@ tainah negreiros

sábado, 1 de maio de 2010

Nave Maria


o filme de coutinho deve ser sobre a linguagem
sobre a linguagem e sobre a experiência extrema
sobre como a vivência se mostra através do esforço de dizer

me lembrou uma cena de um filme de antonioni muito bonito
em que o diretor personagem diz se sentir fadigado por filmar a cena que a mulher acaba de lhe descrever
em que ela lhe diz que esfaqueou o pai 13 vezes
e ele cuidadoso, preocupado, filmaria a cena do assassinato com somente três facadas
a fadiga, diz o personagem de john malkovich
é que ele se dá conta que a "verdade" da cena esteja justamente naquele número improvável

ou naquilo que talvez uma atriz não traria à tona
ou que traria de outra maneira, nova, mas também real
num olhar que nunca se viu, mas que também já se viu muito
porque ser ator deve ser isso, conhecer o rosto e olhar de muita gente
e buscar neles uma verdade
mesmo que no falsear.
mas é lindo que o filme é sobre mulheres, sobre as mulheres atrizes misturadas com as mulheres
as mulheres o quê?
a mulheres que viveram, que contam
as atrizes também viveram e contam, buscam referências suas
chegam a referências suas sem querer
é tanta coisa...
a mulher que chora com "procurando nemo"
e vai tentar mais uma, duas, três vezes com a filha
nem que seja a última coisa que ela vá fazer
todas as perdas
todos os partos.

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