Tava vendo o filme do Victor Erice e a gata me chama na porta. Não era comida que ela queria, era me mostrar algo. Foi me conduzindo pelo jardim da casa enquanto olhava alguma coisa invisível que quero acreditar que era meu pai. Com meus próprios braços me abracei sem que percebesse, procurando ele e encontrando.
sonho sujo número dois
why is this happening to you, you're not a child?
terça-feira, 2 de janeiro de 2024
sábado, 9 de dezembro de 2023
a árvore
Hoje quis tanto pode tocar meu pai que segurei com as mãos dois galhos secos de ipê como se fossem ele. Ele amava ver os ipês florescerem e mudarem a paisagem.
sexta-feira, 1 de dezembro de 2023
terça-feira, 3 de outubro de 2023
easy
my man and me
we could rest and remain here, easily
we are tested and pained by
what's beyond our bed
we're blessed and sustained by
what is not said
no one knows what is coming
or who will harvest what we have sown
or how I've been dulling and dumbing
in the service of the heart alone
or how I am worn to the bone by the river
and in the river, made of light
I'm your little life-giver
I will give my life
sexta-feira, 22 de setembro de 2023
La Belle Noiseuse (Jacques Rivette, 1991)
Os imensos filmes alteram completamente a cinética e a percepção de quem os vê logo em seguida. Depois de ver "La Belle Noiseuse" tive vontade de comer algo gostoso e belo ao mesmo tempo. No mesmo dia em que vi "La Belle Noiseuse" eu comi figo fresco pela primeira vez e fiz uma torta de figo adocicada e salgada. Fiz bem devagar como que afetada pelo estado de integridade do gesto, do ímpeto e da construção que Jacques Rivette opera em parceria com Jane Birkin, Emmanuelle Béart, Michel Piccoli, William Lubtchansky, Emmanuel de Chauvigny, Christine Laurent, Pascal Bonitzer e Igor Stravinski. Com esse filme há sempre a sensação de enormidade das capacidades do cinema. O que o tempo e maneira do filme faz com o gesto do artista? O que o tempo e a construção fazem com a percepção que temos do corpo de Marianne e de Marianne além do corpo? E em quem ela, para além do corpo pintado visto, contorcido e retratado, vai se transformar menos e mais encoberta fisicamente e metaforicamente? Como através do que constrói Rivette conseguimos intuir a força, vulnerabilidade e crueldade de Liz e tudo que está implicado no encontro e na possível perda de Fenhofer? Como, em meio a centralidade do gesto e da criação de Fenhofer, Rivette sublinha uma conexão e os olhares das mulheres sempre retratadas, as trocas misteriosas entre elas. Que tipo de coisas elas criam? O que elas criam ali cria também para o cinema? É um assombro o que o filme descortina e não descortina jamais.
quarta-feira, 28 de junho de 2023
há um momento após desviares o olhar
em que te esqueces de onde estás
noutro lado, no silêncio do céu nocturno.
Estás num lugar diferente,
um lugar onde a vida humana não tem sentido.
Existes como as estrelas existem,
participando na sua quietude, na sua imensidão.
de noite, numa colina fria,
a desmontar o telescópio.
que não é falsa a imagem
mas a relação.
fica tão longe de todas as outras.
(Telescópio, de Louise Gluck)
domingo, 18 de junho de 2023
Salve-se Quem Puder (A Vida), de Jean Luc Godard (1979)
"Salve-se Quem Puder" é uma outra forma de dizer capitalismo. "A vida", ou qualquer coisa muito muito bonita e fora da ordem no meio desse estado de coisas, vem de Godard.
sábado, 15 de outubro de 2022
Petite Solange (Axelle Ropert, 2021)
"Tanta coisa que então eu não sabia. Nunca tinham me falado, por exemplo, deste sol duro das três horas. Também não me tinham avisado sobre este ritmo tão seco de viver, desta martelada de poeira. Que doeria, tinham-me vagamente avisado." (Clarice Lispector)
Olhar Solange existir só perde em potência pra quando vemos o que Solange vê. Eu ainda estou tentando entender o que exatamente está contido no ponto de vista de Solange criado por Axelle Ropert, principalmente quando ela olha para família, quando vemos mãe, pai e irmão no mesmo plano através dos olhos dela. É o olhar doloroso do amor familiar e do lamento de alguma coisa qualquer que está se perdendo, que está sempre se perdendo no mundo do amor, e que Solange vivencia intimamente de maneira dolorosa e única.
