@ tainah negreiros
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Ainda a caminho minha prima disse que a serra é sua mãe.
Achei bonita a metáfora. Enquanto ela dizia do carinho, logo a frente já haviam alguns dos paredões que abrigavam como braços bichos, gente e plantas há milhões de anos.
Além do que carro e pegada deixa, passarinhos, caititus, borboletas amarelas e um veadinho apressado guiaram a caminhada. E tantos mais que só vimos o rastro ou ouvimos o som.
A dança, o beijo, e o parto de que as pinturam disseram são de fazer chorar tamanha fragilidade que consegue ser eterna.
As pegadas dos pequenos também.
E sei que a mãe que pariu é tão linda quanto.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
O Fotógrafo
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada minha aldeia estava morta
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa. Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O Silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Pilhei uma paisagem velha a desabar sobre uma paisagem.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia
De braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a nuvem de calça e o poeta.
Nenhum outro poeta no mundo faria uma roupa mais
Justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.
(Manoel de Barros)
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada minha aldeia estava morta
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa. Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O Silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Pilhei uma paisagem velha a desabar sobre uma paisagem.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia
De braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a nuvem de calça e o poeta.
Nenhum outro poeta no mundo faria uma roupa mais
Justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.
(Manoel de Barros)
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
ao meu pai
é que sou muito interessada em casas
e eu sei do guardar dessa
dos arredores que conseguem ser tão silenciosos às vezes
só quebrado por grilo poderoso
cão faminto
e o gato
e o choro da criança da casa da frente
é casa eternizada
eternizada por pássaros
por meus pais
por nós
mas há também uma secura da fumaça do mato queimado por perto
por alguém
algum homem
que não entendeu nada desse rio
sábado, 15 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
amor e guavira
De tempos em tempos algumas imagens parecem comover mais. Esses dias ouvindo tetê, lendo manoel é como sentir saudade da chapada e do pantanal que ainda não conheci, e é poderosa essa saudade do que ainda não se viveu. É ser alcançado.
É como uma revelação, como o rio que passa ao pé da rã, e o sabiá pousado enorme na codilheira dos andes. Lição linda de manoel que nessa tarde quente à beira do rio tetê canta e arthur traz com seu "passagem".
espero sua chegada, pro nosso amor que é também da rua virar nosso amor de mato, de rio...
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
a sensação mais urgente que estas tardes quentes da cidade parecem trazer é uma certa angústia e uma certa solidão sobre não conseguir falar do tamanho disso. Dizer que esteve quente não é suficiente. Não sei mesmo se é possível levar alguém que não sentiu perto do que esse calor significa. Hoje entontei, pensei que o calor na verdade me empurrava para longe e mais uma vez quis ir. Preciso da serenidade que esse calor não deixa chegar, não deixa, não deixa. Talvez seja mais químico do que eu possa imaginar, talvez seja só a loucura de viver aqui mesmo.
Eu vinha pela janela do ônibus reparando na forma como as pessoas vinham à sua maneira vivendo, sobrevivendo sob o sol. Quando Caetano cantou é como se soubesse desse sol, precisa ter olhos firmes.
Eu vinha pela janela do ônibus reparando na forma como as pessoas vinham à sua maneira vivendo, sobrevivendo sob o sol. Quando Caetano cantou é como se soubesse desse sol, precisa ter olhos firmes.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
domingo, 12 de outubro de 2008
Vi um filme hoje que era pra ser sobre Bob dylan, e de alguma forma é. Mas o que me tocou foi o fato do filme ser sobre acordar um e ser belamente possível ser outro ao anoitecer. As past, present and future all in the same room.
Tantas essas vezes em que quando dizem algo sobre nós e não há uma sineta que nos toque dentro, que realmente alcance. O filme de Todd Haynes é uma compreensão disso, um menino com os olhos cheios de sol, um astro, um andarilho, um assanhado em corpo de mulher e com olhos de fumaça. É sobre como por vezes as pessoas não fazem idéia do que você viveu e de como o que você viveu e vive te muda sempre. Se há uma forma de biografia, se há uma forma de mostrar como podemos ser multifacetados, flexíveis, mutantes e estáticos às vezes, essa me pareceu a mais justa. Acho que porque permite deixar faltar, não mostrar, dizer que não é tudo e que aquilo que se mostra em si não responde somente. Não responde. É só uma compreensão.
É como quando Caetano canta 'you don't know me', é dessa incompreensão do traduzir, do interpretar que encerra e é tão injusto. Tão injusto encerrar, engessar alguém. Enquanto tentar compreender com o pouco que se tem, tentar compreender, sentir com o pouco que se tem a oferecer é comovente, é lindo.
