@ tainah negreiros
segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
faz-me lembrar
um filme do Rohmer
ou o toldo vermelho
do Joaquim Manoel
Quando penso em ti
eu esqueço o lixo
que de manhã faz barulho
à minha porta
Pareces-te com o tempo
das amendoeiras
Tens tudo a ver com
a escadaria semi-invisível
que o mágico escavou
no rochedo atlântico
Sim tu pareces o Verão
(...)
Fazes lembrar a alegria
de um risco na parede
desenhado a carvão
pela criança da manhã
É no verde dos teus olhos
que eu treino a disciplina
de uma explosão sossegada
que se vai revelando devagar
ao ritmo das estações concretas
E já agora é também no amarelo
dos teus olhos que eu descanso
da guerrilha do mundo moderno
Aqueles que nos fez esquecer
a gargalhada de David
quando derrotou o gigante
(mas olha há sempre um riso
ecoando lento na caverna)
Estamos aqui para vencer a dor
E teu rosto diário faz lembrar
a vitória do tempo sobre o tempo
Porque afinal de contas tu
te parecer muito com a promessa
de uma fé vagarosa & livre
Pareces a coragem, pareces a paz
Pareces mesmo a madrugada egípcia
sobre a qual voa um passarinho.
(Matilde Campilho)
um filme do Rohmer
ou o toldo vermelho
do Joaquim Manoel
Quando penso em ti
eu esqueço o lixo
que de manhã faz barulho
à minha porta
Pareces-te com o tempo
das amendoeiras
Tens tudo a ver com
a escadaria semi-invisível
que o mágico escavou
no rochedo atlântico
Sim tu pareces o Verão
(...)
Fazes lembrar a alegria
de um risco na parede
desenhado a carvão
pela criança da manhã
É no verde dos teus olhos
que eu treino a disciplina
de uma explosão sossegada
que se vai revelando devagar
ao ritmo das estações concretas
E já agora é também no amarelo
dos teus olhos que eu descanso
da guerrilha do mundo moderno
Aqueles que nos fez esquecer
a gargalhada de David
quando derrotou o gigante
(mas olha há sempre um riso
ecoando lento na caverna)
Estamos aqui para vencer a dor
E teu rosto diário faz lembrar
a vitória do tempo sobre o tempo
Porque afinal de contas tu
te parecer muito com a promessa
de uma fé vagarosa & livre
Pareces a coragem, pareces a paz
Pareces mesmo a madrugada egípcia
sobre a qual voa um passarinho.
(Matilde Campilho)
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Há dois dias sonho com as crianças de uma determinada turma. E elas ficariam chateadas se me vissem chamando-as de crianças no alto dos seus 13, 14 anos. O pianista, a feminista, o mágico cineasta, o mago dos efeitos especiais, a artesã, o jogador de basquete que ama Star Wars (o que terá achado ele do último filme?), o ator que também canta hardcore, o apaixonado por Chaves, o que sempre ri e ama Stranger Things, aquele que canta e desvenda mistérios de computadores, o grafiteiro, o amante de rap nacional que imita um homem velho com sotaque nordestino como ninguém, o aficcionado por tecnologia. Enquanto na minha cabeça listava cada uma dessas lembranças imediatas de cada uma das crianças, pensei na canção de Charles Aznavour. Les comedièns que diz "Viens voir les comèdiens, les musiciens, vien!". Vem ver todo essas pessoas que fazem morada no meu coração.
sábado, 16 de dezembro de 2017
Johnny Guitar
Em fuga, Johnny sacode a ponta do vestido de Vienna para apagar o fogo
é o que me chama a atenção Matthijs
depois de eu notar
que Johnny também a ajuda a ajustar um cinto
quando os dois tem que trocar as antigas roupas por novas e secas.
Vienna não precisava
Poderia salvar-se sozinha, tirar o fogo do vestido branco com as próprias mãos
ajustar o cinto reiterando a firmeza que tem
Nicholas Ray decide focar nesse detalhe por uma sabedoria de cinema
revelação de uma intimidade qualquer desses amantes
cheios de um passado que mal conhecemos
mas que fazemos ideia e nos fascina
por tudo que contem gestos como esses.
