Estou há algum tempo tentando escrever sobre "Aos Nossos Amores" e o que posso dizer é que a "tristeza que durará para sempre" a que se refere o pai parece ser aquela gerada por aquilo que somos muito honestamente mas que acaba por nos machucar ou machucar os outros. O filme é sobre essas feridas, sobre um jeito desajeitado e franco de viver que magoa, desnorteia. Suzanne só se sente bem enquanto namora, em seus vários encontros com vários homens mas ao mesmo tempo ama o rapaz com quem não consegue ficar, talvez por isso. Suzanne parece só encontrar cumplicidade no pai e nessa ligação extremamente ambígua e comovente. O cinema parece ter nascido para filmar essa ambiguidade, como diria Rohmer.
@ tainah negreiros
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Estou há algum tempo tentando escrever sobre "Aos Nossos Amores" e o que posso dizer é que a "tristeza que durará para sempre" a que se refere o pai parece ser aquela gerada por aquilo que somos muito honestamente mas que acaba por nos machucar ou machucar os outros. O filme é sobre essas feridas, sobre um jeito desajeitado e franco de viver que magoa, desnorteia. Suzanne só se sente bem enquanto namora, em seus vários encontros com vários homens mas ao mesmo tempo ama o rapaz com quem não consegue ficar, talvez por isso. Suzanne parece só encontrar cumplicidade no pai e nessa ligação extremamente ambígua e comovente. O cinema parece ter nascido para filmar essa ambiguidade, como diria Rohmer.
Uma das cenas mais interessantes e reveladoras de "Para sempre Cinderela" é quando finalmente o príncipe se dá conta de que Danielle é a garota com quem ele deve ficar e tem que salvá-la das mãos do malfeitor que a sequestrou. O curioso é que quando ele chega até o castelo do vilão, Danielle já se salvou sozinha, tomando as espadas dele enquanto a torturava. Ela o encontra espantado, ela sequer precisava dele mas fica feliz de lhe ver.
A cinderela está livre.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Ando pensando, pra variar, no Conto de Inverno e, principalmente, nessas influências de Shakespeare e Pascal. Me parece mesmo que o filme de Rohmer, para além de mostrar os maravilhosos movimentos errantes daquela mulher, é também uma história sobre fé. Não somente no aspecto religioso, mas nesse sentido do intenso desejo que mobiliza as coisas do mundo. Como na cena peça, em que a força do sentimento faz com que a estátua se mova, ou mesmo no poderosa crença dela que o homem do verão voltaria, e ele volta.
Gene Shalit: There was an award, some months ago, for the best young actors and actresses in hollywood and you won for the best actress. Why were you crying?
Drew: Because... it was not sadness tears like when you won't see anybody again. It was happy tears, you know... sometimes you should like crying.
Gene Shalit: I understand that entirely.
Drew: Because... it was not sadness tears like when you won't see anybody again. It was happy tears, you know... sometimes you should like crying.
Gene Shalit: I understand that entirely.
"são lágrimas de alegria" - (Conto de Inverno, Eric Rohmer 1992) |
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
"Um filme de Pialat não conta verdadeiramente uma história, ou uma história suficientemente "amena" para que se possa mudar o curso no caminho. Ele descreve um processo de destruição, uma transformação de maneira catastrófica. Na origem há uma catástrofe. (...) O mundo de Pialat é um mundo desequilibrado pela recuada imprevisível de um estado de coisas que se suportava sem que se desse conta. A partir de uma série de dores intermináveis, de crises, gritos que tornam sensíveis mais e mais irremediavelmente o que "não pode ser como antes". Daí o sentimento de desespero que emerge desse filme, de amargura, como bem exprimem os olhos baixos, os olhos tristes de Sandrine Bonnaire, o olhar de Pialat como ele mesmo. E, contudo, da mesma forma que Bacon se diz cerebralmente pessimista e nervosamente otimista, a tristeza pode não estar onde acreditamos que ela esteja. Na grande cena do acerto de contas, depois do "retorno do pai", no fim do filme, Pialat dá, dessa forma, uma interpretação curiosa para a frase que Van Gogh tinha proferido no seu leito de morte: "A tristeza durará para sempre". Acredito - diz ele dirigindo-se particularmente ao cunhado de seu filho (interpretado por Jacques Fieschi) - que Van Gogh fala dele mesmo, de sua vida triste, de sua miséria, mas não: ele deveria dizer que a luta duraria, são vocês que são tristes. Vocês quem? A maldição se dirige, sem dúvida, ao homem de poder, de influência e dinheiro, o cunhado, a quem o irmão de Suzanne se vendeu (como acusa seu pai) para que ele deixasse corromper seu talento nascente; em segundo lugar, ao filho e, enfim, à mãe, cercada de seu ressentimento histérico.
Há forças de tristeza que devemos lutar contra, essa é a lição de Van Gogh, é dela que Pialat trata aqui. As forças de tristeza e escravização, submissão são as mesmas: é o que exprime a cumplicidade lacônica entre o pai e Suzanne. Os dois sabem partir, traçar uma linha de fuga, e as últimas imagens do filme são as de uma partida. Suzanne viaja para San Diego com um companheiro efêmero, enquanto o pai se afunda em ônibus que lhe leva de volta à Paris, na escuridão de um túnel que evoca a morte. Mas "a tristeza durará para sempre" o que significa que a arte é uma luta obscura e difícil, a vida é uma luta obscura e difícil, o cinema é uma luta obscura e difícil".
Pascal Bonitzer, Cahiers di Cinéma, dezembro de 1983
Tradução livre e torta minha.
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