Tantas essas vezes em que quando dizem algo sobre nós e não há uma sineta que nos toque dentro, que realmente alcance. O filme de Todd Haynes é uma compreensão disso, um menino com os olhos cheios de sol, um astro, um andarilho, um assanhado em corpo de mulher e com olhos de fumaça. É sobre como por vezes as pessoas não fazem idéia do que você viveu e de como o que você viveu e vive te muda sempre. Se há uma forma de biografia, se há uma forma de mostrar como podemos ser multifacetados, flexíveis, mutantes e estáticos às vezes, essa me pareceu a mais justa. Acho que porque permite deixar faltar, não mostrar, dizer que não é tudo e que aquilo que se mostra em si não responde somente. Não responde. É só uma compreensão.
É como quando Caetano canta 'you don't know me', é dessa incompreensão do traduzir, do interpretar que encerra e é tão injusto. Tão injusto encerrar, engessar alguém. Enquanto tentar compreender com o pouco que se tem, tentar compreender, sentir com o pouco que se tem a oferecer é comovente, é lindo.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
terça-feira, 7 de outubro de 2008
domingo, 5 de outubro de 2008
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Hoje fui ver uma peça na praça chamada Moliére Imaginário, nem quero falar da peça, algo mambembe, divertido e colorido como é tão bonito de ver da rua, coloriu a praça toda, tão bonito. E teve uma coisa que moça que toca disse no final, sobre a arte que salva da morte, disso também queria falar, mas nem vou. Mas queria era guardar o que é frágil demais pra se perder, e que às vezes se perde rápido, o que muda com o tempo quando a gente começa a lembrar. Queria salvar a alegria que senti e o sorriso que dei quando começou a tocar a linda canção final e tudo já tinha acontecido.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
domingo, 24 de agosto de 2008
sábado, 9 de agosto de 2008
segunda-feira, 21 de julho de 2008
"A primeira imagem de que ele me falou foi a de três crianças em uma estrada na Islândia, em 1965. Ele disse que para ele era a imagem da felicidade. Ele tentara várias vezes associá-la a outras imagens mas não conseguira. Ele me escreveu: 'Preciso colocá-la sozinha no início de um filme, com uma tarja preta. Se não virem a felicidade na imagem, ao menos verão o preto.' "
A primeira imagem de que ele me falou foi a de três crianças em uma estrada na Islândia
imagem que também é dele
agora nossa
depois entre albúns em que eu tentava compreender sua história
refazendo seus passos ainda pequeno
quase como uma tentativa boba
de entender nosso encontro
anos depois
é uma forma de esperança
eu sei
como se naquelas pequenas linhas de todo dia
a gente também se encontrasse
dessas coisas miúdas todas que fazem da vida
encontro
e há essa imagem que salva como a de Marker
agora minha
também nossa
uma imagem de felicidade
verde
sábado, 7 de junho de 2008
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Esses dias descubro o quanto é encantador escrever pra alcançar os pequenos, essa tentativa encantadora de escrever algo bonito da forma mais simples. Já tinha percebido isso com Clarice, com Manoel... conheci esses dias Roseana Murray, uma mulher cheia de encantos com as palavras e de bonitos nomes pra livros, bonitos nomes pra livros bonitos. Hoje depois do almoço fiquei lendo alguns com Arthur e colorindo a tarde. É das coisas que mais gosto de fazer.
Felicidade
Pinto as unhas de azul,
as mãos, a voz
o coração
e na mala aberta arrumo ventos,
pensamentos, e o mapa azul da felicidade
feito com as pequenas linhas de todo dia:
parto montada na aurora
como num cavalo respingado de luz.
r. m
Felicidade
Pinto as unhas de azul,
as mãos, a voz
o coração
e na mala aberta arrumo ventos,
pensamentos, e o mapa azul da felicidade
feito com as pequenas linhas de todo dia:
parto montada na aurora
como num cavalo respingado de luz.
r. m
segunda-feira, 26 de maio de 2008
segunda-feira, 12 de maio de 2008
terça-feira, 6 de maio de 2008
domingo, 20 de abril de 2008
"Mais alguns segundos e a negra vai cantar. Isso parece inevitável, tão forte é a necessidade dessa música: nada pode interrompê-la, nada que venha desse tempo no qual o mundo despencou; ela cessará por si mesma no momento exato. Se amo essa bela voz é sobretudo por isso: não é nem por seu volume, nem por sua tristeza; é porque ela é o acontecimento que tantas notas prepararam, de tão longe, morrendo para que ela possa nascer”
Sartre ainda sem saber
que falava da Nico
da Nina
sobre quando cantar
é acontecer
é acontecer no peito da gente
terça-feira, 8 de abril de 2008
às vezes me sinto como da primeira vez
quando me perguntava
como passei tanto tempo sem conversar com alguém como você?
o que eu conversava antes de você?