Johnny Guitar dá título ao filme e está lá para servir
Doar-se por Vienna, é o que pode fazer diante da imensidão daquela presença
Como se fosse tudo que pudesse dar para, quem sabe,
ganhar o título do filme com seu nome
Título sonoro, belo
como sua música
Ah! E sua música ele nos dá. Ela pede
Nela também o passado misterioso de amor está
Toca, Joãozinho!
sábado, 2 de dezembro de 2017
Há quinze dias Pj Harvey esteve na cidade. Ingresso caro para ver alguém que me acompanha há tantos anos em uma mudança de paleta de cores e de vigor, das duas. Entrou ainda com sol, sóbria, solene, entendi que mais do que a música, queria sua presença, entender alguma coisa dela ao vivo, de bastante perto. Senti e entendi tudo. A sua solenidade, o seu não se mover conforme a música mas conforme uma lentidão que ela própria estabeleceu antes, para o show e para si. Um rigor interessantíssimo e poderoso. Não sei nada da vida pessoal dela exceto que há muito anos deixou Nick Cave (arrasado) e hoje sua companhia em fotos é quase que somente do seu saxofone. Me parece uma daquelas mulheres sem homens (no fundo não serão todas?), pelo menos em sua vida pública mesmo que cercada deles em sua banda. Mulher fascinante. Não consegui esquecê-la desde o show, algo na sobriedade e no solene. Também na lentidão. A presença que quis eu tive. E a música também.
terça-feira, 28 de novembro de 2017
ainda não conseguimos nos decidir se o mundo é grande
ou pequeno
digo para mim mesma com as mãos abertas cobrindo o rosto
"nada é grave, nada é grave"
mas como às vezes são difíceis esses milhares de quilometros
entre a rua dona veridiana, 192
e a barrel yards blvr, 29
mas no fundo o mundo é pequeno
quando o vento,a água e a crosta terrestre se movem
pela força dos nossos desejos.
um avião suspenso no ar
uma cidade portuária banhada por água misturada a do atlântico
o mundo é pequeno porque amo você
o mundo é grande e vasto também por isso
ou pequeno
digo para mim mesma com as mãos abertas cobrindo o rosto
"nada é grave, nada é grave"
mas como às vezes são difíceis esses milhares de quilometros
entre a rua dona veridiana, 192
e a barrel yards blvr, 29
mas no fundo o mundo é pequeno
quando o vento,a água e a crosta terrestre se movem
pela força dos nossos desejos.
um avião suspenso no ar
uma cidade portuária banhada por água misturada a do atlântico
o mundo é pequeno porque amo você
o mundo é grande e vasto também por isso
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
decidimos ver filmes juntos como uma trapaça contra a distância
tenho vontade de chorar com essa bobagem imensa
que revela um desejo comum
um esforço à toa qualquer
que tem a ver com um outro gesto
o de beijar a tela
quando o que aparece é foto do outro
eu beijo
porque sou do tipo
que dá bandeira
e distribui gestos de amor
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
quarta-feira, 15 de novembro de 2017
bjork utopia
all of my mouth was kissing him
now, into the air, I am missing him
is this excess texting a blessing?
now, into the air, I am missing him
is this excess texting a blessing?
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
quarta-feira, 8 de novembro de 2017
sábado, 28 de outubro de 2017
Visages, Villages (2017)
O último filme de Agnès Varda, junto de JR, me desconcertou. Fui
distraída demais. A impressão que compartilho é que a brincadeira, a
diversão, o prazer são coisas demasiado próximas da morte. São seu
contrário mas também constituídas dessa iminência. Brincar é seríssimo,
não deve ser negligenciado. Brincar, celebrar, dançar,fazer alguém
sorrir, criar lembranças, homenagear, clichês do prazer que Varda e JR
esmiuçam e que não podemos perder de vista nunca. Há uma inserção de
estranheza bonita nas coisas e pessoas que também me interessa, pretendo
escrever com mais calma depois. Pensei imediatamente naquelxs que amo.
Quis também que vivessem esse prazer de ver esse filme e das lembranças
do primordial que ele traz.Tem o retorno a alguma fundamental, se
tivesse que chutar diria que é a alegria, apesar de tudo. Penso nas
crianças, na escola, que sabem como ninguém brincar, da seriedade e
constante urgência disso. Pensei em quem amo e no mundo todo. Viva
Varda! Obrigada!
