@ tainah negreiros

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

a sensação mais urgente que estas tardes quentes da cidade parecem trazer é uma certa angústia e uma certa solidão sobre não conseguir falar do tamanho disso. Dizer que esteve quente não é suficiente. Não sei mesmo se é possível levar alguém que não sentiu perto do que esse calor significa. Hoje entontei, pensei que o calor na verdade me empurrava para longe e mais uma vez quis ir. Preciso da serenidade que esse calor não deixa chegar, não deixa, não deixa. Talvez seja mais químico do que eu possa imaginar, talvez seja só a loucura de viver aqui mesmo.
Eu vinha pela janela do ônibus reparando na forma como as pessoas vinham à sua maneira vivendo, sobrevivendo sob o sol. Quando Caetano cantou é como se soubesse desse sol, precisa ter olhos firmes.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Gosto tanto da cadela que mora na frente de casa. Ela é uma alegria muito nossa.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Del otro lado de la noche
la espera su nombre,
su subrepticio anhelo de vivir,
¡del otro lado de la noche!
Algo llora en el aire,
los sonidos diseñan el alba.
Ella piensa en la eternidad.

domingo, 12 de outubro de 2008

Vi um filme hoje que era pra ser sobre Bob dylan, e de alguma forma é. Mas o que me tocou foi o fato do filme ser sobre acordar um e ser belamente possível ser outro ao anoitecer. As past, present and future all in the same room.
Tantas essas vezes em que quando dizem algo sobre nós e não há uma sineta que nos toque dentro, que realmente alcance. O filme de Todd Haynes é uma compreensão disso, um menino com os olhos cheios de sol, um astro, um andarilho, um assanhado em corpo de mulher e com olhos de fumaça. É sobre como por vezes as pessoas não fazem idéia do que você viveu e de como o que você viveu e vive te muda sempre. Se há uma forma de biografia, se há uma forma de mostrar como podemos ser multifacetados, flexíveis, mutantes e estáticos às vezes, essa me pareceu a mais justa. Acho que porque permite deixar faltar, não mostrar, dizer que não é tudo e que aquilo que se mostra em si não responde somente. Não responde. É só uma compreensão.
É como quando Caetano canta 'you don't know me', é dessa incompreensão do traduzir, do interpretar que encerra e é tão injusto. Tão injusto encerrar, engessar alguém. Enquanto tentar compreender com o pouco que se tem, tentar compreender, sentir com o pouco que se tem a oferecer é comovente, é lindo.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

esses dias
depois dela
não posso falar por mim
desse dizer dela
como quem sabe da fumaça
e dessas noites que não me servem

tão poderoso notar
como a mulher morta
sabe desse nome
colado em mim
vivo

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Sombra de los días a venir

Mañana
me vestirán con cenizas al alba,
me llenarán la boca de flores,
Aprenderé a dormir
en la memoria de un muro,
en la respiración
de un animal que sueña.





alejandra pizarnik...

domingo, 5 de outubro de 2008


tu haces de mi vida
esta cerimonia demasiado pura

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

subo correndo as escadas de casa
não quero ouvir as notícias na tv
não quero perder a esperança que me foi dada pelos alunos hoje
nan goldin

" um interesse pelo misterioso elemento de desatenção que colore nossas experiências mais triviais."

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

cheiro do jasmim que floresceu
na área em frente a casa
e o que é mais íntimo
é o desejo
de que ele também pudesse sentir

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

a noite se enche com as palavras de joão
o cabral
de melo neto
ele e seu telefone ao carlos
por um conselho
num dia desses
daqueles que só o bom poeta
transforma em beleza
acende o dia por dentro

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Hoje fui ver uma peça na praça chamada Moliére Imaginário, nem quero falar da peça, algo mambembe, divertido e colorido como é tão bonito de ver da rua, coloriu a praça toda, tão bonito. E teve uma coisa que moça que toca disse no final, sobre a arte que salva da morte, disso também queria falar, mas nem vou. Mas queria era guardar o que é frágil demais pra se perder, e que às vezes se perde rápido, o que muda com o tempo quando a gente começa a lembrar. Queria salvar a alegria que senti e o sorriso que dei quando começou a tocar a linda canção final e tudo já tinha acontecido.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

papete encheu teresina de maranhão
e a noite de alegria

terça-feira, 26 de agosto de 2008

hoje andei por um caminho que aqui a gente constuma fazer junto
a beleza da vida está mesmo em partilhar

domingo, 24 de agosto de 2008

o dia vai morrer aberto em mim.

sábado, 9 de agosto de 2008

uma pausa
às preces ao tempo jamais ditas.

