@ tainah negreiros
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
domingo, 7 de dezembro de 2014
Heaven's Gate
Ella vai à casa de Nate. Enquanto ele e os amigos tocam e conversam distraídos, ela chora levemente. É só isso: um rosto que se vira, uma lágrima que é quase nada e é tudo.
sábado, 22 de novembro de 2014
"Ó a morna manhã de fevereiro. O vento sul importuno veio reavivar nossas lembranças de indigentes absurdos, nossa jovem miséria. (...) Não! Não passaremos o verão nesse país mesquinho onde nada mais seremos que noivos orfãos. Quero que este braço teso não arraste mais uma imagem querida."
"um amor desesperado e um crime bonito uivando na lama da rua."
(Rimbaud, Iluminações)
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
sábado, 15 de novembro de 2014
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Amar a atriz, amar os atores
É quase como se pudêssemos ouvir Resnais dizer: "Como é bom estar vivo! Como é bom ter se debruçado sobre essas histórias! Como é bom ter conhecido essas adoráveis pessoas!"
sábado, 1 de novembro de 2014
Revista Sur: Acredita ser necessária a educação sexual?
Alejandra Pizarnik: De certo, pois o sexual é árduo.
R.S: Pelo fato de ser mulher, encontrou impedimentos em sua carreira? Tem tido que lutar? Contra o quê e contra quem?
A. P: Ainda que ser mulher não me impeça de escrever, creio que vale a pena partir de uma lucidez exasperada. Deste modo, afirmo que ter nascido mulher é uma desgraça, como é ser judeu, ser pobre, ser negro, ser homossexual, ser poeta, ser argentino, etc.. Claro que o importante é aquilo que fazemos com as nossas desgraças.
R.S: Onde acredita que está o problema mais urgente da mulher?
A.P: Os conflitos da mulher não residem em um só problema possível de assinalar. Neste caso, e em outros, o lema segue sendo: "Changer la vie."
(Trecho da reportagem feita com mulheres trabalhadoras e intelectuais argentinas realizada pela revista Sur e publicada em setembro de 1970)
Alejandra Pizarnik: De certo, pois o sexual é árduo.
R.S: Pelo fato de ser mulher, encontrou impedimentos em sua carreira? Tem tido que lutar? Contra o quê e contra quem?
A. P: Ainda que ser mulher não me impeça de escrever, creio que vale a pena partir de uma lucidez exasperada. Deste modo, afirmo que ter nascido mulher é uma desgraça, como é ser judeu, ser pobre, ser negro, ser homossexual, ser poeta, ser argentino, etc.. Claro que o importante é aquilo que fazemos com as nossas desgraças.
R.S: Onde acredita que está o problema mais urgente da mulher?
A.P: Os conflitos da mulher não residem em um só problema possível de assinalar. Neste caso, e em outros, o lema segue sendo: "Changer la vie."
(Trecho da reportagem feita com mulheres trabalhadoras e intelectuais argentinas realizada pela revista Sur e publicada em setembro de 1970)
Revi "A Vila" agora pouco na tv e fiquei me perguntando como pude esquecer a perplexidade do guarda florestal. Perplexidade que não parece ser somente por descobrir que uma jovem cega vive na floresta mas por alguma coisa a mais, alguma coisa maravilhosa qualquer dessas que povoam o cinema do Shyamalan. Talvez por ternura que depois vai ser revelada no gesto de proteção, ou mesmo um sentimento de manutenção da doçura que ele teria visto em Ivy ou somente o desejo de ser exatamente o que não se espera, de fazer jus à crença dela que ouviu "bondade na sua voz e não esperava isso da cidade".
