@ tainah negreiros

segunda-feira, 17 de março de 2008

então conhecer é ser invadido?





é que às vezes é como se eu fosse parir
e os passos, o toque, o olhar
isso que diz sobre zelo, cuidado
sobre delicadeza

como arrumar as frutas na fruteira
e olhar da janela

o mundo que se mostra como algo a ser preparado
como terra, como chão que recebe
como os passos de um pequeno na calçada

sexta-feira, 7 de março de 2008


é que as rugas de gullar tanto lhe acrescentam
a pele também reforça a palavra
já cheia de vida
numa conversa franca
delicadeza de quem sente


sim, josé
também sinto tanta falta dela

quinta-feira, 6 de março de 2008

e eu tenho que falar de novo de manoel
devo parece repetitiva
mas é que eu estou com as duas mãos no rosto
me perguntando o que fazer com tanto encontro
é muito encontro, meu deus
àrvores, vagalumes, pássaros, rios, homens
e meninos
e meninos

posso fazer disso um delírio
e posso
e vale!
os encontros me renovam
me recomeçam
todo dia é de poder ser árvore, limo, pássaro, pedra
todo dia é de ser grão de areia
passarinho
esse deve ser o melhor ser
ser grilo quebrando silêncio da noite

quarta-feira, 5 de março de 2008

segunda-feira, 3 de março de 2008

sobre noite com sonho




não há juízo
nem redenção
nós somos o que é santo

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008


às vezes tenho medo da melancolia que a distância dos passarinhos pode me trazer
vivo os passarinhos como nunca
e penso num plano
eu e ele numa casa que por perto hajam os pequenos
pra gente ampliar todo dia
é que às vezes a vida empurra pra apequenar
mas os passarinhos
nos ampliam e ampliam

me ensinaram isso de crescer pro que é pequeno em tamanho
como eu gostei disso
tanto tanto
é um romantismo que sempre tive e manoel me lembra
amar tanto arthur me traz
essa beleza de divinar a vida

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

todo dia eu berro
e desconfio que seja pela incompreensão do tamanho de certas coisas
a noite
a náusea
a falta
a pequena esperança verde que entra no quarto e muda tudo





e o amor por alguém que não pari nem me criou
como é grande, meu deus...

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Que a importância de uma coisa há de ser medida
pelo encantamento que a coisa produza em nós
Que a boneca de trapos que abre e fecha os olhinhos azuis nas mãos de uma criança
é mais importante pra ela que a Codilheira dos Andes
O olhar segura a palavra na gente
Se admirava de como um grilo sozinho
um só pequeno grilo
podia desmontar o silêncio de uma noite




esse Manoel de Barros...

sábado, 16 de fevereiro de 2008


meninos, meninas
olhos que acompanham
um movimentar pelo pátio
e o meu advinhar
queria falar deles
mas sempre ameaço demonstrar muita emoção
e me acanho de que algo se perca
numa escrita despreparada, inquieta
então vou falar só do querer falar
o conseguir não é de agora

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008


Não sou muito boa nisso de ir dormir. É que às vezes a cabeça não descansa e eu penso sobre tudo, ou eu fico com medo de um sonho ruim. Noites assustadas que eu amplio pra ser criança. Mas hoje acho que sei o que fazer até que os olhos fiquem pesados, vou pensar nos poemas que li hoje, tantos, tão encantadores. Pensarei então em manoel, gullar, drummond, quintana, uns pelo primeiro e outros pelo segundo nome como companhia, à sua maneira de serem íntimos meus.


E ele me disse algo bonito pra pensar em noites longas como essa. bonito como sonho bom, bonito que é de guardar segredo.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
















"o olhar segura a palavra na gente"
Manoel de Barros

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A proteção pungente

Meu pai fez aniversário esse mês, e já há alguns dias fico muito emocionada de pensar nele, na sua idade, na sua vida, desejos, insatisfações e esperanças, muitas delas relacionadas a mim. Por vezes, muitas vezes eu sou sua crença e fé. Procurei no dia esse texto de Clarice que me fez chorar há um certo tempo por dizer tanto sobre mim em relação a ele. E dizer também sobre essa noites que eu demoro a dormir e velo mais do que nunca por quem amo.



"Ela não podia olhar para seu pai quando ele tinha uma alegria. Por que ele, o forte e o amargo, ficava nessas horas todo inocente. E tão desarmado. Oh Deus, ele esquecia que era mortal. E obrigava a ela, uma criança a arcar com o peso da responsabilidade de saber que os nossos prazeres mais ingênuos e mais animais também morrem. Nesses instantes em que ele esquecia que ia morrer, ele a tornava a Pietá, à mãe do homem."

