domingo, 13 de dezembro de 2009
sábado, 12 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
domingo, 22 de novembro de 2009
domingo, 1 de novembro de 2009
Não fique triste...
Saudade existe pra quem sabe ter,
Minha vida cigana me afastou de você,
Por algum tempo eu vou ter que viver por aqui,
longe de você,
Longe do seu carinho...
E do seu olhar, que me acompanha tem muito tempo
Penso em você a cada momento
Sou água de rio que vai para o mar
Sou nuvem nova que vem pra molhar essa noiva que é você
Para mim você é linda
A dona do meu coração
Que bate tanto quando te vê
É a verdade que me faz viver
O meu coração bate tanto quando te vê
É a verdade que me faz viver
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
livros importantes
e deu uma briga lá em casa
"como assim, pai? eu sou historiadora
e você dá os livros de filosofia?"
Fiquei zangada
mas eu sabia e baixava o tom
pensava nele
nesse senso de partilha que ele tem
de quem queria ter mais pra poder dar- ele já me disse
pensei na eternidade disso
como as palavras do livros que ele deu
que seguirão andando sozinhas
na cabeça de quem encontrar com elas
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
domingo, 4 de outubro de 2009
nesta segunda-feira
eu te telefono, Carlos
pedindo conselho
Não é lá fora o dia
que me deixa assim,
cinemas, avenidas,
E outros afazeres.
É a dor das coisas,
o luto desta mesa;
é o regimento proibindo
assovios, versos e flores.
Eu nunca suspeitara
tanta roupa preta;
tão pouco essas palavras -
funcionárias sem amor
Carlos, há uma máquina
que nunca escreve cartas;
há uma garrafa de tinta
que nunca bebeu álcool.
E os arquivos, Carlos,
as caixas de papéis:
túmulos para todos
os tamanhos de meu corpo.
Não me sinto correto
de gravata de cor,
e na cabeça uma moça
em forma de lembrança
Não encontro a palavra
que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...
Carlos, dessa náusea
como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
pedindo conselho
(de joão cabral pra drummond)
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
a outra banda da terra
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
domingo, 13 de setembro de 2009
No início de "Two Lovers" a personagem de Vinessa Shaw, Sandra, diz que quis conhecer Leonard após ir à lavanderia que ele trabalha e ter visto ele chamando a mãe para dançar. E ele lhe diz:"Isso é muito eu mesmo". Leonard dança com Michelle em uma boate, tenta lhe beijar o pescoço e depois, decepcionado, arranca um resto de papel colado na parede de um poste enquanto a espera. Ali, talvez ainda não saibamos, mas o filme vai tratar de construir e dizer, aquilo é "muito Leonard", e em gestos como esse é que está a força do filme de James Gray.
Não sei bem sobre o que é o filme, mas sei o que lhe interessa mas suspeito que o filme se volta para as expectativas. Expectativas que alimentam e também podem ser tão destrutivas. O filme trata desses tempos de espera tantas vezes vividos em que rezamos para que alguém chegue porque o não chegar quer dizer desmoronar, quer dizer em um instante perder tudo. "Tudo", nesse filme, parece ser Michelle, ou a vibração e energia que ela parece carregar consigo, energia entregue às drogas e ao relacionamento autodestrutivo. Isso tudo em constraste com a beleza tranquila de Sandra que "invade" a casa de Leonard e lhe diz do seu desejo assim simplesmente.
Gosto de pensar nos personagens um tanto longe do contexto familiar e de pressão de que o filme também fala, como na cena em que Leonard ameça ir embora e a mãe lhe olha e lhe diz que, para além de tudo que ele esteja envolvido, quer que ele seja feliz - para além da possível chantagem das relações de poder e interesse que podiam tomar lugar do filme naquele momento. Mas a questão é de querer ser feliz mesmo,do que essa expectativa e desejo envolvem e dos lugares onde a felicidade se acha.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Eu ia pro Rio hoje.
Voltei a ouvir Nick Drake, acho que por causa da chuva.
Conversei longamente com Mariana sobre Caetano e sobre o que ele nos diz.
Rimos tanto.
Arthur me mostrou uma carta escrita por um crítico filipino para sua namorada jornalista eslovena
os dois foram mortos por assaltantes em sua casa em Quezon City
a carta falava sobre filmes, cidades, sobre as filipinas e sobre a eslovênia.
