@ tainah negreiros

sábado, 4 de julho de 2015

mamãe preparou pra mim um quarto pleno de flores
papai cuida muito bem delas lá fora

segunda-feira, 29 de junho de 2015

o incrível relevo das coisas no ar
ainda hoje tocam o coração. quanto a mim, acredito
que uma árvore, um rochedo se perfilando sobre o céu
foram deuses desde o começo

C. P.

domingo, 28 de junho de 2015


 você olhava a oliveira, a oliveira na trilha que percorreu
todos os dias durante anos e chega o dia
em que o tédio o abandona.
e você acaricia o velho tronco com o olhar,
quase como se ele fosse um amigo reencontrado
que lhe dissesse exatamente
a única palavra
que seu coração esperava.

Pavese

domingo, 21 de junho de 2015

terça-feira, 16 de junho de 2015



Nos filmes de Lana e Andy Wachowskis as pessoas voam. Não um vôo banal, mas de uma leveza depois de um enfrentamento do próprio destino, de um mundo que precisa ser reinventado nesse percurso.
Sense8 segue a proposta dos cineastas de reencantamento do mundo através da crença nas conexões. Conexões que se dão apesar e pelas diferenças. Uma proposta mística, esotérica, espiritual, cara de pau, de entonações diferentes e nem sempre igualmente agradáveis, mas que carregam a beleza desse compromisso da dupla com suas questões. Lana e Andy se interessam pelas dores e alegrias de ser o que se é e em como isso nos conecta uns aos outros nos encontros, ou através de um chamado distante que também pode ser ouvido.

Lana e Andy são do tipo que acreditam.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Não. Ninguem sabe de ninguém os mundos
que cada um habita.

Falo-te. Nunca te disse.
em longas falas digo-te coisas tão particulares
de cada um de nós
de tudo em volta.
Das pequenas misérias diárias
dos pequenos nadas
do livro que se leu.
Do que se sente
do que se pressente
do que dói.
das coisas diárias...

(Maria Keil, Árvore de Domingo)

um sinal de que terminei algum afazer importante que atrapalha as distrações
é que as prosas poéticas sobem na pilha
e começo também a mexer nas tintas.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

"cause I'll never prove that my motives were pure"

domingo, 24 de maio de 2015

quinta-feira, 14 de maio de 2015


  (Retrato de uma garota do fim dos anos sessenta em Bruxelas, 1994)

sábado, 9 de maio de 2015

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Esta é a idéia: "ir para casa, descansar". É uma palavra ou uma frase muito simples: "Vou para casa", "descansar".

terça-feira, 21 de abril de 2015

Varda pintora


Os movimentos e gestos de Mona sugerem a composição. A cor é sua presença e também seu rastro.

terça-feira, 14 de abril de 2015

segunda-feira, 6 de abril de 2015

(Quatro aventuras de Mirabelle e Reinette, 1987)

"O problema que nos ocupa não é o de uma consciência maior ou menor dos meios de expressão, nem da passagem de um estado ingênuo a um estado intelectual: trata-se de opor uma arte que estaria fechada sobre si mesma, que se contempla a si mesma, e uma arte que contemplaria o mundo."

"A arte não muda a natureza. Em algum momento Cézanne, Picasso ou Matisse nos deram olhos todos novos."

Rohmer

domingo, 5 de abril de 2015

(Família de malabaristas, 1905)

sábado, 4 de abril de 2015

põe alegria em meu corpo.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Pintores, a cidade, a paisagem e as coisas


Em "O Pintor e a Cidade", Manoel de Oliveira procurou olhar para o Porto buscando as cores e formas que Antônio Cruz colocava em suas aquarelas. Quando pensamos no filme, as cores da cidade coincidem com as cores da paleta de Cruz. A memória do filme é a de um vermelho ocre convivendo com várias tonalidades de cinza e marrom. Olhamos tudo como pintores, ou como quem procura por algo que o artista descobre. Ele também aparece, também faz parte do cenário composto por barcos, águas, casas, barracos e crianças, muitas delas.
Danièle Huillet e Jean Marie Straub também se lançam sobre a paisagem e os quadros em seu filme "Cézanne", em que  impressiona e comove  a persistência em entender o olhar do pintor que leva até seu gesto e como, através dele, alcança a materialidade desejada.  Huillet e Straub explicitam essa sua intencionalidade em tudo, no rigor e consistência da fala de Danièle  (ela fala como Cézanne pinta? No filme as palavras são como volumosas quantidades de tinta que colorem o que existe e deve ser visto), nos planos que nos dão o tempo que se deve olhar para uma paisagem em busca de suas cores, volumes, ou em busca de seu excesso de presente físico e do passado que fazemos ou não fazemos idéia. Aquilo que Danièle recita a certa altura como sendo a "psicologia da terra".

segunda-feira, 23 de março de 2015

Reencontrar as crianças, ser abraçada por elas, às vezes por mais de uma ou duas delas ao mesmo tempo, ouvir coisas muito carinhosas e se sentir pronta pro ano.

sábado, 21 de março de 2015

terça-feira, 10 de março de 2015


"O pintor alemão Hans Puumann, rememorando seus tempos como discípulo e aliado de Matisse, conta que "alguns colegas" do ateliê de Matisse foram perguntar ao pintor "de que cor eram os chapéu e o vestido que aquela mulher estava usando, tão incrivelmente berrantes. E ele, exasperado, respondeu: 'São pretos, claro'"

"É evidente que existem coisas no quadro que nunca vão se converter em equivalentes de partes familiares do mundo - notadamente o fundo azul e verde de cada lado do rosto -, mas existem ínúmeras outras que se convertem ou se converteriam, se deixássemos."