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

água viva

marni horwitz




sobre a espera de que os signos e alegorias deixem de sê-los somente
pra ser vida
um esforço também meu
um jeito de não se esgotar
um não morrer como desafio


No descomeço era o verbo
Só depois que veio o delírio do verbo
o delírio do verbo estava no começo, lá
onde criança diz: escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz do poeta, que é a voz
de fazer nascimentos -
o verbo tem que pegar o delírio.


Manoel de Barros

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo
deixar o seu amor crescer e ser muito tranquilo

sobre não ter o que dizer diante certas coisas da vida
certas coisas maiores que nós
sobre gemido, grunido, grito, som
sobre ultrapassar o que diríamos arte
e ser eterno por ser vida, existência
isto que é sobre um irresistível desejo
de confissão

Enriquieta e Fellini.

domingo, 27 de janeiro de 2008

e eu sinto uma saudade de João Vale hoje à noite.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Entre cantigas de abraçar, estradar, ou daquelas feita para voar, dessas mesmo, cantigas de Elomar e seu elo não feito, recusado em troca da terra seca. E eu penso na terra e nos homens, mulheres e crianças sobre a terra, dentro da terra ou mais perto e empoeirados dela que outros. Amores retirantes, idas a feira, lamentos, celebrações e lampejos de luz de madrugada. As canções de Elomar são das coisas mais lindas que já ouvi na vida e até demorei pra dizer isso aqui.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008


"se ao menos fosse dor que ela sentisse e não esses sonhos sem sossego, esses intermináveis e exaustivos sonhos, ele poderia procurar algum alívio para ela. Assim pensava Pedro Páramo, a vista fixa em Susana, acompanhando cada um de seus movimentos. O que aconteceria se ela também apagasse quando apagasse a chama daquela débil luz com que ele a via?"

a mulher de outro mundo
o corpo que se contorce
e um não saber
não saber lidar mais com a alma
grito em resposta ao corpo
silêncio em resposta ao grito
chamado, pedido
prece
e o sono
que vem como compaixão

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008


ainda sobre sonhos
neles eu amo como na vida
mas entre distâncias transpostas
palavras ditas
beijos e abraços dados
e a lembrança de que sim, são vida
em outra instância
noutra elevação
numa graça
numa doçura única
da sua falta de razão

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Vivência


Essa moças de Schiele me lembram esses sonhos sujos que o título do blog se refere. Sonhos que são sujos na verdade nem por sê-los, é quase um jeito bobo de dizer o que achariam os outros se soubessem deles, se soubessem da sua falta de razão. A moça de Schiele me lembra a mulher que penso agora, a mulher nua pela casa numa procura, num zelo e numa naturalidade de nudez que vai desconcertá-lo. Ele que a ama com uma naturalidade de amor que a comove. A mulher ri atrás do rosto sério e do medo das incertezas. Ela ri longamente com ele, riem com toda a boca e olhos. Os móveis não estão no lugar e o peito deles às vezes é um, às vezes encostados, às vezes não. Ela o ama. A cama depois de arrumada, pronta pra se amarrotar na noite sem sono. Ela o ama. A luz da cozinha ficou ligada, eles estão cheios de pensamentos. Ele a ama. E eles notam que sim, eles sabem da vida.

sábado, 5 de janeiro de 2008

schiele.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008


belezas são coisas acesas por dentro

sábado, 29 de dezembro de 2007

O céu aqui é mais bonito e não é por culpa do céu, a gente sabe.

Não posso pensar em tudo, mas penso, penso em tudo e quem jamais entenderia.
Sei que algo me lembra a poeira que Shepard teria visto, e o amor que teria sentido, e isso de alguma forma sorri pra mim, nos sorriu aquela noite.
Penso no deserto, em desertar pra encontrar o que é anterior, o que é inevitável e é bonito. Ontem eu vi o deserto do alto, o chão era laranja e o céu é daqueles que distingue bem o que é azul do branco.

uma voz ao telefone
e um nome
que nessas noites do norte
é a minha prece

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007



O amor natural. Ou o amor segundo Apichatpong Weerasethakul.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Os olhos dele são meu milagre.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007


Uma nova vida por vir.
Um homem
Uma mulher
uma procura.




Algo pra escrever, que escrevo pra ser imagem. Acabei voltando a isso depois de uma conversa nossa entre papéis e carinhos na cama bagunçada. É sobre o que disse, mas é também sobre luz que invade a casa, sobre vida

sobre nós.

domingo, 16 de dezembro de 2007

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

sobre ser passarinho


isso de céu enorme ao fundo
e pousar tranquilo

sobre estar longe do mal
do mal do mundo
se afinal o mal existir

isso sobre o bem
sobre ser o bem com asa












sobre passarinhar no fim do dia
agora eu sei

domingo, 2 de dezembro de 2007