Ontem encontrei uma amiga de Minas, a Rebecca.
Falei com meus pais pelo skype, a voz deles tinha tanta saudade quanto as palavras.
Disse pra Arthur de uma perplexidade que me tomou
de pensar em não ter conhecido essas pessoas de longe que conheci por aqui, pelo computador
Pensei isso logo que Rebecca se despediu
O que eu já pensei tantas vezes assustada "E se por um triz não tivesse encontrado Arthur?"
Que susto!
Eu e Arthur saímos andando pela rua, nos demos conta dos meses que estamos juntos
E hoje eu disse pra Mari do que pensei
É assim
Eu também quero ir pra rua
mas não para de chover em Curitiba.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
terça-feira, 1 de setembro de 2009
sábado, 29 de agosto de 2009
A casa está lá, com as paredes impregnadas do amor que sentimos e que vivemos lá, envolta de uma fumaça de incompreensão. Foi lá que os jamins floresceram e cheiraram forte. Foi lá que os gatos chegaram e de lá partiram, lá que meu pai plantou um pé de acerola na janela, depois cresceu um de laranja, enroscado no de acerola. Foi lá que eu cresci, em tudo que a palavra crescer abarca.
é do lado daquela casa que passa um rio
e o meu mal é o de não esquecer
de ter boca que carece de raiz
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
boca: pequena abertura para o deserto.
trapos:substantivo masculino
pessoa que tendo passado muito trabalho e fome
perambula com olhar de água suja no meio das ruínas
quem as aves preferem para fazerem seus ninhos
diz-se também - de quando um homem caminha para o nada
pedra: substantivo feminino
pequeno sítio árido em que o lagarto de pernas areientas medra
indivíduo que tem nas ruínas posperantes de sua boca aridez de raiz
lugar de uma pessoa haver musgo
palavra que certos poetas usam para dar concretude a solidão
olho: é uma coisa que participa do silêncio dos outros.
(manoel de barros)
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
quinta-feira, 30 de julho de 2009
terça-feira, 28 de julho de 2009
“Minhas razões para ser vegetariano são muito simples:
Os animais têm capacidade de sofrer.
Quando são criados para nos fornecer carne, eles sofrem de muitas e desnecessárias maneiras.
Nós não precisamos comer carne. Qualquer que tenha sido a situação no passado, nos primórdios da evolução humana, hoje as pessoas de classe média dos países desenvolvidos têm uma gama enorme de alimentos nutritivos a sua disposição. Uma dieta vegetariana não impede o acesso a proteínas e outros nutrientes essenciais. Comemos carne porque apreciamos o sabor, não porque ela seja necessária a nossa saúde.
O desejo de saborear a carne dos animais não justifica faze-los sofrer.
Portanto, não deveríamos comer animais que sofrem só para isso – para nos fornecer sua carne.
O sofrimento a que me refiro não ocorre apenas nos matadouros. Muitas pessoas ainda sabem como funcionam as modernas fazendas industriais. Nelas, a mecanização e os métodos de negócios corporativos são aplicados de acordo com o princípio de que os animais são objetos a ser consumidos. Para baratearem o custo, os produtores confinam e amontoam os animais de maneira tal que os condenam a passar a vida inteira em condições horríveis.
Tudo isso ocorre por um equívoco ético fundamental. Os racistas pensavam que um ser humano que não pertencesse a sua raça se situava fora da esfera da ética. Podia, portanto, ser capturado e vendido como escravo. Não acreditamos mais que as fronteiras raciais demarquem os limites para além dos quais os seres humanos se transformem em objetos para nosso uso. Mas ainda achamos que seres que estão fora da fronteira de nossa espécie não passam de coisas úteis. Não há base moral para essa crença. A escravidão animal deveria ser enterrada, juntamente com a escravidão humana, no cemitério do passado.”
