Já escrevi uma vez aqui no blog da sensação que sempre tenho depois de um filme do rohmer, de querer sair andando, andando até que algo aconteça. Ontem fiquei pensando nisso, e fiquei pensando na crença na câmera e na construção que tem para filmar como filma, para que algo deliciosamente aconteça nos seus filmes. É um anti-cinismo comovente, é ainda poder acreditar na matéria vida sem constrangimento.
Acontecer parece ser um verbo importante para falar do cinema dele, porque o que veremos, e o que é comovente não é nada grande ou que cause impressão óbvia, o que se dá, como na mulher do Conto de Inverno que vai vivendo a vida com o desejo, sem saber pra onde ir, mas que mesmo desorientada, quando reencontra o homem do verão vai arrumando suas coisas, entrando e saindo do quarto como se algo tivesse dado certo mesmo, vai achando um jeito logo de seguir, vai vivendo. Toda a cena do reencontro no final do filme é reveladora do que há de mais singular neste cinema, em todo o despojamento que na verdade é fruto de um cuidado que se estabelece nessa relação com o real, para que as coisas mais simples e bonitas surjam, como é o olhar de reencontro, a surpresa da criança que reconhece o pai, a loucura dela que mentiu seu endereço e a tranquilidade amorosa do homem com as novas notícias. É difícil falar do que é maravilhoso de sentir neste filme de Rohmer, conseguir que vejamos isso, todas estas pequenas explosões da vida, é muito, é demais.
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