segunda-feira, 21 de julho de 2008


"A primeira imagem de que ele me falou foi a de três crianças em uma estrada na Islândia, em 1965. Ele disse que para ele era a imagem da felicidade. Ele tentara várias vezes associá-la a outras imagens mas não conseguira. Ele me escreveu: 'Preciso colocá-la sozinha no início de um filme, com uma tarja preta. Se não virem a felicidade na imagem, ao menos verão o preto.' "


A primeira imagem de que ele me falou foi a de três crianças em uma estrada na Islândia
imagem que também é dele
agora nossa

depois entre albúns em que eu tentava compreender sua história
refazendo seus passos ainda pequeno
quase como uma tentativa boba
de entender nosso encontro
anos depois

é uma forma de esperança
eu sei
como se naquelas pequenas linhas de todo dia
a gente também se encontrasse
dessas coisas miúdas todas que fazem da vida
encontro

e há essa imagem que salva como a de Marker
agora minha
também nossa
uma imagem de felicidade
verde

sábado, 7 de junho de 2008


quando amanhece
ele é tão indefeso
tanto
que saio do meu lugar e fico um pouco mãe

quando amanhece
e ele de olhos miúdos ainda dorme
sou pietá

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Esses dias descubro o quanto é encantador escrever pra alcançar os pequenos, essa tentativa encantadora de escrever algo bonito da forma mais simples. Já tinha percebido isso com Clarice, com Manoel... conheci esses dias Roseana Murray, uma mulher cheia de encantos com as palavras e de bonitos nomes pra livros, bonitos nomes pra livros bonitos. Hoje depois do almoço fiquei lendo alguns com Arthur e colorindo a tarde. É das coisas que mais gosto de fazer.


Felicidade

Pinto as unhas de azul,
as mãos, a voz
o coração
e na mala aberta arrumo ventos,
pensamentos, e o mapa azul da felicidade
feito com as pequenas linhas de todo dia:
parto montada na aurora
como num cavalo respingado de luz.

r. m

segunda-feira, 26 de maio de 2008

segunda-feira, 12 de maio de 2008


E essa noite Chris Marker nos encontra com seu Sans Soleil.

uma imagem de felicidade
verde
uma carta ao mundo
enquanto a gente acompanha a caminhada
quietos, encolhidos no sofá
se tivessem me dito da sede
se lembrar fosse o contrário de esquecer
mas nesse reescrever
nesse debruçar
uma compreensão

terça-feira, 6 de maio de 2008

domingo, 20 de abril de 2008


"Mais alguns segundos e a negra vai cantar. Isso parece inevitável, tão forte é a necessidade dessa música: nada pode interrompê-la, nada que venha desse tempo no qual o mundo despencou; ela cessará por si mesma no momento exato. Se amo essa bela voz é sobretudo por isso: não é nem por seu volume, nem por sua tristeza; é porque ela é o acontecimento que tantas notas prepararam, de tão longe, morrendo para que ela possa nascer



Sartre ainda sem saber
que falava da Nico
da Nina
sobre quando cantar
é acontecer
é acontecer no peito da gente

terça-feira, 8 de abril de 2008

às vezes me sinto como da primeira vez
quando me perguntava
como passei tanto tempo sem conversar com alguém como você?
o que eu conversava antes de você?
como me mexia?
você que me ouve mesmo a distância
desse sentir demais do último mês
um sentir demais, demais
pra quem eu diria o quanto acho minha avó linda
e minha mãe linda por parecer com minha vó
e ser toda outra
como eu saberia que sonharia ser tão boa companheira
ser tão boa mãe
como elas
senão contigo
não, não sei bem como era pensar o futuro sem você
agora que sonho a vida
contigo

sexta-feira, 4 de abril de 2008

depois da chuva

não, não queria sair
estou exposta
a vida é imensa
e eu estou em carne viva

quarta-feira, 2 de abril de 2008

mais chuva
e hoje tenho pele em flor

domingo, 30 de março de 2008

domingo, 23 de março de 2008

e nessas noites sinto tanta saudade do meu avô, do meu tio
e quando vem forte, menos serena que de costume
é que torço por uma quebra de dimensão
que o carinho, que o zelo
que as preces alcancem

sábado, 22 de março de 2008

há um ano a vida me preparava pra te encontrar
enquanto eu ouvia nico cantá-la
ainda sem saber
que ela também cantava a sua




isso me faz acreditar em tanta mágica
algumas canções soam
como andar descalço na terra
soam como coragem

sexta-feira, 21 de março de 2008

sei de ser tomada por uma certa selvageria
como se eu fosse só a saudade que sinto
mas depois de inquieta
como manhã que desanoitece
o corpo guarda



é de salvar pra encontro

quarta-feira, 19 de março de 2008

e hoje estou com uma vontade possuída de conseguir tocar bem
tocar bem bonita e correta no violão uma canção que gosto muito

terça-feira, 18 de março de 2008

marni horwitz


sobre viver também em sonho
pra poder tocar