como me mexia?
você que me ouve mesmo a distância
desse sentir demais do último mês
um sentir demais, demais
pra quem eu diria o quanto acho minha avó linda
e minha mãe linda por parecer com minha vó
e ser toda outra
como eu saberia que sonharia ser tão boa companheira
ser tão boa mãe
como elas
senão contigo
não, não sei bem como era pensar o futuro sem você
agora que sonho a vida
contigo
quando me perguntava
como passei tanto tempo sem conversar com alguém como você?
o que eu conversava antes de você?
como me mexia?
você que me ouve mesmo a distância
desse sentir demais do último mês
um sentir demais, demais
pra quem eu diria o quanto acho minha avó linda
e minha mãe linda por parecer com minha vó
e ser toda outra
como eu saberia que sonharia ser tão boa companheira
ser tão boa mãe
como elas
senão contigo
não, não sei bem como era pensar o futuro sem você
agora que sonho a vida
contigo
sexta-feira, 4 de abril de 2008
quarta-feira, 2 de abril de 2008
domingo, 30 de março de 2008
domingo, 23 de março de 2008
sábado, 22 de março de 2008
sexta-feira, 21 de março de 2008
quarta-feira, 19 de março de 2008
terça-feira, 18 de março de 2008
segunda-feira, 17 de março de 2008
então conhecer é ser invadido?
é que às vezes é como se eu fosse parir
e os passos, o toque, o olhar
isso que diz sobre zelo, cuidado
sobre delicadeza
como arrumar as frutas na fruteira
e olhar da janela
o mundo que se mostra como algo a ser preparado
como terra, como chão que recebe
como os passos de um pequeno na calçada
é que às vezes é como se eu fosse parir
e os passos, o toque, o olhar
isso que diz sobre zelo, cuidado
sobre delicadeza
como arrumar as frutas na fruteira
e olhar da janela
o mundo que se mostra como algo a ser preparado
como terra, como chão que recebe
como os passos de um pequeno na calçada
sexta-feira, 7 de março de 2008
quinta-feira, 6 de março de 2008
e eu tenho que falar de novo de manoel
devo parece repetitiva
mas é que eu estou com as duas mãos no rosto
me perguntando o que fazer com tanto encontro
é muito encontro, meu deus
àrvores, vagalumes, pássaros, rios, homens
e meninos
e meninos
posso fazer disso um delírio
e posso
e vale!
os encontros me renovam
me recomeçam
todo dia é de poder ser árvore, limo, pássaro, pedra
todo dia é de ser grão de areia
passarinho
esse deve ser o melhor ser
ser grilo quebrando silêncio da noite
devo parece repetitiva
mas é que eu estou com as duas mãos no rosto
me perguntando o que fazer com tanto encontro
é muito encontro, meu deus
àrvores, vagalumes, pássaros, rios, homens
e meninos
e meninos
posso fazer disso um delírio
e posso
e vale!
os encontros me renovam
me recomeçam
todo dia é de poder ser árvore, limo, pássaro, pedra
todo dia é de ser grão de areia
passarinho
esse deve ser o melhor ser
ser grilo quebrando silêncio da noite
quarta-feira, 5 de março de 2008
segunda-feira, 3 de março de 2008
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
às vezes tenho medo da melancolia que a distância dos passarinhos pode me trazer
vivo os passarinhos como nunca
e penso num plano
eu e ele numa casa que por perto hajam os pequenos
pra gente ampliar todo dia
é que às vezes a vida empurra pra apequenar
mas os passarinhos
nos ampliam e ampliam
me ensinaram isso de crescer pro que é pequeno em tamanho
como eu gostei disso
tanto tanto
é um romantismo que sempre tive e manoel me lembra
amar tanto arthur me traz
essa beleza de divinar a vida
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Que a importância de uma coisa há de ser medida
pelo encantamento que a coisa produza em nós
Que a boneca de trapos que abre e fecha os olhinhos azuis nas mãos de uma criança
é mais importante pra ela que a Codilheira dos Andes
O olhar segura a palavra na gente
Se admirava de como um grilo sozinho
um só pequeno grilo
podia desmontar o silêncio de uma noite
esse Manoel de Barros...
pelo encantamento que a coisa produza em nós
Que a boneca de trapos que abre e fecha os olhinhos azuis nas mãos de uma criança
é mais importante pra ela que a Codilheira dos Andes
O olhar segura a palavra na gente
Se admirava de como um grilo sozinho
um só pequeno grilo
podia desmontar o silêncio de uma noite
esse Manoel de Barros...
sábado, 16 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Não sou muito boa nisso de ir dormir. É que às vezes a cabeça não descansa e eu penso sobre tudo, ou eu fico com medo de um sonho ruim. Noites assustadas que eu amplio pra ser criança. Mas hoje acho que sei o que fazer até que os olhos fiquem pesados, vou pensar nos poemas que li hoje, tantos, tão encantadores. Pensarei então em manoel, gullar, drummond, quintana, uns pelo primeiro e outros pelo segundo nome como companhia, à sua maneira de serem íntimos meus.
