@ tainah negreiros

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

a paixão de dizer

Esse homem, ou mulher, está grávido de muita gente. Gente que sai por seus poros. Assim mostram, em figuras de barro, os índios dos Novo México, o narrador, o que conta a memória, coletiva, está todo brotado de pessoinhas.


A noite/1

Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.

A fome/2

Um sistema de desvínculo: Boi sozinho se lambe melhor... O próximo, o outro, não é seu irmão, nem seu amante. O outro é competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada. O sistema, que não dá o de comer, tampouco dá de amar: condena muitos a fome de pão e muitos mais à fome de abraços.


Dizem as paredes/1

No setor infantil da Feira do Livro, em Bogotá: O Loucóptero é muito veloz, mais muito lento.

Na avenida costeira de Montevidéu, frente do rio-mar: Um homem alado prefere a noite.

Na saída de Santiago de Cuba: Como gasto paredes lembrando de você! E na altura de Valparaíso: eu nos amo.


A noite/2

- Arranque, senhora, as roupas e as dúvidas. Dispa- me, dispa-me.


A noite/3

Eu adormeço às margens de uma mulher, eu adormeço às margens de um abismo.


(eduardo galeano)

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