@ tainah negreiros

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

'da beleza das imagens que não se encerram'


Gosto de filmes de amor. Ponto.

Eu nem sei por que digo isso assim, agora. É algo fácil de descobrir sobre mim. Muito fácil. Basta olhar pra alguma lista de filmes minha, ou ainda, olhar pra mim enquanto vejo um deles.

Começo assim pra falar de um belo filme de amor. O filme começa cheio de verde. Engraçado, quando penso nele, lembro sempre do verde do grande campo que o diretor filma. Há um homem, um homem já maduro, há junto com ele uma criança, um menino tão pequeno e inquieto que de cara já fica difícil não querer olhar pra ele, sempre. Há também uma árvore, uma árvore e o verde ao redor. Não um verde alto, verde de grama, do grande campo mostrado em plano aberto. Pronto, assim começa o filme de nome O Sacrifício(Offret), dirigido pelo mestre Andrei Tarkovsky.


Saudades dele.


Sinceramente, eu não tenho muitas certezas sobre esse filme para falar. Os filmes de Tarkovsky me deixam cheia de incertezas e talvez por isso sejam tão bons. Eu sinto. Você sente e é isso. As imagens arrebatam e a respiração fica difícil e assim ele fica, fica. Torna-se eterno.
Talvez eu devesse deixar de ser tonta e parar de falar sobre ele. Mas eu bem que queria, mas ele é bonito de mais pra eu ficar aqui calada. Como ficar calada se há o homem, o menino, a mulher, a casa? Há uma casa de cores mortas, sóbria. Não podia esquecer da casa.

E há Tarkovsky.

Em cada fotograma, ele e sua despedida desse mundo. Ele morreu logo após as filmagens, sem tempo para ver o trabalho realizado. Dedicou-o a seu filho.. Ele fala de seu filho e de sua esperança. Esperança essa que quem tem um filho no mundo tem que ter, antes que enlouqueça.

Há ainda a temática da ruptura, da necessidade de mudar. O homem descobre que tem que pôr tudo abaixo pra começar de novo. Destruir pra acontecer, pra criar, nascer uma vida nova. Essa vida que por enquanto só seu filho traz. Parece simplista, mas esse filme é sobre fazer as coisas. Mas trata-se de Tarkovsky, então é por meios bem pouco óbvios que chegaremos a uma conclusão como essa. Depois de algumas imagens não nos sair da cabeça. Depois que elas nos tomam, bem depois, enfim, posso falar de algo como isso.


É, trata-se de um filme de amor. É o do amor do seu diretor ao seu filho, à natureza, à vida. Seu filme de amor à vida que iria deixar.


Inesquecível.

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