Já li textos
interessantíssimos (escritos por homens) sobre Death Proof, mas nunca tive a oportunidade de ler nenhum
escrito por um mulher. Então está aqui a tentativa de preencher
essa lacuna.
Soube recentemente que
Tarantino considera o filme um de seus piores, então vou juntá-lo
ao grupo de homens que eu diria que são até sabidos mas não
entenderam o ponto, a relevância desse filme e muito
menos sua importância de gênero.
Devo começar descrevendo
que tive vontade de dar um grito quando saí da sala de cinema mas, tratando de sua relevância, o grito passará a ter sentido.
Está
mais do que claro que os melhores filmes de Tarantino são os
dedicados à potência feminina, principalmente em um mundo de
violência. Sobram poucos que não tratem disso, ou seja, não há
filmes ruins. Destacaria Jackie Brown e Kill Bill II pela sua força
dramática e pela delicadeza como desembocam para os seus finais. Os
filmes extremos vão se tornando filmes de amor, ambos com essas
mulheres se afastando após o “trabalho feito”. Duas melancólicas
despedidas. É, Tarantino é um romântico, e vê nessa figuras
femininas a possibilidade de construir o território dos seus desejos
que é um cinema em que elas dominem, se sobreponham, em que não
haja nenhum tipo de sujeição. Quem escreve a história são elas.
Isso, claro, até Django, que é uma outra questão, em que há um
outro sujeito que deva reescrever certas linhas tristes e sem glória
do nosso passado.
Mas voltando a Death
Proof, a questão é que toda homenagem ao cinema dito menor, grindhouse, tudo o que vemos através da linguagem, de toda aquela
diversão, todo o conteúdo fetichista declarado do diretor, é um
pretexto para que Tarantino nos vingue. Porque a sensação que Death
Proof deixa pra mim é de um dia diferente: Sabe aquele safado que te
diz uma grosseria na rua esperando que você não vá fazer nada?
Pois é, Death Proof é sobre isso, é sobre essa praga cotidiana
revertida, recriada. O cinema é o modo mais curto de nos conceder
esse poder ou simplesmente de nos vingar. Ou seja, trata-se de uma
excessiva humanidade posta na tela, a humanidade dos nossos desejos.
Por isso, não interessa, Taranta, se agora você está achando esse
filme menor, ele é enorme. Beajos!