E ele me disse algo bonito pra pensar em noites longas como essa. bonito como sonho bom, bonito que é de guardar segredo.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
domingo, 10 de fevereiro de 2008
A proteção pungente
Meu pai fez aniversário esse mês, e já há alguns dias fico muito emocionada de pensar nele, na sua idade, na sua vida, desejos, insatisfações e esperanças, muitas delas relacionadas a mim. Por vezes, muitas vezes eu sou sua crença e fé. Procurei no dia esse texto de Clarice que me fez chorar há um certo tempo por dizer tanto sobre mim em relação a ele. E dizer também sobre essa noites que eu demoro a dormir e velo mais do que nunca por quem amo.
"Ela não podia olhar para seu pai quando ele tinha uma alegria. Por que ele, o forte e o amargo, ficava nessas horas todo inocente. E tão desarmado. Oh Deus, ele esquecia que era mortal. E obrigava a ela, uma criança a arcar com o peso da responsabilidade de saber que os nossos prazeres mais ingênuos e mais animais também morrem. Nesses instantes em que ele esquecia que ia morrer, ele a tornava a Pietá, à mãe do homem."
"Ela não podia olhar para seu pai quando ele tinha uma alegria. Por que ele, o forte e o amargo, ficava nessas horas todo inocente. E tão desarmado. Oh Deus, ele esquecia que era mortal. E obrigava a ela, uma criança a arcar com o peso da responsabilidade de saber que os nossos prazeres mais ingênuos e mais animais também morrem. Nesses instantes em que ele esquecia que ia morrer, ele a tornava a Pietá, à mãe do homem."
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
água viva
sobre a espera de que os signos e alegorias deixem de sê-los somente
pra ser vida
um esforço também meu
um jeito de não se esgotar
um não morrer como desafio
No descomeço era o verbo
Só depois que veio o delírio do verbo
o delírio do verbo estava no começo, lá
onde criança diz: escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz do poeta, que é a voz
de fazer nascimentos -
o verbo tem que pegar o delírio.
Manoel de Barros
Só depois que veio o delírio do verbo
o delírio do verbo estava no começo, lá
onde criança diz: escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz do poeta, que é a voz
de fazer nascimentos -
o verbo tem que pegar o delírio.
Manoel de Barros
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
domingo, 27 de janeiro de 2008
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Entre cantigas de abraçar, estradar, ou daquelas feita para voar, dessas mesmo, cantigas de Elomar e seu elo não feito, recusado em troca da terra seca. E eu penso na terra e nos homens, mulheres e crianças sobre a terra, dentro da terra ou mais perto e empoeirados dela que outros. Amores retirantes, idas a feira, lamentos, celebrações e lampejos de luz de madrugada. As canções de Elomar são das coisas mais lindas que já ouvi na vida e até demorei pra dizer isso aqui.
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
"se ao menos fosse dor que ela sentisse e não esses sonhos sem sossego, esses intermináveis e exaustivos sonhos, ele poderia procurar algum alívio para ela. Assim pensava Pedro Páramo, a vista fixa em Susana, acompanhando cada um de seus movimentos. O que aconteceria se ela também apagasse quando apagasse a chama daquela débil luz com que ele a via?"
a mulher de outro mundo
o corpo que se contorce
e um não saber
não saber lidar mais com a alma
grito em resposta ao corpo
silêncio em resposta ao grito
chamado, pedido
prece
e o sono
que vem como compaixão
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Vivência
Essa moças de Schiele me lembram esses sonhos sujos que o título do blog se refere. Sonhos que são sujos na verdade nem por sê-los, é quase um jeito bobo de dizer o que achariam os outros se soubessem deles, se soubessem da sua falta de razão. A moça de Schiele me lembra a mulher que penso agora, a mulher nua pela casa numa procura, num zelo e numa naturalidade de nudez que vai desconcertá-lo. Ele que a ama com uma naturalidade de amor que a comove. A mulher ri atrás do rosto sério e do medo das incertezas. Ela ri longamente com ele, riem com toda a boca e olhos. Os móveis não estão no lugar e o peito deles às vezes é um, às vezes encostados, às vezes não. Ela o ama. A cama depois de arrumada, pronta pra se amarrotar na noite sem sono. Ela o ama. A luz da cozinha ficou ligada, eles estão cheios de pensamentos. Ele a ama. E eles notam que sim, eles sabem da vida.
sábado, 5 de janeiro de 2008
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Assinar:
Postagens (Atom)