Na primeira calmaria depois do início do processo de separação da mãe e pai de Solange, e também dela e do irmão Romain, ela conta para aquele que é seu interesse amoroso sobre uma viagem que a família toda vai fazer para a Sicília. O rapaz a escuta e pergunta "Você é apegada a sua família né?" É, ela é, pensamos junto com Solange e recapitulamos toda a jornada afetiva que o filme vem acompanhando e que ele vive inteiramente, profundamente e dolorosamente. A pergunta do rapaz que mal a conhece sintetiza isso mas também o modo como Solange põe as flores no jarro em total não aceitação do fim daquela casa. Ela vai, volta e conclui: "Ninguém tinha me dito o quanto poderia ser difícil viver." E é. E é.
terça-feira, 25 de janeiro de 2022
La bande des quatre (Jacques Rivette, 1989)
Tudo no filme se converte em encenação, é no teatro que ele se funda e é no teatro que ele se resolve. A professora de teatro e as alunas inventaram um mundo de mulheres em que elas circulam, em que elas são mais de uma o tempo inteiro, universo impenetrável por homens mas que eles existem através delas. Um mundo contra prisão. Algo que faz com o que "La bande des quatre" se encaminhe para uma das dedicatórias mais lindas da história do cinema, se não, a mais bela.
terça-feira, 21 de dezembro de 2021
Drive My car (Ryusuke Hamaguchi, 2021)
quarta-feira, 11 de agosto de 2021
O vôo vermelho (acrílica e aquarela sobre papel 30 x 42 cm)
terça-feira, 10 de agosto de 2021
É na imprecisão da comunicação de Hanne que reside a ambiguidade dos Contos de Julho, de Guillaume Brac. A angústia final dela talvez venha disso. Na confusão com as questões da ordem do coletivo, a impressão é de que Hanne deseja profundamente poder ser confusa, equívoca, indecisa, ambígua, suscetível sem que isso queira dizer imediatamente um interesse sexual, um sim, mas somente uma manifestação da sua liberdade.
terça-feira, 20 de julho de 2021
Há alguma coisa sobre família ou sobre a incompreensão da aventura de cada pessoa que esbarra no amor familiar. As aproximações e reaproximações são dolorosas, cheias de passado. De alguma maneira, manter alguma distância nos vínculos dessa natureza parecem uma forma de sobrevivência neste filme, ou um caminho para uma liberdade qualquer.É como quando o Young-Ho, o protagonista, decide não interromper o momento pensativo e solitário da mãe. Tudo está contido naquela decisão e na rebeldia que o acomete com essa distinção.
Trata-se de uma coleção absurda de intimidade que não podemos ver mas adivinhamos pelas superfícies que Hong Sang Soo nos oferece. Da materialidade da realidade à materialidade do sonho (que também é vida vivida, é realidade, como diz Preciado) os personagens se expandem. Imenso.
segunda-feira, 12 de julho de 2021
Wheel of Fortune and Fantasy (Ryusuke Hamaguchi, 2021)
segunda-feira, 21 de junho de 2021
Garoto, de Julio Bressane (2015)
A citação de Café da Manhã na Grama do Manet não é só um tableau vivant vaidoso para fazer uma citação erudita qualquer, é uma compreensão da figura humana na pintura, mais especificamente da mulher daquela pintura, do que ela irradia e de todas as palavras que ela seria capaz de dizer no meio do mato. É uma tensão moderna, uma tensão eu- natureza, eu-potência-eu-diminuto -eu-imensidão. O ponto de partida é essa vibração, é a citação pictórica e o que no filme vem ainda antes: a fala da personagem de Marjorie Estiano. A fala que tão bem representa a aventura branca que é essa de encontrar algo para além de si mesmo quando a afirmação de si é sempre o que assombra.
