Dias bonitos em que eu aprendi a ver o que já conhecia com outros olhos, despidos de tudo.
Fui a Serra, fui a cidade da minha infância com outras pessoas, pessoas queridas, outras nem tanto, mas fui. A cidade está estranha, as pessoas já não são mais tão conhecidas e eu, assim como ela, mudo. Mudo pra construir novas lembranças pra ficar. Não que as novas cubram aquelas de menina que brinca na rua. Essas eu ainda adoro. Mas quero mais, sempre quis.
Agora me pego com saudade, sinto falta da natureza, do clima de encontro, de pessoas de toda parte e das canções que ouvi um novo amigo cantar. Canções de Elomar, Xangai e Caetano em um dia de chuva. Sinto falta do céu mais estrelado que já vi, de cortar o coração de tão lindo. Não, não esqueço.
Penso na mata, na chuva batendo nas pedras. Penso na natureza.
MATANÇA
(Jatobá/ Xangai)
Cipó caboclo tá subindo na virola
Chegou a hora do pinheiro balançar
Sentir o cheiro do mato da imburana
Descansar morrer de sono na sombra da barriguda
De nada vale tanto esforço do meu canto
Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar
Tal mata Atlântica e a próxima Amazônica
Arvoredos seculares impossível replantar
Que triste sina teve cedro nosso primo
Desde de menino que eu nem gosto de falar
Depois de tanto sofrimento seu destino
Virou tamborete mesa cadeira balcão de bar
Quem por acaso ouviu falar da sucupira
Parece até mentira que o jacarandá
Antes de virar poltrona porta armário
Mora no dicionário vida eterna milenar
Quem hoje é vivo corre perigo
E os inimigos do verde da sombra, o ar
Que se respira e a clorofilaDas matas virgens destruídas vão lembrar
Que quando chegar a hora
É certo que não demora
Não chame Nossa Senhora
Só quem pode nos salvar é
Caviúna, cerejeira, baraúna
Imbuia, pau-d'arco, solva
Juazeiro e jatobá
Gonçalo-alves, paraíba, itaúba
Louro, ipê, paracaúba
Peroba, massaranduba
Carvalho, mogno, canela, imbuzeiro
Catuaba, janaúba, aroeira, araribá
Pau-fero, anjico amargoso, gameleira
Andiroba, copaíba, pau-brasil, jequitibá
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