"Se abrirmos as pessoas encontraremos paisagens, se me abrirem encontrarão uma praia"
É com a emoção de ter visto ainda esta tarde "As praias de Agnès" de Agnès Varda que me arrisco em um rabisco sobre ele, sobre esse enorme e importante filme que melhorou esse dia.
O filme é sobre o trabalho doloroso e bonito de recolhimento das memórias, dos seus fragmentos, dessa composição de um quebra cabeça sempre incompleto - aqui usando a metáfora que ela propõe no filme. Mas não basta falar de organizar, unir, é preciso falar e mostrar quem se juntou e se junta a ela para construir essas memórias e reconstruí-las, a memória e sua recriação são para diretora também uma experiência em comunidade, de partilha. Emocionante ver as pessoas, como em um filme Hirokazu Kore-eda, recompondo as paisagens e os detalhes de que ela lembra. Trata-se de um revisitar constituinte, fruto desses encontros, desses contatos, das cores dos pintores que inspirarão este ou aquele filme, do feminismo nascido no cotidiano, na sua raiva revelada nos gestos de Sandrine Bonnaire, no amor que não passa.
Chorei, chorei de alegria porque talvez esse seja o drama maior, o drama da memória que lida com a morte e com a eternidade, com as paisagens de nossa memória, e com o mistério dessa vida vivida junto com as outras pessoas.
Resta agradecer a ela pelo filme esperançoso e por expor tão sinceramente suas paisagens interiores.
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