@ tainah negreiros

domingo, 28 de janeiro de 2007

"O desejo não é de se brincar com ele. Ele é nós" Clarice Lispector

Sobre o filme de Lucrécia Martel.

Menina Santa é um filme sacana. Adoravelmente sacana, eu diria.


Vi esse filme já há algum tempo, mas depois de uma deliciosa conversa com um amigo esta tarde decidi me voltar a ele e às suas nuances. É bom voltar, afinal, um cinema significativo como esse é o que é pelo seu indefinido, infinito e interminável.

Apesar de não considerar este um filme meramente narrativo, posso dizer que sua história gira em torno de acontecimentos vividos durante a apresentação de um músico e de seu teremim. Teremim é um instrumento que soa sem ser preciso tocá-lo, mas sim através dos movimentos do músico. Nessa ótima idéia e numa bela construção de cena, surge uma das grandes sacadas do filme de Martel. O teremim é a alegoria do desejo, do desejo que paira, que está por toda parte, que não precisa do toque, que existe mesmo sem ser consumado. É o desejante, o desejado derramado na tela lindamente, desde a canção religiosa cantada no início, ao beijo trocado entre amigas. A diretora constrói um clima, uma atmosfera envolvente para tratar do desejo, do humano.
O que Martel filma é o por um triz, é o que pode ser desencadeado e faz jus as palavras de Antonioni que acredita que somos todos doentes de eros, por isso tanto desatino, tanto a se ganhar ou a se perder. Por isso a câmera de Martel não julga, é lindo ver isso, seus personagens agem, querem, mentem, abusam, mas ela os filme com a franqueza e com a atenção de quem respeita. Afinal, eles são nós.
Mas ainda há vida, muita vida.


É estranho como em momentos ruins o mundo se mostra e às vezes até sorri pra você. Talvez a minha descrença não tenha tanta razão de ser. Sim, há o ruim que passou mas as pessoas me apareceram esses dias, cheias de luz, com uma serenidade e um carinho que fizeram os dias ficarem tão melhores. É, pessoas de perto, amigos maravilhosos, alguns nem tão amigos assim mas que o olhar conforta. Tem gente de longe que acabou ficando e acho que desse lugarzinho ao meu lado não sai mais.

Essa postagem não é pra ser bonita, nem bem escrita, só franca mesmo. Como celebração a esse outro lado que se mostrar sobre a poeira.


E eu posso até sorrir.

sábado, 27 de janeiro de 2007

Morri um pouco hoje.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007


Noite.

Já estou até sonolenta mas os pensamentos me pegam e deu vontade de vir aqui falar de mim pra poucos estranhos e alguns conhecidos, já que quase ninguém lê esse blog. É quase como conversar comigo mas eu faço e é gostoso. Essa paginazinha branca é agradável de preencher.
Eu ando agoniada, passou, passou, a serenidade de alguns posts anteriores se foi e eu ando inquieta, ainda mais com o sol que vem batendo aqui. É sério, parece até setembro, quente demais, e eu não sei onde colocar os pensamentos, nem sei onde pôr as mãos também, mas isso, mas isso já é de praxe.


Na real, eu vim aqui, mas não tinha nada de novo ou interessante pra dizer, só que é noite, ainda faz calor e eu não quero ir dormir, não com meus pensamentos.


Pra diabos serve um blog? Eu tenho um diário, um caderninho vermelho bem mais franco e bem menos organizado que isso aqui, que diabos eu venho tentar desabafar aqui se eu nem tenho coragem? Que diabos eu venho fazer aqui se eu só sei dizer que amo e quero bem? Ah! É tudo a mesma coisa, odeio me repetir mas faço, e faço muito. Você, senhor raríssimo leitor, que chegou até aqui, pode parar, não tem mais nada, como não teve. Eu tô com sono mas eu sei que ainda vai ter um encontro com o teto que prefiro adiar.

Será que me rendo agora? Quem sabe.

"Se você se sente sinistro..."

sábado, 20 de janeiro de 2007

Delicadeza


É engraçado como a simples presença de algumas pessoas pode ser enternecedora.

Assim como já falei aqui da saudade que sinto de Tarkovski, ( saudade mesmo, como de quem você conheceu, viveu e não se recupera nunca) ontem me peguei emocionada com o simples fato de ver Manoel de Oliveira, este grandioso criador português. Grandioso sim, em capturar nossas minúcias, pequenices (não pequenezas) e guardá-las, capturá-las e nos mostrar um mundo novo. Em seu mundo de mãos, olhos e sapatos emocionados, Oliveira consegue com a simplicidade do seu olhar um resultado tão devastador que impossibilita a imunidade. Fico aqui às voltas com imagens suas que me vem e não esqueço.

Em um documentário de Maria de Medeiros sobre os bastidores da criação cinematográfica e crítica, ao ser questionado sobre o que o artista arrisca com seu cinema ele responde.

‘Tudo’

Ao ver um filme de Oliveira, me dou conta que ele sim, arrisca tudo. É uma vida que está ali, é um olhar despido, entregue ao homem e a sua compreensão.

Fico aqui com pensamentos ternos sobre a vida, a arte e o humano. Obrigada Manoel!

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Caetano canta amor desencontrado e o desejo do encontro e eu me derreto toda por aqui.

O quereres

Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta, e onde voas bem alta eu sou o chão
E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão

Onde queres família sou maluco, e onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco, e onde queres eunuco, garanhão
E onde queres o sim e o não, talvez, onde vês eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo eu sou o irmão, e onde queres cowboy eu sou chinês

Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato eu sou o espírito, e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre decassílabo, e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói, e onde queres tortura, mansidão
Onde queres o lar, revolução, e onde queres bandido eu sou o herói

Eu queria querer-te e amar o amor, construírmos dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou
E te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és

Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper vídeo, e onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua eu sou o sol, onde a pura natura, o inceticídeo
E onde queres mistério eu sou a luz, onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro, e onde queres coqueiro eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

What will happen in the morning when the world it gets so crowd and you can't look out the window in the morning?
Nick Drake