"É claro que Matisse usou a "mesma" cor ou levíssimas variantes para coisas totalmente diferentes. Ele espera que percebamos isso (...) O pintor quer que vejamos a sutileza, e também a intencionalidade, de suas variações sobre um tema, ou como ele enxerga diferentes coisas à mesma luz; mas espera ainda que notemos o salto decisivo que foge da escala estabelecida."

"Perguntamo-nos agora, considerando esse ponto de vista, o que acontece com a "expressão" da sra. Matisse. Que palavra a definiria? Cautela? Tensão? Reprovação? Desconfiança? Desdém? É possível ver um toque de desgosto, ou ansiedade, ou até um leve medo? Ou ela está apenas distante? Em algum lugar, sozinha.
Sabemos, por dados biográficos, que Amélie Parayre acabara de passar por uma situação terrível, publicamente. Protegia-se com uma tremenda couraça, mas talvez, compreensivelmente, sempre à espera do pior. Hilary Spurling cita uma frase sua, dita anos mais tarde: "Estou em meu elemento quando a casa pega fogo."

"Tudo é extramamente moderno. Olhos, lábios, e sobrancelhas de Parayre são como os imagino em Dora, de Freud, ou em Ursula Bragwyn, ou em Maggier Verver. 'Fique firme, minha pobre querida", diz Maggie a si mesma enquanto a situação piora, ' sem terror demais -, e tudo se resolverá de alguma forma'.

"A profundidade será encontrada na superficialidade, a espontaneidade rebrotará da fria técnica. A abertura e a vulnerabilidade absolutas só serão descobertas por um processo de rigoroso mascaramento e grande formalidade. De certo modo, o sentimento e a razão são, nos momentos cruciais de Matisse, estranhamente a mesma coisa. Um determina a forma do outro. No modernismo, a Moda está sempre recitando o grande verso de Leopardi. Dona Morte, diz ela, Dona Morte. O laranja é azul, e o rosa é verde mar. E todas as cores do arco-íris são pretas."

(T.J Clark. A consciência de Matisse. Disponível na coletânea Matisse: Imaginação, Erotismo, Visão decorativa, organizada por Sônia Salzstein)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

um tanto frágil
alérgica
cheiro a flor por teimosia
beijo a flor porque é a linguagem que conheço

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015


Fazer um quadro há de parecer tão lógico quanto construir uma casa, se seguirmos bons princípios. O lado humano não deve nos preocupar. Ou temos ou não temos. E se temos, ele sempre haverá de colorir a obra.

(Matisse, Escritos e reflexões sobre arte)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Um toque do teu dedo no tambor liberta todos os sons e inicia a nova harmonia.
Um passo teu é a mobilização dos novos homens em sua marcha.
Se viras o rosto: o novo amor! Se o rosto se volta - o novo amor!

(Rimbaud, Iluminações)
Chego em casa, ligo a tv e dou sorte de estar passando a exata cena adorável de "A flor do meu segredo" em que Leo (Marisa Paredes) chega em casa depois de ver a apresentação de dança da sua empregada Blanca e do filho dela Antonio. Ele que a acompanha, entra com ela em casa, confessa o roubo, inocenta a mãe e Leo, depois de todos os dias muito doloridos, encara aquela confissão como algo para se agarrar, como momento para dar a ele e ao mundo toda sua leveza. Que bela expressão Marisa Parede nos dá!

Arrancar todo esse despojamento do grande melodrama não é fácil nem na vida nem no cinema. Levo comigo. 

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015


"Mas depois ele voltou para o seu trabalho como se nada tivesse acontecido." Esta é uma observação que nos é familiar de uma plenitude confusa de narrativas antigas, embora talvez não ocorra em nenhuma.

(Kafka, Aforismos de Zurau)

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Dei um beijo na testa da minha amiga e a deixei com seu bebê, exausta. Ela que já não dormia há alguns dias e mesmo assim parecia digna de uma bela pintura em seu fundo azul. Me afastei e agora peço de longe para que o sono dela e dele venham juntos.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Collioure Interior, Matisse (1905)

sábado, 17 de janeiro de 2015

"Você, diga o nome de algumas coisas bonitas"


A imensa beleza do que nunca tinha se tornado cinema.

As pronfudezas dos oceanos foram filmadas. O mais alto do céu e outros planetas também. Toda sorte de mais belos gestos pudemos ver. Essas crianças, homens e mulheres e aquelas paredes não.

(ou what is really beautiful to us?)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015


"o verão cantava sobre a sua rocha preferida
quando tu me apareceste,

o verão cantava afastado de nós
que éramos silêncio,
simpatia,
liberdade triste"

("Fastos", de René Char- em Furor e Mistério)

sábado, 3 de janeiro de 2015

nossa amizade é a nuvem branca preferida do sol.
nossa amizade é uma casca livre. não pode ser separada
das proezas do nosso coração.
ali onde o espírito não desenraiza mas replanta e cuida,
nasço. ali aonde começa a infância do povo, amo.
século XX: o homem desceu ao máximo. as mulheres
se iluminavam e se deslocavam rapidamente num
superpatamar a que só nossos olhos tinham acesso.
a uma rosa me uno.

(Trecho de "Os Companheiros no jardim", de René Char)