Há algumas semanas tenho chorado no banheiro de pensar na minha casa. Acontece no banheiro porque descobri um sabonete glicerinado verde que me lembra o lugar, no começo da minha vida na casa em Timon, me faz pensar na mudança, na bagunça dos móveis no começo, lembra dias mais recentes também, meu quarto, tem cheiro da minha mãe, do meu pai, do arthur, dos meus amigos e dos gatos que viveram com a gente lá.
Outro dia fui a Timon por um motivo triste e enquanto me aproximava da igreja, distraída, reparei nas pedras da calçada, e não pensei na igreja, em nada daquilo, até porque não a frequentava, mas em todos os dias que passei por lá na volta da aula, com os amigos, segurando uma bicicleta, conversando, correndo, suada, de dia e de noite. Pensei que a memória é mesmo imperfeita e incompleta e por isso dolorida. Pensei também, mais uma vez, que o que fica entre os vazios da sua incompletude é poderoso demais.