@ tainah negreiros

sábado, 9 de dezembro de 2023

a árvore

 Hoje quis tanto pode tocar meu pai que segurei com as mãos dois galhos secos de ipê como se fossem ele. Ele amava ver os ipês florescerem e mudarem a paisagem. 

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

o radialista

queria poder alcançar meu pai em uma frequência
como quem sintoniza uma rádio

terça-feira, 3 de outubro de 2023

easy
my man and me
we could rest and remain here, easily
we are tested and pained by
what's beyond our bed

we're blessed and sustained by
what is not said

no one knows what is coming
or who will harvest what we have sown
or how I've been dulling and dumbing
in the service of the heart alone

or how I am worn to the bone by the river
and in the river, made of light
I'm your little life-giver
I will give my life


sexta-feira, 22 de setembro de 2023

La Belle Noiseuse (Jacques Rivette, 1991)

 


Os imensos filmes alteram completamente a cinética e a percepção de quem os vê logo em seguida. Depois de ver "La Belle Noiseuse" tive vontade de comer algo gostoso e belo ao mesmo tempo. No mesmo dia em que vi "La Belle Noiseuse" eu comi figo fresco pela primeira vez e fiz uma torta de figo adocicada e salgada. Fiz bem devagar como que afetada pelo estado de integridade do gesto, do ímpeto e da construção que Jacques Rivette opera em parceria com Jane Birkin, Emmanuelle Béart, Michel Piccoli, William Lubtchansky, Emmanuel de Chauvigny, Christine Laurent, Pascal Bonitzer e Igor Stravinski. Com esse filme há sempre a sensação de enormidade das capacidades do cinema. O que o tempo e maneira do filme faz com o gesto do artista? O que o tempo e a construção fazem com a percepção que temos do corpo de Marianne e de Marianne além do corpo? E em quem ela, para além do corpo pintado visto, contorcido e retratado, vai se transformar menos e mais encoberta fisicamente e metaforicamente? Como através do que constrói Rivette conseguimos intuir a força, vulnerabilidade e crueldade de Liz e tudo que está implicado no encontro e na possível perda de Fenhofer? Como, em meio a centralidade do gesto e da criação de Fenhofer, Rivette sublinha uma conexão e os olhares das mulheres sempre retratadas, as trocas misteriosas entre elas. Que tipo de coisas elas criam? O que elas criam ali cria também para o cinema? É um assombro o que o filme descortina e não descortina jamais.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

há um momento após desviares o olhar
em que te esqueces de onde estás

pois tens vivido, parece,
noutro lado, no silêncio do céu nocturno.
 
deixaste de estar aqui no mundo.
Estás num lugar diferente,
um lugar onde a vida humana não tem sentido.
 
não és uma criatura num corpo.
Existes como as estrelas existem,
participando na sua quietude, na sua imensidão.
 
até que volta a estar no mundo.
de noite, numa colina fria,
a desmontar o telescópio.
 
só depois percebes
que não é falsa a imagem
mas a relação.
 
vês de novo como cada coisa
fica tão longe de todas as outras.

(Telescópio, de Louise Gluck)
 

domingo, 18 de junho de 2023

Salve-se Quem Puder (A Vida), de Jean Luc Godard (1979)

 






"Salve-se Quem Puder" é uma outra forma de dizer capitalismo. "A vida", ou qualquer coisa muito muito bonita e fora da ordem no meio desse estado de coisas, vem de Godard.