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
Na Praia à Noite Sozinha (Hong Sang Soo, 2017)
Hong Sang Soo viveu um dos lados dessa história. Inventou a solidão do outro. Um canalha. Um acerto de contas amoroso em público é o que ele merece. A exposição dentro da exposição que já é o próprio filme. O diretor. A atriz. Ela tem nome, ela experimenta, sonha com outra vida, abandona, confronta. Younghee. Que personagem é essa? Imensa. Quanta dignidade. Dela e das que a fortalecem em seu caminho. O homem, os homens, diante de todas essas que HSS filmou viraram quase nada. Uma espécie "sem disposição pra luta", como diria Rimbaud. Que filme! Um grande feito em 2017. Exposição radical. Filme radical. Viva!
quarta-feira, 11 de outubro de 2017
em frente ao abrigo de animais
uma palavra me escapa da boca
"linda"
não tinha a ver com gracejo ou paquera
uma fuga pela boca da admiração
da general jardim à são luís
um poema inteiro na cabeça
para a moça professora
amiga
linda
porque guarda os bichos e as pessoas
leva em si também uma bela verdade coberta por jeans
uma palavra me escapa da boca
"linda"
não tinha a ver com gracejo ou paquera
uma fuga pela boca da admiração
da general jardim à são luís
um poema inteiro na cabeça
para a moça professora
amiga
linda
porque guarda os bichos e as pessoas
leva em si também uma bela verdade coberta por jeans
terça-feira, 26 de setembro de 2017
domingo, 10 de setembro de 2017
sábado, 9 de setembro de 2017
terça-feira, 5 de setembro de 2017
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
Bjork
She describes it as her “dating album”: “It’s like my Tinder album. It
is definitely about that search — and about being in love. Spending time
with a person you enjoy on every level is obviously utopia, you know? I
mean, it’s real. It’s when the dream comes real.”
sexta-feira, 4 de agosto de 2017
lost in translation
here I am
speaking a language that's not mine
trying to show me
to reach you
that's what we have now
words in english, a bit of portuguese, of french
maybe more of dutch
that language that you belong to
interests me
sergio says in the middle of the afternoon:
por não ser a língua de nenhum de vocês
é a possível
these words are what we have now
and some photographs of what we see
or how we see ourselves
in selfies, nudes, half-nudes
love gestures
what are the colors of your thoughts?
I ask myself
mine are blue and read
blue like your t-shirt
red like my heart
speaking a language that's not mine
trying to show me
to reach you
that's what we have now
words in english, a bit of portuguese, of french
maybe more of dutch
that language that you belong to
interests me
sergio says in the middle of the afternoon:
por não ser a língua de nenhum de vocês
é a possível
these words are what we have now
and some photographs of what we see
or how we see ourselves
in selfies, nudes, half-nudes
love gestures
what are the colors of your thoughts?
I ask myself
mine are blue and read
blue like your t-shirt
red like my heart
sábado, 22 de julho de 2017
terça-feira, 18 de julho de 2017
férias de julho de 2017
São Raimundo Nonato
o esforço é de não ser dolorosa
e os sorriso sem esforço algum vem
a existência de minha mãe pra mim é algo tão imenso
que se torna abstrato
uma larga escala
de amorosas tonalidades e traços
não quero ir
aprecio as frutas e as luzes
ignoro a dificuldade das duas da tarde
gosto do centro às sete da noite
e também às onze da manhã
reconsidero outras formas de vida
reconheço o silêncio azul da madrugada
agradeço, sinto a sorte fisicamente
uma criança nascida sob o signo de leão abre a nossa porta sozinha
brinca
diz nossos nomes com ternura
São Raimundo Nonato
o esforço é de não ser dolorosa
e os sorriso sem esforço algum vem
a existência de minha mãe pra mim é algo tão imenso
que se torna abstrato
uma larga escala
de amorosas tonalidades e traços
não quero ir
aprecio as frutas e as luzes
ignoro a dificuldade das duas da tarde
gosto do centro às sete da noite
e também às onze da manhã
reconsidero outras formas de vida
reconheço o silêncio azul da madrugada
agradeço, sinto a sorte fisicamente
uma criança nascida sob o signo de leão abre a nossa porta sozinha
brinca
diz nossos nomes com ternura
domingo, 16 de julho de 2017
domingo
may my heart be always be open to little
birds who are the secrets of living
whatever they sing is better than to know
and if men should not hear them men are old
may my mind stroll about hungry
and fearless and thirsty and supple
and even if it’s sunday may i be wrong
for whenever men are right they are not young
e.e cummings
birds who are the secrets of living
whatever they sing is better than to know
and if men should not hear them men are old
may my mind stroll about hungry
and fearless and thirsty and supple
and even if it’s sunday may i be wrong
for whenever men are right they are not young
e.e cummings
sexta-feira, 7 de julho de 2017
Levantei às quatro da manhã aqui em São Raimundo. Moramos no meio do mato e tive a impressão de ter ouvido o último
segundo da Hora azul. Foi interrompido por vários galos cantando longe,
numa espécie de sequência articulada. Sinto que agora experimentei todas
as recomendações de radicais experiências com a natureza que Rohmer e
Julio Verne recomendaram. Tanto o Raio Verde quanto a Hora azul aqui na
cidade em que nasci.