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
domingo, 26 de outubro de 2014
sábado, 25 de outubro de 2014
(...) Ah esos días en que mi lenguaje es barroco y empleo frases interminables para sugerir palavras que se niegan a ser dichas por mí! Si al menos se tratara de tartamudez. Pero no; nadie se da cuenta. Lo curioso es que cuando ello me sucede con alguien a quien quiero me inquieto tanto que redoblo mi amabilidad y mi afección. Como se debiera darle sustitutos de la palabra que no digo. Recién, por ejemplo, tuve deseos de decirle a D.: Si es verdad lo que me dice tantas veces, se es verdad que usted se muere de deseos de acostarse conmigo, venga, venga ahora mismo. Tal vez, con el lenguaje del cuerpo le hubiera dado algo equivalente a la palabra écrire. Elle me sucedió una vez. Una vez me acosté con un pintor italiano porque no pude decirle: "Amo a esta persona". En cambio, respondí a sus pedidos con una vaga serie de imágenes recargadas y ambiguas y es así como terminamos en la cama sólo porque no pude decir la frase que pensaba. Terminé también llorando en sus brazos, acariciándo como si lo hubiera ofendido mortalmente, y pensando, mientras lo acariciaba, que en verdad no lo compensaba mucho, que en verdade yo le quedaba debiendo.
Alejandra Pizarnik
Alejandra Pizarnik
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
É preciso que Romaine saia de cena para que possamos observar melhor os dois homens. A saída dela permite que vejamos a tristeza deles, vivida à maneira de cada um. Quando se encontram no apartamento de Marcel, a tristeza de um passa a sufocar a do outro. Como esquecer de Marcel dizendo "estou infeliz, estou muito infeliz" como quem pede para ficar sozinho, como quem implora para viver mais um dia daquela dor sem ser confrontado? Ele parece resistir em contar a verdade não por desonestidade mas pela intimidade do vivido. Aquilo foi dele e dela e, para ele, assim deve permanecer.
A dor do marido Pierre, antes já vista enquanto ele gritava por "Maniche, Maniche" na cama, vai se mostrando através do entendimento do que se passava, da flor, do amor, da necessidade de seguir em frente. E que maravilha de movimentação dos dois em cena! Quase um balé de perseguição e fuga, de sufocamento e respiro, de dúvida e compaixão. Marcel busca se refugiar. Mente para fugir, ficar sozinho e vivenciar o que tinha acabado de descobrir sobre ela na conversa. Linda linda mentira! Linda linda solidão! Sua fala final foi das coisas mais impressionantes que já vi no cinema, um doloroso e belo entendimento.
Passamos a ver os dois prestes a tocar, enquadrados como Romaine e Marcel anteriormente. Está tudo lá e não está: a música, as rosas, a caderneta, a carta e Romaine. Romaine é uma ausência impossível.
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Melô
Romaine sorri para Marcel na mesa, lhe faz uma visita, toca uma canção com ele, olha nos olhos dele sempre que pode, toca nele sempre que pode também, dança, dorme com ele, se espalha apaixonada por todos os lugares do apartamento dele, atira-se no chão, treme-se inteira nos braços dele por paixão e também por uma imensa tristeza.
Ela enlouquece, não quer fazer mal ao marido que ela ama, o sacode para que ele, quem sabe, perceba que ela também ama outro. Deseja o melhor pra ele na vida. A certa altura da sua confusão, com ele no quarto doente, ela dá cambalhotas. Uma, duas, três. É um ato de desespero mas é também um ato de amor. À la Romaine, à la Sabine.
Romaine é também Maniche.
Maniche, segundo Romaine, é nada, menos que nada.
terça-feira, 21 de outubro de 2014
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Estrela Cadente, de Luís Miñarro
Temos o rei e suas distrações estando nesse lugar que não lhe cabe, nesse lugar que ele inocentemente acreditou, no início, ser definido simplesmente pela sua palavras - pelas suas belas palavras por "justiça, liberdade e por uma melhor distribuição da riqueza". Um progressista na vida pública, um cara sujeito às paixões na vida privada. A vida pública de um rei é impossibilidade para o sujeito vegetariano, apaixonado, distraído, interessado pela beleza, pela dança, pelas possibilidades da vida que se mostram entre um gesto ou outro de delicadeza e entre um sonho e outro extravagante dele. Seus sonhos só comprovam o que já suspeitávamos: o rei quer belas coisas para sua vida muito profundamente. O rei quer futilidades, quer belezas, seus empregados em casa também, sua mulher deseja coisas belíssima para ele e para o país. Como disse, os desejos todos são amplamente manifestados.
