@ tainah negreiros

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

"Habemus Papam" de Nanni Moretti

O papa de Nanni Moretti precisa ir pra rua.
Quantas vezes não pensamos no quanto a religião ou todo o falatório católico esteve e está distante da vida? O filme de Nanni é sobre este isolamento, alienação e mais que isso: sobre o peso de algo que não interessa a este homem, sobre decidir se voltar para humanidade, no que há de mundano nela, e não para o que a "santidade" poderia lhe oferecer.
Levar seu papa pra rua, depois de adentrar em todo misterioso e cômico ritual católico, é uma proeza que nos traz o Nanni, na comicidade de tudo aquilo, o que temos é uma rara beleza de descoberta da cidade, das pessoas. Trata-se de uma lindíssima recusa de poder, de centro e de escolha pela vida, pelo miúdo dela. Do homem, que apesar da recusa, não se retira de dizer de uma necessidade de mudança, da força que exige essa necessidade de mudança, e como sabemos, ao acompanhá-lo nesta andança pela cidade, como se ela fosse uma coisa toda nova, que o que é preciso é se voltar para o cotidiano, e que a religião, qualquer que seja ela, perceba tudo isto.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

notas sobre rohmer



Já escrevi uma vez aqui no blog da sensação que sempre tenho depois de um filme do rohmer, de querer sair andando, andando até que algo aconteça. Ontem fiquei pensando nisso, e fiquei pensando na crença na câmera e na construção que tem para filmar como filma, para que algo deliciosamente aconteça nos seus filmes. É um anti-cinismo comovente, é ainda poder acreditar na matéria vida sem constrangimento.
Acontecer parece ser um verbo importante para falar do cinema dele, porque o que veremos, e o que é comovente não é nada grande ou que cause impressão óbvia, o que se dá, como na mulher do Conto de Inverno que vai vivendo a vida com o desejo, sem saber pra onde ir, mas que mesmo desorientada, quando reencontra o homem do verão vai arrumando suas coisas, entrando e saindo do quarto como se algo tivesse dado certo mesmo, vai achando um jeito logo de seguir, vai vivendo. Toda a cena do reencontro no final do filme é reveladora do que há de mais singular neste cinema, em todo o despojamento que na verdade é fruto de um cuidado que se estabelece nessa relação com o real, para que as coisas mais simples e bonitas surjam, como é o olhar de reencontro, a surpresa da criança que reconhece o pai, a loucura dela que mentiu seu endereço e a tranquilidade amorosa do homem com as novas notícias. É difícil falar do que é maravilhoso de sentir neste filme de Rohmer, conseguir que vejamos isso, todas estas pequenas explosões da vida, é muito, é demais.