sábado, 1 de julho de 2017
Revi depois de anos. A banalização do amor como
sentimento e como palavra. Todo mundo se apaixona por todo mundo, fala sobre esse amor e
também magoa todo mundo por conta disso. É sobre tratar paixão como amor. Sobre o charme da indisponibilidade e da disponibilidade também. Uma loucura, desses filmes
irresistíveis de análise combinatória, do amor.
sexta-feira, 16 de junho de 2017
entender que a alegria acontece
não é tarefa fácil
senti com alguma clareza enquanto andávamos
pra cima e pra baixo de taxi
uma não distração enorme
contigo nos braços
e a cidade nova lá fora
querido,
agora você é como um gato japonês desaparecido
a partir desse momento pra mim você é como um neko japonês de braço levantado
em um santuário
não importa onde vá, inventei essa imagem próxima
para que possa torcer pelo teu bem
onde quer que esteja
não é tarefa fácil
senti com alguma clareza enquanto andávamos
pra cima e pra baixo de taxi
uma não distração enorme
contigo nos braços
e a cidade nova lá fora
querido,
agora você é como um gato japonês desaparecido
a partir desse momento pra mim você é como um neko japonês de braço levantado
em um santuário
não importa onde vá, inventei essa imagem próxima
para que possa torcer pelo teu bem
onde quer que esteja
quinta-feira, 15 de junho de 2017
terça-feira, 13 de junho de 2017
sexta-feira, 9 de junho de 2017
you told me about the gravitational waves
que elas distorcem o espaço tempo
“uma nova era na compreensão do universo”
leio no jornal
um novo momento
bastante pessoal
época das distâncias entre os corpos modificadas
em oito de junho
fomos como dois buracos negros densos
que se encontram
e se misturam
e vibram
a nossa matéria mudou
quarta-feira, 7 de junho de 2017
Matthijs
o visitante do meu mundo vem de longe
logo me deixará
mas antes
inventa situações inesquecíveis
em quartos
meios de rua
portões e beiras de calçada
me questiono se há um esforço presente ou de posteridade
é feito pra durar?
em mim dura
até porque o quarto, as ruas e os portões vão permanecer perto de mim não dele
e a falta que tão bem conheço
vai permanecer minha
logo me deixará
mas antes
inventa situações inesquecíveis
em quartos
meios de rua
portões e beiras de calçada
me questiono se há um esforço presente ou de posteridade
é feito pra durar?
em mim dura
até porque o quarto, as ruas e os portões vão permanecer perto de mim não dele
e a falta que tão bem conheço
vai permanecer minha
sábado, 3 de junho de 2017
Rohmer, nosso aliado
(Quatro Aventuras de Mirabelle e Reinette, 1987)
Os jovens indecisos e os adultos imaturos de Rohmer são intrigantes, estão intrigados, intrigam. A intriga, em Rohmer, é um pretexto, porque cada narrativa é apenas uma versão da história. As personagens vivem iludidas, mas não é grave, porque o cinema é também uma ilusão e, de algum modo, a vida também é, ou pelo menos o modo como conduzimos as nossas vidas. Eric Rohmer sempre pareceu uma figura paterna, ou pelo menos um irmão mais velho, mesmo em relação aos seus companheiros de geração. Mas foi até ao fim um aliado dos jovens, fascinado com a teatralidade com que os jovens fazem dos factos consumados pretensas estratégias intencionais.