Miñarro nos deu uma filme deliciosamente ao contrário e o contrário da monarquia como conhecemos é uma beleza. Nessa corte e nesse pequeno universo toda proximidade é permitida, todo beijo é longo e com paixão.
sábado, 18 de outubro de 2014
"Diferente de uma cineasta como Marguerite Duras que é assombrada pela relação homem-mulher, pelo amor louco e que escreveu belíssimas histórias de amor, Agnès Varda se dedica a filmar a mulher sem homem. Seus filmes são povoados de solidão das mulheres: solidão de Cléo - a cantora Cléo de 5 às 7 tem câncer e não pode partilhar de sua ansiedade com seu amante; solidão da mulher de Documenteur, traduzida pelos longos planos silenciosos, da decoração sóbria, das luzes azuladas, o apartamento praticamente vazio, a praia deserta; solidão de Mary-Jane com seus dois filhos.. solidão de Mona, a andarilha. "
Voyage em pays féminin, de Marie-Claude Tigoulet
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
terça-feira, 14 de outubro de 2014
domingo, 12 de outubro de 2014
terça-feira, 30 de setembro de 2014
A Religiosa Portuguesa
Eugène Green leva Julie à Lisboa para filmar uma experiência religiosa. A atriz interpreta uma freira e, entre uma filmagem e outra, percorre a cidade em busca do que dela brota. É um filme sobre se encontrar a partir da paisagem, do outro, da cultura alheia mas também sobre ir se bastando.
Toda a ambiguidade do olhar de Julie filmada por Green parece uma procura por captar uma experiência religiosa, uma descoberta, um ou outro milagre que surge do encontro. O fado toca, as lágrimas vem, o olhar de Julie está cheio de passado, cheio de homens que talvez ela tenha tido que esquecer e de experiências passageiras. Lisboa também é lugar para pensar nisso mas, para Green, é lugar para que milagres aconteçam. Julie encontra o menino Vasco, descortina a cidade, experimenta o destino e a experiência religiosa que Green buscava parece mesmo ser uma experiência de amor.
Toda a ambiguidade do olhar de Julie filmada por Green parece uma procura por captar uma experiência religiosa, uma descoberta, um ou outro milagre que surge do encontro. O fado toca, as lágrimas vem, o olhar de Julie está cheio de passado, cheio de homens que talvez ela tenha tido que esquecer e de experiências passageiras. Lisboa também é lugar para pensar nisso mas, para Green, é lugar para que milagres aconteçam. Julie encontra o menino Vasco, descortina a cidade, experimenta o destino e a experiência religiosa que Green buscava parece mesmo ser uma experiência de amor.
domingo, 28 de setembro de 2014
Ervas Daninhas
Há quatro anos lá estávamos nós no cinema, um tanto desconcertados e um outro bom tanto amorosos, apaixonados.
Esses dias revi "Ervas Daninhas" inteirinho na tv, mesmo tendo o dvd em casa, concentrada, paralisada e mais uma vez apaixonada. Há certos filmes que nos confrontam diretamente sobre complexidade de filmar o ser humano e sobre o modo como alguns diretores se despem de tudo, ou se vestem de muita verdade e empenho para fazê-lo.
Não vou falar de muita coisa mas de duas, ou três. Primeiro de uma cena que me intrigou mais que antes. Quando a polícia vai à casa de George vemos sua reação desesperada e triste ao saber que Marguerite, com muita razão, pediu aos policiais que falassem com ele após as abordagens insanas que ele vinha lhe fazendo. George está cercado e toda sua tristeza e inadequação parecem confrontá-lo junto daqueles questionamentos. Lucidez não lhe sobra, solidão sim, e o seu modo de agir por querer muito muito alguém para conversar lhe leva de volta ao excesso, ao delírio e até a violência que já havia antes cometido e nao sabemos ao certo o que foi.
É mais um daqueles belos filmes de "mal de natureza", de ser o que se é, de agir muito sincera e impulsivamente sobre isso mas também é o cinema de um esforço para ser alguma outra coisa, ser também alguém melhor. Filmar isso é das coisas mais comoventes, esse esforço contra a natureza e contra a repetição cotidiana de ser o que se é, que muitas vezes magoa mas muitas vezes evidencia uma grande beleza de ser.
