Claro
começa anunciando a parceria Glauber Rocha - Juliet Berto através
da relação entre som e imagem. Enquanto Juliet ocupa todos os
espaços em Roma vestida em um poncho peruano e através de seus
movimentos, ouvimos Glauber urrar ao fundo. Vemos Juliet Berto
andando pelos arredores do Coliseu, movimentando-se como em um
ritual, com os olhos fechados, de braços abertos, levantados, como
em uma incursão destoante para aquela paisagem repleta de turistas
que contemplam. A presença dela é uma intervenção em meio as
ruínas. Aos poucos os urros dele, que parecem vir de longe,
encontram os grunidos diegéticos dela e passamos a ver os dois no
quadro. Partindo dessa espécie de grito ancestral inicial, Juliet
Berto será porta-voz de uma proposta de ruptura.
Estar em Roma é poder filmar a estátua do primeiro imperador Otávio Augusto e, dessa forma, tratar desse longo caminho de exploração, do império ao capitalismo, conforme observou Mateus Araújo Silva em texto sobre o filme. Cidade que, para Glauber, é colocada como lugar de tensão entre as ruínas mantidas - que vemos nos monumentos reverenciados e nos turistas "loucos por um passado doente" que funcionam como fundo para as encenações febris de Juliet em praça pública - e também como lugar de renovação através da mobilização, das ocupações de espaços públicos, dos esforços de ruptura com o passado.
É preciso então percorrer a Roma da permanência, turística, os rastros do império e ir buscar também a resistência, a possibilidade de mudança que Juliet e Glauber encontram na periferia, no contato próximo e imprevisível com a população pobre da cidade. Caminho que leva até a cena da chegada dos dois ao bairro pobre. Vemos a chegada do trem na estação ao som do "Trenzinho Caipira", de Villa Lobos. Eles seguem sendo acompanhados por uma câmera sujeita aos desejos de Glauber que, ao chegar ao lugar, pede insistentemente para que filmem as pessoas que os esperam e que assistem a tudo. E passamos a ver as pessoas ao fundo em uma espécie de vigília no alto de um morro na periferia de Roma. Glauber explicita sua condição de exilado ao articular elementos do lugar onde está a outros que remetam ao Brasil ou à América Latina. Há naquela favela o que lhe interessa na cidade: as pessoas, as histórias delas - que ele ouve um tanto distraído - a vivacidade, a confusão de todos aqueles encontros que se dão ao mesmo tempo, a luta diante da ameaça de expulsão, tudo isso junto ao Villa Lobos colocado ao fundo como quem forja uma casa mesmo estando longe. Da ida à favela romana até o apartamento em que vemos cenas íntimas do casal ao som de canções brasileiras, Glauber se coloca como esse homem que veio de longe, que sente saudade, indignado com o estado de coisas e que, diante dessa cidade e do peso da sua história, ele propõe uma nova desordem.
Estar em Roma é poder filmar a estátua do primeiro imperador Otávio Augusto e, dessa forma, tratar desse longo caminho de exploração, do império ao capitalismo, conforme observou Mateus Araújo Silva em texto sobre o filme. Cidade que, para Glauber, é colocada como lugar de tensão entre as ruínas mantidas - que vemos nos monumentos reverenciados e nos turistas "loucos por um passado doente" que funcionam como fundo para as encenações febris de Juliet em praça pública - e também como lugar de renovação através da mobilização, das ocupações de espaços públicos, dos esforços de ruptura com o passado.
É preciso então percorrer a Roma da permanência, turística, os rastros do império e ir buscar também a resistência, a possibilidade de mudança que Juliet e Glauber encontram na periferia, no contato próximo e imprevisível com a população pobre da cidade. Caminho que leva até a cena da chegada dos dois ao bairro pobre. Vemos a chegada do trem na estação ao som do "Trenzinho Caipira", de Villa Lobos. Eles seguem sendo acompanhados por uma câmera sujeita aos desejos de Glauber que, ao chegar ao lugar, pede insistentemente para que filmem as pessoas que os esperam e que assistem a tudo. E passamos a ver as pessoas ao fundo em uma espécie de vigília no alto de um morro na periferia de Roma. Glauber explicita sua condição de exilado ao articular elementos do lugar onde está a outros que remetam ao Brasil ou à América Latina. Há naquela favela o que lhe interessa na cidade: as pessoas, as histórias delas - que ele ouve um tanto distraído - a vivacidade, a confusão de todos aqueles encontros que se dão ao mesmo tempo, a luta diante da ameaça de expulsão, tudo isso junto ao Villa Lobos colocado ao fundo como quem forja uma casa mesmo estando longe. Da ida à favela romana até o apartamento em que vemos cenas íntimas do casal ao som de canções brasileiras, Glauber se coloca como esse homem que veio de longe, que sente saudade, indignado com o estado de coisas e que, diante dessa cidade e do peso da sua história, ele propõe uma nova desordem.