Nos meus Rohmers favoritos, e Rohmer é o meu cineasta favorito, há sempre epifanias fugazes e contraditórias, agridoces: Haydée intempestivamente abandonada no meio de uma estrada, o joelho de Claire quase como se não fosse erótico, o católico que descobre a loura Françoise na missa, Gaspard fingindo que não tem saída com as mulheres, François que descobre o namorado da sua quase namorada, Marion chocada ao perceber que ser adulto é viver com a mentira. Estas personagens não crescem: evoluem. Não aprendem: sujeitam-se. E mesmo se acham que seduzem, talvez seja apenas como em Kierkegaard: "Ele não seduz, deseja, e esse desejo tem um efeito sedutor."
Também isso ensinou Eric Rohmer, nosso aliado.
Pedro Mexia
Os jovens indecisos e os adultos imaturos de Rohmer são intrigantes, estão intrigados, intrigam. A intriga, em Rohmer, é um pretexto, porque cada narrativa é apenas uma versão da história. As personagens vivem iludidas, mas não é grave, porque o cinema é também uma ilusão e, de algum modo, a vida também é, ou pelo menos o modo como conduzimos as nossas vidas. Eric Rohmer sempre pareceu uma figura paterna, ou pelo menos um irmão mais velho, mesmo em relação aos seus companheiros de geração. Mas foi até ao fim um aliado dos jovens, fascinado com a teatralidade com que os jovens fazem dos factos consumados pretensas estratégias intencionais.
Nos meus Rohmers favoritos, e Rohmer é o meu cineasta favorito, há sempre epifanias fugazes e contraditórias, agridoces: Haydée intempestivamente abandonada no meio de uma estrada, o joelho de Claire quase como se não fosse erótico, o católico que descobre a loura Françoise na missa, Gaspard fingindo que não tem saída com as mulheres, François que descobre o namorado da sua quase namorada, Marion chocada ao perceber que ser adulto é viver com a mentira. Estas personagens não crescem: evoluem. Não aprendem: sujeitam-se. E mesmo se acham que seduzem, talvez seja apenas como em Kierkegaard: "Ele não seduz, deseja, e esse desejo tem um efeito sedutor."
Também isso ensinou Eric Rohmer, nosso aliado.
Pedro Mexia
sexta-feira, 2 de junho de 2017
quarta-feira, 31 de maio de 2017
quarta-feira, 17 de maio de 2017
terça-feira, 16 de maio de 2017
"Refazer por dentro aquilo que os arqueólogos do séc XIX fizeram por fora."
"Em todo caso, eu era demasiado jovem. Existem livros que não devemos ousar escrever antes de termos ultrapassado os quarenta anos. Antes dessa idade, corremos o risco de desconhecer a existência das grandes fronteiras naturais que separam, de pessoa para pessoa, de século para século, a infinita variedade de seres, ou, pelo contrário, de dar exagerada importância às simples divisões administrativas, às formalidades da alfândega, ou às guaritas do corpo de guarda. Foram-me precisos todos esses anos para aprender a calcular exatamente as distâncias entre o imperador e eu."
Anotações de Marguerite Yourcenar sobre o magnífico "Memórias de Adriano"
"Em todo caso, eu era demasiado jovem. Existem livros que não devemos ousar escrever antes de termos ultrapassado os quarenta anos. Antes dessa idade, corremos o risco de desconhecer a existência das grandes fronteiras naturais que separam, de pessoa para pessoa, de século para século, a infinita variedade de seres, ou, pelo contrário, de dar exagerada importância às simples divisões administrativas, às formalidades da alfândega, ou às guaritas do corpo de guarda. Foram-me precisos todos esses anos para aprender a calcular exatamente as distâncias entre o imperador e eu."