Claro que vou falar também de Sabine Azèma e de sua Marguerite. É uma câmera que ama? Um diretor que ama? Uma mulher que ama? O que é tudo aquilo? De onde vem tanta ternura? Talvez da mulher também solitária mas mais bem resolvida que decide se interessar pelo homem estranho de que deveria fugir. A mulher que se interessa por ele e se interessa também pela mulher dele. A mulher vestida como uma super heroína prestes a salvar qualquer um do mais puro desespero cotidiano. A mulher sem subterfúgio. A mulher que faz algumas pausas necessárias quando se trata de assuntos do coração. Marguerite e seu cabelo assanhado vermelho, seu casaco verde, seu casaco lilás e sua paixão por aviões e por seus mecânicos. Incrível. Queria que o Resnais pudesse me ouvir enquanto digo que também a amo.
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Uma Oração
"Minha boca pronunciou e pronunciará milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou. Posso dar coragem, que não tenho; posso dar a esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não serão revelados."
Jorge Luís Borges
Jorge Luís Borges
domingo, 21 de setembro de 2014
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Planeta Vênus
Muito já se falou sobre o cinema de Catherine Breillat ser dedicado à sexualidade feminina. Não sou exatamente uma conhecedora de sua obra para falar dela por inteiro mas está claro, em "Para minha irmã" e "Sex is Comedy", que o desejo das mulheres é questão. Aspecto que, de início, já revela um elemento interessante de subversão. O desejo feminino ( e a falta dele) é esmiuçado em suas possibilidades prazerosas e doloridas. Em "Para minha irmã", temos a sexualidade da mulher que também é desejada, a irmã mais velha Elena; e da jovem Anais, gorda, à sombra da irmã, entre gestos e outros de juventude e solidão, como na magnífica cena da jovem na piscina encenando sozinha dois encontros de amor enquanto beija a barra de ferro na piscina.
O filme vai da falta de escolha de Anais em partilhar as descobertas sexuais da irmã, da dor que isso lhe provoca, até seu delírio por uma experiência radical semelhante. Só "delírio" pode definir a sequência final do filme. Seu tom de sonho e de desejo profundo revela um elemento discutível da obra de Breillat sobre sua compreensão do desejo feminino, ao mesmo tempo que nos lembramos que o desejo feminino é mais de um e pode ser, muitas vezes, sombrio.
O que se revela discutível e um discurso perigoso sobre o desejo feminino em "Para minha irmã" me parece muito bem resolvido em "Sex is Comedy". No filme de 2002, a diretora Jeanne está às voltas com sua equipe para filmar uma cena de sexo em referência clara ao filme anterior. Nesse caminho, está em questão o lugar de mulheres e homens no set e, acima de tudo, o modo como a diretora lida com seus próprios desejos e expectativas. Encenar, reencenar, decidir por um pênis ereto de plástico, lidar com o ator irresistível e que vê no desejo uma disputa de poder, buscar a linguagem do corpo a despeito (ou em resposta) ao não dizer de algumas palavras. Em todo esse percurso, das coisas mais interessantes sobre o filme é a expressão do desejo dela como criadora e como mulher, como ele se manifesta no filme, nos seus interesses, na sua busca por um beijo juvenil demorado, ou no seu olhar que acompanha os passos de seu ator. Sua relação com os corpos e com o que eles dizem tornam o cinema única e apaixonada possibilidade para Jeanne/Breillat.
São tanto detalhes adoráveis em "Sex is Comedy", desde a relação ambígua com seus assistente, que Jeanne faz questão de descortinar, desde a atração/repulsão dela pelo personagem de Grégoire Colin, até finalmente seu olhar sobre as mulheres, da conexão que estabelece e de uma espécie de solidariedade com a mulher e suas experiências na vida e em cena. Algo que leva até a arrebatadora cena final do acalanto. É quase como se na cena final Jeanne dissesse para sua atriz, após finalmente conseguir a cena que imaginou: "eu sei, eu sei como é ser isso."
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