@ tainah negreiros

sábado, 3 de junho de 2017

Rohmer, nosso aliado

 (Quatro Aventuras de Mirabelle e Reinette, 1987)

Os jovens indecisos e os adultos imaturos de Rohmer são intrigantes, estão intrigados, intrigam. A intriga, em Rohmer, é um pretexto, porque cada narrativa é apenas uma versão da história. As personagens vivem iludidas, mas não é grave, porque o cinema é também uma ilusão e, de algum modo, a vida também é, ou pelo menos o modo como conduzimos as nossas vidas. Eric Rohmer sempre pareceu uma figura paterna, ou pelo menos um irmão mais velho, mesmo em relação aos seus companheiros de geração. Mas foi até ao fim um aliado dos jovens, fascinado com a teatralidade com que os jovens fazem dos factos consumados pretensas estratégias intencionais.
Nos meus Rohmers favoritos, e Rohmer é o meu cineasta favorito, há sempre epifanias fugazes e contraditórias, agridoces: Haydée intempestivamente abandonada no meio de uma estrada, o joelho de Claire quase como se não fosse erótico, o católico que descobre a loura Françoise na missa, Gaspard fingindo que não tem saída com as mulheres, François que descobre o namorado da sua quase namorada, Marion chocada ao perceber que ser adulto é viver com a mentira. Estas personagens não crescem: evoluem. Não aprendem: sujeitam-se. E mesmo se acham que seduzem, talvez seja apenas como em Kierkegaard: "Ele não seduz, deseja, e esse desejo tem um efeito sedutor."
Também isso ensinou Eric Rohmer, nosso aliado.

Pedro Mexia

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