Ainda sobre vetores, sobre história do Brasil, memória e a lei da gravidade, penso numa relação entre "Temporada" e "Café com Canela", como dois filmes que apontam pra frente, no que diz respeito ao não poder se dar o luxo de serem nostálgicos. A nostalgia no Brasil é um privilégio aristocrata que Glenda, Ary e André não podem ter e não querem. Tem memória, afeto, recuperação, sobrevivência mas a manutenção de qualquer coisa não lhes interessa (digo tudo isso pensando em Aquarius, filme que penso como vetor no sentido oposto, com disfarce de progressismo mas no fundo o verbo que se instaura nele é de manter manter e manter). É preciso ir pra frente, radicalmente modificar e é através da relação com as perdas que esses movimentos se operam, é no trauma, na persistência do chão que o seguir é mobilizado. Os dois filmes terminam em uma mesma direção. Um carro pegando no tranco e um aprender a andar de bicicleta, um reaprender, um reerguer duplicado, esperançoso e vivo. Não é um "pra frente brasil" nacionalista ditatorial, é um seguir em frente apesar da vida e apesar do Brasil.
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