Peter Singer
Filósofo australiano, professor de bioética
da Universidade Princeton. Seu livro Libertação animal
é um libelo do movimento de proteção aos animais
sexta-feira, 24 de julho de 2009
segunda-feira, 20 de julho de 2009
sexta-feira, 17 de julho de 2009
E quando digo lamento é pelo desejo incontrolável da negra Catirina que quer dizer o sacrifício, ali, quando o cantador diz do boi que olha.
que é pro amo ver
que boi também chora,
também sente dor
sábado, 11 de julho de 2009
Se tivessem conhecido o idioma da cidade, poderiam ter perguntado quem fez o homem branco, de onde saiu a força dos automóveis, quem segura os aviões lá no céu, porque os deuses nos negaram o aço.
Mas não conheciam o idioma da cidade. Falavam a velha língua dos antepassados, que não tinham sido pastores nem vivido nas alturas da serra nevada de Santa Marta. Porque antes dos quatro séculos de perseguição e expoliação, os avós dos avós dos avós tinham trabalhado as terras férteis que os netos dos netos dos netos não puderam conhecer nem de vista nem de ouvir falar.
De modo que agora eles não podiam fazer outro comentário que aquele que nascia, em chispas bem humoradas, dos olhos: olhavam essas mãos pequeninas dos homens brancos, mãos de lagartixa, e pensavam: só podem dar presentes feitos pelos outros.
Estavam parados numa esquina da capital, o chefe e três de seus homens, sem medo. Não os sobressaltava a vertigem do trânsito das máquinas e das pessoas, nem temiam que os edifícios gigantes pudessem cair das nuvens e despencar em cima deles. Acariciavam com a ponta dos dedos seus colares de várias voltas de dentes e sementes, e não se deixavam impressionar pelo barulho das avenidas. Seus corações sentiam pena dos milhões de cidadãos que passavam por cima e por baixo, de costas e de frente e de lado, sobre pernas e sobre rodas, a todo vapor: "Que seria de todos vocês" - perguntavam lentamente seus corações - "se nós não fizéssemos o sol sair todos os dias?"
(eduardo galeano)
quarta-feira, 8 de julho de 2009
segunda-feira, 6 de julho de 2009
sábado, 4 de julho de 2009
mas lamento por esses dias
meu quarto que não é mais tão fotogênico
nem eu
não encontro lugar
meu sono que não é mais meu
parece pregado nas paredes
parece ficar lá enquanto durmo
e aquilo não é sono
aprenderei a dormir
aprenderei a lembrar dos cães
vou lembrar
não, eles não viviam aqui
mas de alguma forma
melhoravam essa casa
sexta-feira, 3 de julho de 2009
sábado, 27 de junho de 2009
sexta-feira, 26 de junho de 2009
quinta-feira, 25 de junho de 2009
segunda-feira, 22 de junho de 2009
coisas dessa casa
verde
como a laranjeira
eu e meu pai ríamos na gostosura de uma manhã daqui
do que parece milagre
o bicho ser verde como a laranjeira
e poder mudar de cor depois
meu pai me contou também que um passarinho está recomeçando um ninho
nas plantas da frente
em algum lugar devem chamar isso de metafísica
outros podem chamar de deus
foi deus quem fez
quem sabe
mas pra gente
em uma manhã
às vésperas de uma mudança
são só coisas dessa casa
que a gente já sente falta
terça-feira, 2 de junho de 2009
canto do povo de um lugar
sábado, 30 de maio de 2009
sexta-feira, 29 de maio de 2009
segunda-feira, 25 de maio de 2009
a infância reencontrada
Os nomes dos discos de Dércio Marque são belíssimos, e percebi que dá pra escrever algo começando pela beleza dos nomes deles. Seja "Canto Forte, Coro da Primavera" às "Cantigas de Abraçar" que abraçam e abraçam. Há um canção chamada "Cantiga de Embalar" que meus pais ouviam comigo quando criança, e uma que chama "Era uma vez" que conta as histórias todas ao contrário que ainda pequena me fez entender muita coisa. Ouvi esse disco hoje e lembrei dos tempos que meus pais colocavam pra ouvir numa vitrola e eu revirava seu encarte verde, era ali que eu começava a entender essas coisas de mato, quando a minha boca começava a carecer de raiz e de rio. Podem me acusar de saudosista, mas é que eu gostava mesmo de ser criança, meus pais cuidaram bem disso.
