Rivette estava certo mas há muito mais além do que ele dizia sobre Showgirls. Aqui alguns apontamentos sobre o filme:
- Só existem conexões entre mulheres sem passado nesse filme e, mesmo sem conhecer o passado umas das outras, elas se vinculam.
- O filme existe no seu foco em Nomi por causa da primeira ruptura radical com uma figura masculina e a partir da primeira conexão radical com uma mulher. Uma coisa impressionante e bela em uma terra de homens miseráveis todos.
- Showgirls foi vendido a partir de sua "sensualidade" e "ousadia" mas é justamente sobre não haver nada sexy nele que reside sua importância. É um anti-prazer que talvez interessasse à Laura Mulvey, é uma alegria quase impossível nesse cenário, ou uma possibilidade luminosa única através das conversas que as mulheres travam e até mesmo de suas disputas que resultam em uma coisa qualquer completamente ambígua e nova, como é o caso de Nomi e Crystal.
- Toda corporealidade na esfera do sexual é nula ou agressiva. Toda corporealidade é significativa para nos mostrar a tensão presente em Nomi entre adequação e inadequação, vencendo sempre a última.
- Toda corporealidade é pulsante quando entre duas mulheres, em várias instâncias, na maioria das vezes, muito mais afetiva que sexual.
- A vulgaridade é algo que existe antes no mundo, em Las Vegas, e não do filme. A vulgaridade interessa o filme, as existências em meio a essa vulgaridade onipresente constituem o filme. O impossível belo naquele cenário só é possível em alguma persistência qualquer errante de Nomi.
- Impossível não pensar no Verhoeven viria a fazer em Elle tantos anos depois. Mais uma vez um filme sobre estupro, mais uma vez um filme em que nenhum homem sequer presta.
- Mais uma vez um filme radical, calcado nas ambivalências de suas protagonistas mas nunca ambivalente quando na potência do vínculo genuíno entre mulheres e do gigantesco cinema que nasce disso.
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