sábado, 19 de junho de 2021
sistema solar
em um céu impuro
de primavera
do hemisfério norte
o homem me chama para a janela
lá fora marte, vênus e a estrela spica
a ursa maior
e uma lua minguante generosa de luz
no sul do mundo que é o nordeste do brasil
eu via júpiter
e vênus sempre eu via, como quem olha para o espelho
são maravilhosos os planetas e seus disfarces
e o céu é das minhas festas preferidas
Untitled, ca. 1960s
sábado, 4 de julho de 2020
nos planetas, Saturno e Júpiter que hoje vejo pela janela
quarta-feira, 24 de junho de 2020
The woman who ran (Hong Sang Soo, 2020)
sábado, 11 de abril de 2020
Certain Women (Kelly Reichardt, 2016)
domingo, 29 de março de 2020
O Reino dos Gatos (Hiroyuki Morita, 2002)
"se você está procurando um lugar misterioso
com um problema difícil de resolver
existe um lugar..."
terça-feira, 10 de março de 2020
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020
Tommaso (Abel Ferrara, 2019)
Auto-escrutínio do homem velho que teme não ser mais necessário, do homem velho canceriano errante que deseja inventar uma casa com uma mulher 30 anos mais jovem, ser pai, ser desejante, ter paz de espírito ou quem sabe fazer as coisas certas dessa vez. É a falência do homem, de todos eles ou dessa especifidade insana ambulante que é Abel Ferrara e que Willem Dafoe de fato encarna (no sentido extremo de oferecer a carne para aquela existência) e com quem se mistura. Filme matéria, filme homem, filme de um tipo de homem que exerce fascínio mas também de um homem que já está na hora de passar. Alguma coisa tem que ser diferente, e Tommaso descobre isso ao falar com o homem paquistanês que gritava na rua e ameaçava acordar sua filha. Não sei dizer ao certo ainda o que acontece ali naquela instante, que tipo de coisa o personagem compreende mas, sem dúvidas, existe ali um incêndio, desses incêndios interiores, de cinema.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020
Retrato de Uma Jovem em Chamas (Céline Sciamma, 2019)
sábado, 16 de novembro de 2019
Showgirls (Paul Verhoeven, 1995)
Rivette estava certo mas há muito mais além do que ele dizia sobre Showgirls. Aqui alguns apontamentos sobre o filme:
quinta-feira, 18 de julho de 2019
Matthijs e o oceano cor de rosa (42 x 30 cm acrílica sobre papel)
https://quatroaventuras.tumblr.com/
segunda-feira, 17 de junho de 2019
Temporada, de André Novais Oliveira (2019)
O vetor de Temporada aponta pra frente, pra um futuro de esperança que é um acalento no asfixiante e sombrio Brasil 2019. Concebido por André Novais, em luminosa parceria com a atriz e dramaturga Grace Passô, a história de Juliana é de uma série de impedimentos. A perda da mãe, a não maternidade e o abandono do companheiro. Diante de todas essas negativas, essas derrubadas, de cenas várias que a gravidade age sobre seu corpo e assistimos a dificuldade dela de sair da cama, ainda assim, o filme aponta pra frente. Isso é revolucionário.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2019
domingo, 13 de janeiro de 2019
Filha de Ninguém (Hong Sang Soo, 2013)
domingo, 7 de outubro de 2018
and we were talking about our love
it was lula's birthday
"the the" song playing
and you told me about happiness
and that you wanted to get old
it was lula's birthday and you told me about make me feel loved
it was lula's birthday
and we felt too young
saying mature things
it was the day before brazilian elections
the end of the world could come but
me and you
we found hope
and now I want say loud
and with an opened chest:
I want happiness for us
and for everyone