@ tainah negreiros

sexta-feira, 16 de março de 2007

Eu e o Cinema


Gosto do Cinema que me faz lembrar que a vida carece de sentido.


Se a vida não faz sentido, porque exigir isso do cinema? Fico feliz quando vejo um filme que reconhece que tudo anda tão estranho, perdido e sem razão. Fico feliz quando o que se filma é frágil, imperfeito, incerto como o humano. Não gosto de truques, não gosto, não gosto, não gosto em lado nenhum do que me cerca, sempre fui avessa a eles e isso também sempre me irritou ao me deparar com o que se propõe a ser uma obra de arte, e mais que isso, no que se propõe a ser honesto. Quando falo de Cinema, não quero que ele tente me enganar ou seja espertinho, isso não me interessa. Gosto do Cinema franco. É lindo demais ver a imagem sendo usada não só porque é possível, mas pela impossibilidade da palavra. É como se o diretor dissesse: “ Isso que tenho só é possível de ser mostrado, não dito”. E eu fico com vontade de chorar com isso, ah, eu fico. Penso em um filme dos Dardenne e até hoje tento falar com alguns sobre o sentimento do homem que se afeiçoa ao menino que matou seu filho há anos atrás, o homem sente e ao mesmo tempo se odeia por isso. Como diabos explicar esse homem? Não há razão pra ele, nem pro menino, ainda uma criança. Ainda na escrita desse texto, penso em Tarkovski e no nariz que sangra, na casa que queima e na mulher que chora. Penso em Lucrecia e na menina que deseja, à despeito de tudo. Nem sempre eu soube o que se passava ali com aqueles homens, mas o cinema no seu som, silêncio e significado me deixa chegar mais perto. E eu chego, apesar do que me é estranho. Isso porque o cinema é humano, é produto do humano e eu aqui no auge dessa humanidade dolorosa e incerta não sei direito onde ir. Por que os personagens devem saber? Porque suas ações ou falta delas não podem ser tão chatas e tolas como a vida é? Por que o homem não pode de repente criar um estranho carinho pelo menino que matou seu filho, se ele também era uma criança? Porque a menina ao invés de sentir asco não pode sim sentir compaixão e carinho pelo homem que a molestou? Por que o homem anda, anda, recolhe-se em seu silêncio apesar de tudo que vê e sente? A vida não é feita de respostas exatas, não, não é. O Cinema que por vezes me encanta, é o que também não as tem. O diretor filma suas perguntas, não suas respostas prontas em um mundo que não tem como responder.
Pode parecer carência, mas o Cinema pra mim nunca foi mera distração, quase nunca não. É experiência, encantamento, companhia frente a toda estranheza. Esse Cinema que tanto me emociona, é como um colo.


4 comentários:

Lucy, disse...

é uma paixão que me escolheu,e diferente das outras tão efêmeras eu realmente preciso dessa.
ê moça das palavras bonitas!

;)


:**

Anônimo disse...

eu nunca tinha pensando nessa coisa da imagem. e é verdade que às vezes um olhar, no cinema, diz mais do que mil palavras. e é como a vida, né; mas a vida é chata e o cinema não. o cinema consegue ser belo à partir da tristeza; mas na realidade, é tudo triste e chato.


e eu gostei desse blog (:

Anônimo disse...

Eu amo o cinema em todas as suas formas e tipos. Adoro quando retrata a vida, adoro quando ele a transforma em uma caricatura bizarra e adoro quando ele subverte a realidade.

O cinema desenha meus pensamentos mais malucos... E eu adoro :)

Unknown disse...

Mta coisa aqui eu já sabia, já escutei da tua boca mermo.
Mas é bom ler isso, entender um pouco tbm o que tu sempre me diz...

Te amo. ;*********