@ tainah negreiros

domingo, 4 de outubro de 2009

Difícil ser funcionário

Difícil ser funcionário
nesta segunda-feira
eu te telefono, Carlos
pedindo conselho

Não é lá fora o dia
que me deixa assim,
cinemas, avenidas,
E outros afazeres.

É a dor das coisas,
o luto desta mesa;
é o regimento proibindo
assovios, versos e flores.

Eu nunca suspeitara
tanta roupa preta;
tão pouco essas palavras -
funcionárias sem amor

Carlos, há uma máquina
que nunca escreve cartas;
há uma garrafa de tinta
que nunca bebeu álcool.

E os arquivos, Carlos,
as caixas de papéis:
túmulos para todos
os tamanhos de meu corpo.

Não me sinto correto
de gravata de cor,
e na cabeça uma moça
em forma de lembrança

Não encontro a palavra
que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...

Carlos, dessa náusea
como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
pedindo conselho

(de joão cabral pra drummond)

2 comentários:

Mari disse...

ele vai colher a flor, vai saber, inventar como, isso é incrível.

lisa disse...

Nossa não conhecia esse poema. Maravilhoso!