As férias estão assim: com vozes de Cabo Verde e Guiné Bissau pelo apartamento.
Eu e meu pai refletimos nestas tardes sobre eles, que inventaram a alegria.
E eu penso com tristeza - como submeter os inventores a tanta dor, como tentar tirar isso deles com tanto empenho?
Ou como diz a carta do viajante:
"Ele me falou da corrida para embarcar na Ilha do Fogo em Cabo Verde. Há quanto eles estão ali à espera do barco? Pacientes como pedras, mas prontos para avançar. É um povo de errantes, de navegantes, de viajantes pelo mundo, formado de mestiçagem, nestes rochedos entre pausas dos portugueses entre colônias. Povo do nada, povo do vazio, povo vertical."
Talvez isso dê conta das tantas vezes em que Cesária canta a palavra "sodade". Como se a gente desse conta disso, a palavra querendo dar conta do que se sente.. Como lembrar da sede? Como contar da saudade?
Quando terminar meu trabalho sobre o Marker vou ter que agradecer também a ela. Como faz mais sentido escrever sobre "Sans Soleil" ouvindo Nha Cancera Ka tem Medida, ouvindo Petit Pays.. E a meu pai, por ter me mostrado Cesária há muito tempo, e por dizer nessas tardes como num suspiro tão franco que "tem que ir a Cabo Verde".
Um comentário:
Descobri a minha africanidade através de Cesária Évora, Rui Sangara, Américo Gomes, Eneida Marta, Camilo Domingos (já falecido), Dulce Neves, Belinda Lima e Mayara Andrade. Essas são as vozes da África.
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