E enquanto ouvia pensava em crianças, nas crianças que quero bem, em uma criança que gostaria de levar essa alegria, e pensei em um pequeno que quero bem mesmo à distância e que sei que o abraço da canção alcança. O Tito.
sábado, 23 de maio de 2009
Não teve praia, mas o fim de tarde era desses que Caetano diz e traz.
Ecstasy, bala, balada
E me chama depois
Pra dar uma e dar dois
Ela é que causa
Éque explana
E que acende os faróis
Mas o meu samba
Transcende
E apaga as pegadas
Que ela quer deixar
Falso Leblon
Big Brother
Tou fora do ar
Ai, amor
Chuva
Num canto de praia
No fim da manhã
E depois de amanhã?
O que faremos do Rio
Quando, enriquecendo
Passarmos a dar
As cartas
As coordenadas
De um mundo melhor
Quanta tristeza guardada
Na cara da moça bonita
Que dói
Francisco Alves
Seu Jorge, os Hermanos
Já foi
Ai, amor
Chuva
Num canto de praia
No fim da manhã
E depois de amanhã?
Drogas, tou fora
Tá foda
Agora vambora
Nem vinho tomei
Me sinto muito sozinho
E ela é a lei
Odeio a vã cocaína
Mas amo a menina
E olho pro céu
Ela se engancha por cima
De mim: quem sou eu?
quinta-feira, 21 de maio de 2009
sem sol
quarta-feira, 6 de maio de 2009
A lição mais bonita
sábado, 25 de abril de 2009
sobre entender uma presença
Gullar estava ontem na tv
e enquanto acompanhava o que dizia
tentava entender sua presença
que quer dizer algo doce como sabedoria antiga
de quem viveu pra contar
mesmo quando a presença é em um programa como o que ele estava
mesmo quando fala de algo tão chato
como a reforma da língua portuguesa
e eu ficava olhando
e só conseguia pensar em josé, josé
josé de ribamar
e os outros tantos ribas no maranhão
acho que hoje sei o que me faz chorar
quando vejo josé na tv, quando vejo josé em seu poema
é que não esqueço o que ele disse
quando lhe perguntaram uma vez
quem era esse tal de Ferreira Gullar
Sou só um menino empinando pipa nas ruas de São Luís do Maranhão
sexta-feira, 17 de abril de 2009
- Alguma vez - dizíamos- , quando as coisas mudarem.
- Vamos ter uma casa.
- Seria lindo.
Por algumas noites pudemos pensar atordoados, que era por isso que se lutava. Que para que isso fosse possível é que as pessoas se atiravam na luta.
Mas era uma trégua. Logo soubemos, ela e eu, que antes disso iríamos esquecer um ao outro ou morrer.
- Aqui ninguém encontrará você. Fica, até que as coisas mudem.
- As coisas mudam sozinhas?
- O que você vai fazer? A revolução?
- Eu sou uma formiguinha. As formiguinhas não fazem coisas tão grandes como a revolução ou a guerra. Levamos pedacinhos de folha ou mensagens. Ajudamos um pouco.
- Folhinhas, pode ser. Ficaram algumas plantas.
- E algumas pessoas.
- Sim. Os velhos, os milicos, os presos e os loucos.
- Não é bem assim.
- Você não quer que seja bem assim.
- Mas você quer me dizer como é que se acaba uma ditadura? Com flechinhas de papel?
- Com o quê, eu não sei.
- Daqui, se acaba com uma ditadura? Por controle remoto?
- A heróina solitária busca a morte. Não, não é machismo pequeno burguês. É feminismo.
- Sabe de uma coisa? Estamos todos desamparados.
- Sim.
- Todos. Desamparados.
- Sim. Mas eu gosto de você.
(Eduardo Galeano em A moça com a cicatriz no queixo )
(1974)
terça-feira, 14 de abril de 2009
Algumas coisas estão muito claras para mim quando começo um projeto. Neste filme, por exemplo, era óbvio para mim que eu queria dar uma outra imagem destes meninos. Eu estava convencido de que se você realmente ouve o que eles têm a dizer, eles são muito mais interessantes do que a maneira habitual com que a sociedade os observa. Essa era uma determinação de início para a construção do filme. A segunda era mostrar como a escola poderia de fato ajudar alguém a crescer. Que a escola como ela existe hoje não é algo descolado da sociedade, mas parte dela. Esses muros não a protegem da sociedade, as questões da sociedade lá fora atravessam o ambiente da escola. Esses dois pontos eu queria ilustrar com o filme. E, por outro lado, a história é sempre um ponto importante para mim, mesmo que às vezes ela seja mínima. Eu sempre tento lidar com essas questões fundamentais sem fornecer uma tese sobre elas. Quero mostrar a maneira como os personagens sofrem por algo, ou sentem esta coisa em suas vidas, o que é verdadeiro e diz respeito àqueles personagens, e não apenas “eu sei disso de antemão e direi isto através de você”. Eu não sei de nada, eles sabem.
