@ tainah negreiros

terça-feira, 19 de junho de 2012

Sexta feira à Noite




Acompanhar a obra de Claire Denis é fazer uma investigação sobre as superfícies, uma experiência radical com a pele, os corpos e os movimentos daqueles que ela decide filmar. A sua concepção passa pela dança, como vemos em "Bom Trabalho" e o constante balé que culmina na fascinante sequência final com Denis Lavant nos mostrando que o contrário de morrer é dançar; pela integridade do corpo, ou do olhar sempre que Alex Descas aparece na tela em qualquer um de seus filmes; pela forma como as pessoas se movem em um romance, a proximidade que a diretora promove desde os envolvimentos juvenis e intensos de "U.S Go Home", às fantasias do casal de "O Intruso", ou no reencontro violento e sensual dos personagens de Descas e Beatrice Dalle em "Noites sem dormir.
Em "Vendredi Soir", que só vi hoje, é um encontro romântico em meio a um dia de um grande congestionamento em Paris que traz o estranhamento necessário a cidade para que Denis a filme como deseja, concebendo-a a partir dessas sensações, dessas vivências dos lugares, da passagem do tempo na rua lotada, carros parados, pessoas que passam, aqueles que querem e rejeitam carona, e também na rua vazia no dia seguinte na belíssima cena em que Laure corre por ela.
"Vendredi Soir" revela uma série de excelentes escolhas que compõe esse conjunto hipnótico (hipnose que já vinhamos sentindo desde o começo, mas que com a aproximação dos dois, até o beijo, percebermos que já sentíamos). E acredito que esse estado de atenção e de latência que a diretora constrói reside para além da câmera colada, detalhada, às vezes desorientada nessa aproximação, ou da montagem minuciosa que acompanha os movimentos, mas também na pouca informação, sabemos quase nada deles, sabemos que ela está de mudança pra morar com alguém. Dele não sabemos nada a não ser que ela lhe dá carona. Os mínimos gestos desses dois desconhecidos, em meio a essa rua lotada de Paris, despertam a atenção em cada detalhe, entre o sumiço dele, entre a música que ela ouve na rádio, a mão dele que segura o cigarro, a dela que muda a estação, indica a direção a seguir, gestos, olhares, toques que nos levam a maravilhosa sequência do beijo em uma perfeição de montagem que compõe uma representação radical de proximidade, contato, de quase fusão de dois em um.

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