, pareces a paz
Pareces mesmo a madrugada egípcia
sobre a qual voa um passarinho.

(Matilde Campilho)

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Há dois dias sonho com as crianças de uma determinada turma. E elas ficariam chateadas se me vissem chamando-as de crianças no alto dos seus 13, 14 anos. O pianista, a feminista, o mágico cineasta, o mago dos efeitos especiais, a artesã, o jogador de basquete que ama Star Wars (o que terá achado ele do último filme?), o ator que também canta hardcore, o apaixonado por Chaves, o que sempre ri e ama Stranger Things, aquele que canta e desvenda mistérios de computadores, o grafiteiro, o amante de rap nacional que imita um homem velho com sotaque nordestino como ninguém, o aficcionado por tecnologia. Enquanto na minha cabeça listava cada uma dessas lembranças imediatas de cada uma das crianças, pensei na canção de Charles Aznavour. Les comedièns que diz "Viens voir les comèdiens, les musiciens, vien!". Vem ver todo essas pessoas que fazem morada no meu coração.

sábado, 16 de dezembro de 2017

Johnny Guitar



Em fuga, Johnny sacode a ponta do vestido de Vienna para apagar o fogo
 é o que me chama a atenção Matthijs
depois de eu notar
que Johnny também a ajuda a ajustar um cinto
quando os dois tem que trocar as antigas roupas por novas e secas.
Vienna não precisava
Poderia salvar-se sozinha, tirar o fogo do vestido branco com as próprias mãos
ajustar o cinto reiterando a firmeza que tem
Nicholas Ray decide focar nesse detalhe por uma sabedoria de cinema
revelação de uma intimidade qualquer desses amantes
cheios de um passado que mal conhecemos
mas que fazemos ideia e nos fascina
por tudo que contem gestos como esses.
Johnny Guitar dá título ao filme e está lá para servir
Doar-se por Vienna, é o que pode fazer diante da imensidão daquela presença
Como se fosse tudo que pudesse dar para, quem sabe,
ganhar o título do filme com seu nome
Título sonoro, belo
como sua música
Ah! E sua música ele nos dá. Ela pede
Nela também o passado misterioso de amor está
Toca, Joãozinho!

sábado, 2 de dezembro de 2017


Há quinze dias Pj Harvey esteve na cidade. Ingresso caro para ver alguém que me acompanha há tantos anos em uma mudança de paleta de cores e de vigor, das duas. Entrou ainda com sol, sóbria, solene,  entendi que mais do que a música,  queria sua presença, entender alguma coisa dela ao vivo, de bastante perto. Senti e entendi tudo. A sua solenidade, o seu não se mover conforme a música mas conforme uma lentidão que ela própria estabeleceu antes, para o show e para si. Um rigor interessantíssimo e poderoso. Não sei nada da vida pessoal dela exceto que há muito anos deixou Nick Cave (arrasado) e hoje sua companhia em fotos é quase que somente do seu saxofone. Me parece uma daquelas mulheres sem homens (no fundo não serão todas?), pelo menos em sua vida pública mesmo que cercada deles em sua banda. Mulher fascinante. Não consegui esquecê-la desde o show, algo na sobriedade e no solene. Também na lentidão. A presença que quis eu tive. E a música também.