Laurent Cantet, diretor de Entre os Muros da Escola
segunda-feira, 6 de abril de 2009
quarta-feira, 1 de abril de 2009
segunda-feira, 23 de março de 2009
domingo, 8 de março de 2009
quando noto, fico muito feliz
com o que aprendi com ela cuido do meu pai que é belo na sua fragilidade e na sua força.
com o que aprendi com ela cuido de Arthur.
acho lindo o jeito dela de querer ser feliz
acho lindo meu pai velando pra que ser feliz dê certo.
e quando Guimarães Rosa fala da vida, acredito
o que ela quer dar pra gente é coragem.
sábado, 21 de fevereiro de 2009
quando não fazemos idéia
Junto a Elefante o diretor constrói um poema sobre a atenção não dada, sobre a nossa incompreensão sobre um tempo, sobre meninos e meninas em um tempo, em algum lugar. Sobre como quando ele nos mostra seus meninos, quando simplesmente os filma com todo seu peso e sua confusão e aquilo é tão poderoso que é como se fosse a primeira vez, como se precisassem ser apresentados já que não fazemos idéia. Não fazemos idéia.
Como se eles não tivessem por aí em tantos shoppings, ruas, pistas de skate, numa escola aqui ou lá. Como se não estivessem em alguma escola com suas camisetas amarelas esperando por um beijo.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
A mulher que diz tchau
Levo comigo um maço vazio e amassado de Republicana e uma revista velha que ficou por aqui. Levo comigo as duas últimas passagens de trem. Levo comigo um guardanapo de papel com minha cara que você desenhou, da boca sai um balãozinho com palavras, as palavras dizem coisas engraçadas. Também levo comigo uma folha de acácia recolhida na rua, uma outra noite, quando caminhávamos separados pela multidão. E outra folha, petrificada, branca, com um furinho como uma janela, e a janela estava fechada pela água e eu soprei e vi você e esse foi o dia em que a sorte começou.
Levo comigo o gosto do vinho na boca. (Por todas as coisas boas, diziamos, todas as coisas cada vez melhores que nos vão acontecer.)
Não levo uma única gota de veneno. Levo os beijos de quando você partia (eu nunca estava dormindo, nunca). E um assombro por tudo isso que nenhuma carta, nenhuma explicação, podem dizer a ninguém o que foi.
domingo, 25 de janeiro de 2009
quando ele diz pela boca do outro
em copacabana:
“e a pólvora,
de que é feita?”
a pólvora, ora
de que é feita
a pólvora?
estes fogos
em seus olhos
eu queria engolir
essas faíscas
eu queria te dar
uma resposta aberta
em fogo no céu
eu queria dizer:
“você fez a pólvora
com um beijo.”
(Pedro Cesarino)
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
A fome/2
Um sistema de desvínculo: Boi sozinho se lambe melhor... O próximo, o outro, não é seu irmão, nem seu amante. O outro é competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada. O sistema, que não dá o de comer, tampouco dá de amar: condena muitos a fome de pão e muitos mais à fome de abraços.
Dizem as paredes/1
No setor infantil da Feira do Livro, em Bogotá: O Loucóptero é muito veloz, mais muito lento.
Na avenida costeira de Montevidéu, frente do rio-mar: Um homem alado prefere a noite.
Na saída de Santiago de Cuba: Como gasto paredes lembrando de você! E na altura de Valparaíso: eu nos amo.
A noite/2
- Arranque, senhora, as roupas e as dúvidas. Dispa- me, dispa-me.
A noite/3
Eu adormeço às margens de uma mulher, eu adormeço às margens de um abismo.
(eduardo galeano)