Anotações de Marguerite Yourcenar sobre o magnífico "Memórias de Adriano"
domingo, 14 de maio de 2017
quinta-feira, 11 de maio de 2017
terça-feira, 9 de maio de 2017
sábado, 29 de abril de 2017
segunda-feira, 17 de abril de 2017
sou um homem comum
qualquer um
enganando entre a dor e o prazer
hei de viver e morrer
como um homem comum
mas o meu coração de poeta
projeta-me em tal solidão
que às vezes assisto
a guerras e festas imensas
sei voar e tenho as fibras tensas
e sou um
ninguém é comum
e eu sou ninguém
no meio de tanta gente
de repente vem
mesmo eu no meu automóvel
no trânsito vem
quarta-feira, 5 de abril de 2017
segunda-feira, 3 de abril de 2017
o poema de matilde campilho me faz lembrar de ti
lamento muito sermos tão desencontradosdomingo, 2 de abril de 2017
(T.J Clark em "O Grotesco David com a bochecha inchada: Um ensaio sobre o auto-retrato." No livro Modernismos)
sábado, 1 de abril de 2017
quarta-feira, 29 de março de 2017
domingo, 19 de março de 2017
Há alguma coisa nessa mulher retratada por Manet que eu gostaria de ser e existe alguma coisa no mundo ao redor dela que eu gostaria que fosse meu mundo. Mas é algo em volta que só existe pelo modo que ela se comporta, pelo que ela manifesta e é. Essa mulher está bem. Nos desafia. A certa altura comeu vivo o pintor e ela é mais que uma existência plástica, é uma proposta de existir.
sábado, 18 de março de 2017
quinta-feira, 16 de março de 2017
segunda-feira, 13 de março de 2017
Uma cena nos últimos dias de aula na Lumiar ano passado tem me acompanhado. Estávamos todos nos despedindo, escrevendo mensagens em camisetas, cartas de baralho e no meio da confusão virei para André e perguntei se ele iria sentir falta daquilo. Ele me encarou sério e disse: "Vou." Era seu último ano e por muito tempo a ideia de sair da escola parecia um alívio mas algo foi se transformando e alguma coisa o foi enternecendo e resultou naquele "Vou." Senti saudade e fiquei feliz de saber que ele tem aparecido.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
Toni Erdmann é um sonho. Sonho antigo e ao mesmo tempo cotidiano meu. Às vezes assisto tv esperando que a apresentadora do jornal faça algo diferente. Me acontecia na escola sobre os professores, em uma assembléia, ou em qualquer ambiente mais formal. Frequentemente espero dos outros e de mim pequenas rebeldias transformadoras de uma ordem bastante pessoal que persiste. Esse filme realiza esse sonho. Muda tudo.
sábado, 4 de fevereiro de 2017
severino quer dizer austero.
por precaução,
ele segue o que sugere seu nome.
é de um rigor visível
que tem por trás
a imensa fragilidade
e doçura.
o frágil e o doce são o interior
e a dureza superfície.
o ensinamento que dele sempre brota
conforme ele aprendeu e acredita
é amor manifesto
(para o meu pai que amanhã completa 67 anos)
por precaução,
ele segue o que sugere seu nome.
é de um rigor visível
que tem por trás
a imensa fragilidade
e doçura.
o frágil e o doce são o interior
e a dureza superfície.
o ensinamento que dele sempre brota
conforme ele aprendeu e acredita
é amor manifesto
(para o meu pai que amanhã completa 67 anos)
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.
Ítalo Calvino - As cidades invisíveis
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
domingo, 29 de janeiro de 2017
Certamente dos aspectos que mais admiro nos escritos de Eisenstein é a
relação entre montagem e atuação. Mais especificamente a busca da
montagem no trabalho do ator, no rosto, no gesto exagerado ou mínimo,
nessas outras possibilidades maravilhosas em que a orientação do olhar
pode acontecer. Penso nas atrizes e atores incríveis do meu filme
preferido dele, Ivan. Mas claro que também penso na dona da minha
cabeça, Sabine Azèma, e em todos os instantes em que ela guiou meu olhar
pra onde queria a partir de aparentemente tão pouco. Penso no momento
de Ervas Daninhas em que o personagem de André Dussolier lhe pergunta
"Então você já me ama?" e ela só olha com um quase sorriso e nega mas
não nega sem dizer nada.
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